No passado
fim-de-semana, tive a oportunidade de acompanhar o jogo Bétis de Sevilha x Real
Madrid, que terminou com uma goleada das antigas (1-6) na cidade da Andaluzia.
A fechar o primeiro tempo, o Real Madrid obteve o quarto golo num contra-ataque
a partir de um pontapé de canto contra a sua equipa. Vejamos:
O motivo pelo qual me
levou a escrever sobre este golo, já algum tempo após o jogo, é simples: constitui
um exemplo perfeitamente conseguido de como se deve aproveitar o espaço
concedido pela equipa adversária para criar contextos de superioridade
numérica, a situação de finalização e, por fim, o golo. Foi um trabalho
coletivo fantástico, com enorme solidariedade, um elevado ritmo de progressão e
uma eficácia tremenda em ações tão simples quanto o passe.
Figura 1.
Transição ofensiva: passe atrasado (Real já em superioridade numérica).
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O início da transição
ofensiva (figura 1), com um passe atrasado do sérvio Kovacic, foi extremamente
inteligente. Em primeiro lugar, colocou um companheiro de equipa em cobertura
ofensiva com possibilidade de progredir na direção da baliza adversária (i.e.,
de frente para o jogo); segundo, evitou por completo a pressão defensiva de um
dos três jogadores do Bétis que estavam atrás da linha da bola; terceiro,
libertou-se da bola, aclarou e deu linha de passe a Pepe, potenciado o contexto
de superioridade numérica.
Figura 2. Criação
da situação de finalização (superioridade numérica Gr+2v4).
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Na zona de criação da
situação de finalização, Karim Benzema teve ao seu dispor três linhas de passe
possíveis (figura 2). O ritmo de progressão no campo foi tal que tornou o
contexto de superioridade numérica ainda mais favorável para a obtenção de
sucesso. Optou por colocar a bola em Cristiano Ronaldo, situado mais à esquerda
no sentido do ataque.
Figura 3. Zona
de definição (superioridade numérica Gr+1v3).
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Sempre ao primeiro
toque, Cristiano Ronaldo colocou a bola em Pepe e este ofereceu o golo a Isco com
um passe subtil para dentro. Para que conste, a sequência ofensiva teve a
duração de 13 segundos, envolvendo 5 jogadores diferentes, que executaram um
total de 12 toques sobre a bola e 6 passes. Para termos uma ideia do ritmo de
jogo, em cada 2 segundos foi realizado um passe. Em média, houve um passe por
cada 2 toques sobre a bola.
As melhores equipas são
assim: aproveitam o que o contexto situacional lhes oferece e adaptam-se às
circunstâncias. Se o sucesso requer contra-ataque, o coletivo não enjeita. Convém
é que os jogadores estejam preparados para ler e executar convenientemente em
função da dinâmica mirabolante do jogo. Dizem que se a vida te der limões,
então, deves fazer limonada. No futebol, em particular, se o contexto te
oferecer espaço e uma equipa adversária desequilibrada, não hesites:
contra-ataca. Deste modo, tal e qual, como o Real Madrid fez. Velocidade,
ritmo, mobilidade e eficácia.
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