23/10/2016

A arte de contra-atacar: O exemplo do Real Madrid 2016/2017

No passado fim-de-semana, tive a oportunidade de acompanhar o jogo Bétis de Sevilha x Real Madrid, que terminou com uma goleada das antigas (1-6) na cidade da Andaluzia. A fechar o primeiro tempo, o Real Madrid obteve o quarto golo num contra-ataque a partir de um pontapé de canto contra a sua equipa. Vejamos:


O motivo pelo qual me levou a escrever sobre este golo, já algum tempo após o jogo, é simples: constitui um exemplo perfeitamente conseguido de como se deve aproveitar o espaço concedido pela equipa adversária para criar contextos de superioridade numérica, a situação de finalização e, por fim, o golo. Foi um trabalho coletivo fantástico, com enorme solidariedade, um elevado ritmo de progressão e uma eficácia tremenda em ações tão simples quanto o passe.

Figura 1. Transição ofensiva: passe atrasado (Real já em superioridade numérica).

O início da transição ofensiva (figura 1), com um passe atrasado do sérvio Kovacic, foi extremamente inteligente. Em primeiro lugar, colocou um companheiro de equipa em cobertura ofensiva com possibilidade de progredir na direção da baliza adversária (i.e., de frente para o jogo); segundo, evitou por completo a pressão defensiva de um dos três jogadores do Bétis que estavam atrás da linha da bola; terceiro, libertou-se da bola, aclarou e deu linha de passe a Pepe, potenciado o contexto de superioridade numérica.

Figura 2. Criação da situação de finalização (superioridade numérica Gr+2v4).

Na zona de criação da situação de finalização, Karim Benzema teve ao seu dispor três linhas de passe possíveis (figura 2). O ritmo de progressão no campo foi tal que tornou o contexto de superioridade numérica ainda mais favorável para a obtenção de sucesso. Optou por colocar a bola em Cristiano Ronaldo, situado mais à esquerda no sentido do ataque.

Figura 3. Zona de definição (superioridade numérica Gr+1v3).

Sempre ao primeiro toque, Cristiano Ronaldo colocou a bola em Pepe e este ofereceu o golo a Isco com um passe subtil para dentro. Para que conste, a sequência ofensiva teve a duração de 13 segundos, envolvendo 5 jogadores diferentes, que executaram um total de 12 toques sobre a bola e 6 passes. Para termos uma ideia do ritmo de jogo, em cada 2 segundos foi realizado um passe. Em média, houve um passe por cada 2 toques sobre a bola.

As melhores equipas são assim: aproveitam o que o contexto situacional lhes oferece e adaptam-se às circunstâncias. Se o sucesso requer contra-ataque, o coletivo não enjeita. Convém é que os jogadores estejam preparados para ler e executar convenientemente em função da dinâmica mirabolante do jogo. Dizem que se a vida te der limões, então, deves fazer limonada. No futebol, em particular, se o contexto te oferecer espaço e uma equipa adversária desequilibrada, não hesites: contra-ataca. Deste modo, tal e qual, como o Real Madrid fez. Velocidade, ritmo, mobilidade e eficácia. 

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