29/10/2018

FC Porto e SL Benfica na UEFA Champions League 2018/2019: os desempenhos à luz dos dados estatísticos

Após 3 jornadas disputadas na fase de grupos da presente edição da UEFA Champions League, FC Porto e SL Benfica ocupam posições bem distintas. Se a equipa da invicta é líder isolada do grupo D com 7 pontos (duas vitórias e um empate), o SL Benfica acumulou 3 pontos no grupo E, fruto da vitória obtida em Atenas, estando a 4 pontos de Ajax e Bayern quando faltam cumprir 3 jogos. Como é óbvio, as respetivas perspetivas de apuramento para a fase a eliminar da competição estão longe de se equiparar.

Figura 1. Sorteio da fase de grupos da UEFA Champions League 2018/2019 (fonte: UEFA.com).

Os dados estatísticos são por muitos considerados irrelevantes para a análise do jogo de futebol, mas a verdade é que refletem de alguma forma a qualidade dos processos ofensivos e defensivos de cada conjunto. Trocando por miúdos, a análise quantitativa permite-nos fazer inferências sobre a qualidade dos métodos empregues. Por exemplo, se uma equipa apresenta uma média de 40% de posse de bola não é crível que faça do ataque organizado ou posicional o seu método de jogo ofensivo predominante. Por sua vez, uma equipa cujo guarda-redes (Gr) faz 10 defesas por jogo tende a ser defensivamente mais permeável que uma equipa cuja média é de uma defesa do Gr por jogo.

Num estudo publicado este ano na plataforma Sport Performance & Science Reports, demonstrei que as variáveis de performance que melhor diferenciaram as equipas que passaram à fase de eliminatórias (knock-out) na edição 2017/2018 da Champions League, comparativamente às 16 que foram eliminadas da competição, foram os remates à baliza (shots on goal), o total de remates (total attempts), a posse de bola (ball possession), os passes completos (passes completed) e a precisão do passe (passing accuracy) (Almeida, 2018). Ora, para melhor compreendermos os desempenhos de FC Porto e SL Benfica e prognosticarmos as hipóteses de sucesso na fase de grupos da presente edição do certame, atentemos à tabela 1.

Tabela 1. Dados estatísticos das 32 equipas envolvidas na competição ao final de 3 jogos na fase de grupos, relativamente às variáveis de interesse (valores absolutos para remates à baliza e passes completos; valores médios para remates por jogo, posse de bola e precisão no passe). Fonte: UEFA.com (clique para ampliar).
 Legenda: verde – superior à média global das equipas; amarelo – igual à média global; laranja – inferior à média global.

Por uma questão pontual, o FC Porto apresenta francas possibilidades de atingir a fase seguinte da prova. Para além de jogar mais duas vezes em casa, os valores de posse de bola e de remates à baliza observados permitem-nos inferir que, pelo menos, a equipa portista é eficaz no controlo da bola, não deixando de ser objetiva na procura do golo. Em relação ao controlo do espaço há margem para progresso, não apenas para potenciar a precisão do passe em organização ofensiva, mas também para evitar sofrer mais golos em processo defensivo, visto que tanto o Schalke como o Galatasaray têm menos golos sofridos até ao momento.

O caso do SL Benfica é bem mais bicudo. Embora ainda tenha mais 2 jogos para disputar em casa (Ajax e AEK), os valores apresentados pela equipa encarnada são todos inferiores às médias globais das 32 equipas nas variáveis de performance em análise. Ainda que os valores associados à ação de remate se aproximem da média, os valores relativos à ação de passe estão nitidamente abaixo do nível médio encontrado nesta competição. Para além de manifestar dificuldades no controlo do espaço em transição e organização defensivas, o que se traduziu em 5 golos sofridos em 3 jogos disputados, as carências da equipa de Rui Vitória no controlo da bola são mais que notórias. As estatísticas indicam que se privilegiou os métodos de contra-ataque e ataque rápido, sem esquecer que o Benfica jogou mais de uma parte em inferioridade numérica em Atenas. Isso, no entanto, não explica integralmente a falta de qualidade ofensiva dos vice-campeões nacionais, até porque somente conseguiu concretizar golos aos campeões gregos. O cenário negativo dos benfiquistas agudiza quando tanto Ajax como Bayern detêm valores superiores em todas as variáveis.

Em suma, os números valem o que valem e, em particular, esta análise descritiva não determina a 100% que FC Porto passe à fase a eliminar e o SL Benfica não. A análise retrospetiva do desempenho não implica que não haja evolução e novidade em jogos futuros. Embora haja sempre uma margem de erro associada, também é verdade que a ciência tem algo a dizer sobre o fenómeno e que treinadores, adjuntos e analistas deveriam estar atentos aos dados e procurar, através deles, planificar e propor conteúdos em treino mais ajustados às exigências e às tendências identificadas na competição em curso.

Termino com os meus votos de sucesso para as equipas portuguesas.

Referência
Almeida, C. H. (2018). What performance-related variables best differentiate eliminated and qualified teams for the knockout phase of UEFA Champions League? Sport Performance & Science Reports, 1(23), 1-3.

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