Recentemente, a UEFA
publicou o seu relatório técnico anual referente à edição 2014/2015 da Champions League. Baseando-se em
evidências factuais dos 125 jogos disputados, o grupo de observadores técnicos
da UEFA indicou algumas das tendências mais notórias nas equipas de
sucesso. O subtítulo «pressão, intensidade e risco» dá o mote.
Pressão defensiva. A
pressão defensiva em zonas avançadas do terreno de jogo é uma característica de
equipas bem-sucedidas na Champions.
Pressionar alto, restringindo linhas de passe e encurtando os espaços dos
adversários, para além de condicionar a construção de jogo da formação oponente,
permite recuperar a posse de bola em zonas passíveis de gerar, no imediato,
situações de finalização. É, portanto, um «dois em um».
Intensidade. De
acordo com os dados fornecidos, em 75 das 125 partidas, o tempo real de jogo
ultrapassou os 60 minutos. Por exemplo, no mundial do Brasil, em 2014, apenas 9
dos 64 jogos obtiveram registo semelhante. Segundo este relatório, «os
treinadores devem estar cientes de que os jogadores necessitam de estar física
e mentalmente aptos para lidar com intensidades elevadas durante períodos
longos de tempo» (p. 28). A intensidade, por si só, tem muito que se lhe diga. Atentemos
à Tabela 1.
Tabela 1.
Distâncias médias percorridas pelas equipas da UEFA Champions League, na época
2014/2015 (UEFA, 2015; p.f., clique para ampliar).
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Nove das equipas na
metade superior da tabela foram eliminadas na fase de grupos, enquanto 3 das 4
semifinalistas constam na metade inferior da tabela. Como já foi alvo de
análise num texto anterior deste blogue, a organização coletiva é muito mais relevante
que a intensidade (física) por si.
Risco e gestão do risco no processo ofensivo. Os observadores aludem à importância da subida dos
laterais nos respetivos corredores (largura e profundidade) para criar
desequilíbrios ofensivos no terço defensivo contrário. No entanto, a gestão do
risco é essencial e, por isso, os poucos jogadores utilizados para
(re)equilibrar defensivamente (3 ou 4) devem ser competentes na leitura do
jogo, na ocupação do espaço e eficazes nas suas ações, no intuito de evitar
transições ofensivas nefastas para a sua baliza.
A crescente preponderância das transições. 20.6% dos golos concretizados em situações de «bola
corrida» decorreram de transições rápidas. Este paradigma foi também evidente
na equipa vencedora: o FC Barcelona. O sucesso da equipa já não dependente
exclusivamente da sua habilidade para controlar a posse de bola e aproveitar as
desconcentrações do conjunto oponente; as saídas em transições rápidas para,
posteriormente, utilizar as valências ofensivas dos seus atacantes no 1v1, é
uma nova tendência (variável) a adicionar na equação do sucesso dos catalães.
O conceito de «flexibilidade tática». Atualmente, as equipas são capazes de alterar a sua
estrutura/matriz organizativa, durante o jogo ou competição, no intuito de
surpreender as equipas adversárias. De acordo com os observadores, apenas um
terço das equipas participantes mantiveram o seu sistema de jogo ao longo da sua
campanha.
Os guarda-redes modernos são autênticos líberos. A clássica tarefa de defender a baliza já não é o único
pressuposto para classificar um guarda-redes contemporâneo como bem-sucedido. Não
é por acaso que os observadores técnicos da UEFA utilizam o termo
«sweeper-keeper» (guarda-redes líbero). A tendência atual é para os
guarda-redes participarem na etapa de construção do processo ofensivo (veja-se,
por exemplo, os expoentes máximos da escola alemã: Neuer e ter Stegen). A
competência a jogar com os pés, em construção, a intervir nas saídas de zonas
de pressão defensiva adversária com critério, i.e., fazendo com que a sua equipa
dê seguimento ao processo ofensivo, é um aspeto chave do futebol contemporâneo.
Ademais, em processo defensivo, e com a linha defensiva cada vez mais avançada
no espaço de jogo, os guarda-redes também têm de jogar mais afastados da linha
de golo. A leitura de jogo, a capacidade de antecipação e a qualidade técnica
com os pés, são particularidades cruciais nestes líberos modernos.
A elevadíssima precisão do passe. O vencedor da competição, à semelhança do Bayern
Munique, obteve 90% de passes precisos. A ação que estabelece redes de
comunicação ofensiva entre companheiros de equipa, quando executada
corretamente em diversos contextos ou fases do jogo, determina o sucesso. Neste
particular, é ainda destacado o papel do «playmaker» (vulgo jogador 10),
considerado como uma espécie cada vez mais rara no futebol atual.
Referência
Union of European Football Associations. (2015). UEFA Champions League – Season review 2014/2015. Retirado
de:
http://www.uefa.org/MultimediaFiles/Download/uefaorg/General/02/27/33/33/2273333_DOWNLOAD.pdf
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