Na
passada quarta-feira (16 de novembro de 2016), um colega treinador publicou no
seu mural do Facebook a ligação para uma peça jornalística bastante
interessante (ver aqui) sobre Julian Nagelsmann, o jovem treinador alemão do
Hoffenheim.
Ainda
que o texto destacasse mais a juventude do treinador do que propriamente as
suas ideias sobre o jogo, houve um excerto que despertou a minha atenção:
No
vocabulário de Nagelsmann, a palavra mais importante é «pressão»: mais do que
jogar bem, o que o técnico exigiu aos jogadores mal chegou foi que anulassem o
adversário, pressionando o portador da bola, cortando linhas de passe,
controlando os espaços.
Nagelsmann
trabalhou com o atual técnico do Borussia Dortmund – Thomas Tuchel – na segunda
equipa do Augsburg e é evidente que partilham algumas ideias nos respetivos
modelos de jogo. A «pressão defensiva» exercida sobre a equipa contrária é uma
delas, tendo como referências (1) o
portador da bola, (2) as linhas de
passe próximas ao portador da bola (condicionar a saída com a bola controlada
da zona de pressão) e (3) o controlo
do espaço de jogo, mantendo a equipa equilibrada em organização defensiva e
pronta para retirar profundidade, caso o adversário opte por explorar o espaço
atrás da linha defensiva (bola longa). Ontem, estes processos defensivos foram
evidentes na primeira parte do fantástico jogo da Bundesliga Borussia Dortmund
1 x 0 Bayern München, conforme podemos observar nas imagens seguintes.
Figuras
1 e 2. Borussia Dortmund em zona pressionante no terço
ofensivo do terreno de jogo.
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Figura
3.
Borussia Dortmund a efetuar forte pressão sobre o portador da bola adversário.
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De
facto, as equipas de elite bem sucedidas na Europa tendem a demorar menos tempo a
recuperar a posse de bola após perda (Vogelbein et al., 2014) e a recuperar a bola em zonas mais próximas da baliza
adversária (Almeida et al., 2014). A
pressão defensiva, quando coletivamente bem coordenada entre os companheiros de
equipa, temporalmente sincronizada e espacialmente contextualizada, é um
desígnio das melhores equipas e um indicador de performance a ter em
consideração na formação de jovens praticantes da modalidade. No entanto, para
alcançar esse ensejo é necessário um treino coletivo muito aprimorado, com a
definição de bons referenciais de ação e sincronização (princípios) e, como é
natural, uma excelente condição física para poder aplicar o método de zona pressionante
durante longos períodos de tempo. Para concluir, transcrevo duas simples frases
da entrevista a Nagelsmann que são mais importantes para o treino que muitos
livros e artigos científicos publicados sobre futebol:
Dou
muita importância ao nosso comportamento quando não temos a posse. No futebol
de hoje precisas das duas coisas: soluções quando tens a bola e quando não a
tens.
Se para a jornalista Lídia P. Gomes, «pressão»
é a palavra mais importante no vocabulário de Nagelsmann, eu diria que
«solução» é a palavra-chave para qualquer jogador, treinador ou equipa obterem
sucesso no futebol contemporâneo. E ter ou dar soluções passa fundamentalmente
por saber o que fazer (e como fazer), quando não se tem a posse de bola.
Referências
Almeida, C. H., Ferreira, A. P., & Volossovitch, A.,
(2014). Effects of match
location, match status and quality of opposition on regaining possession in
UEFA Champions League. Journal
of Human Kinetics, 41(1), 203-214.
Gomes, L. P. (2016, 16 de novembro). Julian Nagelsmann, o
talentoso técnico que ainda pode usar Cartão Jovem. Tribuna Expresso. Recuperado de http://tribunaexpresso.pt/futebol-internacional/2016-11-16-Julian-Nagelsmann-o-talentoso-tecnico-que-ainda-pode-usar-Cartao-Jovem
Vogelbein, M., Nopp, S., & Hökelmann, A. (2014). Defensive transition in soccer - are prompt possession regains a measure of success? A quantitative analysis of German FuBball-Bundesliga 2010/2011. Journal of Sports Sciences, 32(11), 1076-1083.
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