24/12/2016

Jürgen Klopp de olhos em bico com o mercado futebolístico chinês

No futebol, como em outras áreas de atividade humana, há personalidades e personalidades. O alemão Jürgen Klopp, treinador do Liverpool FC, é daquelas personalidades que não é difícil admirar, não somente pelo que as suas equipas fazem em campo, mas pela postura que mantém perante o fenómeno complexo que é o futebol (Figura 1).

Figura 1. Klopp e o mercado chinês (fonte: A Bola online, 23-dez-2016). 

Face ao mercado emergente chinês, eis as recentes declarações de Klopp reproduzidas pelo jornal A Bola:

Para mim, nem sequer penso nessa opção de ir para a China. Está fora de questão. (…) Tenho a certeza de que o Óscar e família estão contentes. Não vão ter mais preocupações de dinheiro no resto da vida! Estamos num mundo livre e cada um decide o que achar melhor. (…) Neste momento, os jogadores não querem jogar na liga chinesa, por isso, a única forma de os convencer é com muito dinheiro. Mas, nas principais ligas europeias, pode ganhar-se muito dinheiro também.

Sublinho e subscrevo! Jürgen Kloop é um apaixonado pelo jogo, pela competição. A maioria dos jogadores de elite, felizmente, ainda é assim. Os melhores buscam sempre a evolução e a superação. Para isso, precisam de desafios, de jogar contra os melhores e sentir na pele o quão ténue é a linha que separa o sucesso do fracasso. Naturalmente, não será na China que encontrarão o melhor contexto para se superar, no fundo, para sentir prazer pelo jogo e lidar com o inesperado. Ainda que devam equacionar o seu bem-estar financeiro e o futuro da sua família, não creio que Óscar, aos 26 anos, não possua já recursos suficientes para levar uma vida descontraída após a sua aposentação. É totalmente legítimo, sim, mas há algo mais que isso! Será a pressão competitiva constante que leva à saturação dos jogadores de elite, em particular nas principais ligas europeias? Serão apenas os milhões chineses, e vazios de conteúdo futebolístico, que estão na base da mudança?

Seja o que for, os efeitos do «futebol-indústria» atingiram o seu auge. Para bem da modalidade desportiva, é bom que individualidades como Klopp, que amam o jogo na sua essência, nunca se deixem seduzir pelo lado negro do futebol contemporâneo: a febre do dinheiro. O jogo é para ser jogado, vivido, pensado e sentido pelo próprio jogo e não por um outro qualquer bem material.

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