Após 3 jornadas
disputadas na fase de grupos da presente edição da UEFA Champions League, FC Porto e SL Benfica ocupam posições bem
distintas. Se a equipa da invicta é líder isolada
do grupo D com 7 pontos (duas vitórias e um empate),
o SL Benfica acumulou 3 pontos no grupo E, fruto
da vitória obtida em Atenas, estando a 4 pontos de Ajax e Bayern quando faltam
cumprir 3 jogos. Como é óbvio, as respetivas perspetivas de apuramento para a
fase a eliminar da competição estão longe de se equiparar.
Figura 1. Sorteio da fase de grupos da UEFA Champions League 2018/2019 (fonte: UEFA.com). |
Os dados
estatísticos são por muitos considerados irrelevantes para a análise do jogo de
futebol, mas a verdade é que refletem de alguma forma a qualidade dos processos
ofensivos e defensivos de cada conjunto. Trocando por miúdos, a análise
quantitativa permite-nos fazer inferências sobre a qualidade dos métodos
empregues. Por exemplo, se uma equipa apresenta uma média de 40% de posse de
bola não é crível que faça do ataque organizado ou posicional o seu método de
jogo ofensivo predominante. Por sua vez, uma equipa cujo guarda-redes (Gr) faz
10 defesas por jogo tende a ser defensivamente mais permeável que uma equipa
cuja média é de uma defesa do Gr por jogo.
Num estudo
publicado este ano na plataforma Sport Performance & Science Reports, demonstrei que as variáveis de
performance que melhor diferenciaram as equipas que passaram à fase de eliminatórias (knock-out) na edição 2017/2018 da Champions
League, comparativamente às 16 que foram eliminadas da
competição, foram os remates à baliza (shots
on goal), o total de remates (total
attempts), a posse de bola (ball
possession), os passes completos (passes
completed) e a precisão do passe (passing
accuracy) (Almeida, 2018). Ora, para melhor compreendermos os desempenhos
de FC Porto e SL Benfica e prognosticarmos as hipóteses de sucesso na fase de
grupos da presente edição do certame, atentemos à tabela 1.
Tabela 1.
Dados estatísticos das 32 equipas envolvidas na competição ao final de 3 jogos
na fase de grupos, relativamente às variáveis de interesse (valores absolutos
para remates à baliza e passes completos; valores médios para remates por jogo,
posse de bola e precisão no passe). Fonte: UEFA.com (clique para ampliar).
Por uma questão
pontual, o FC Porto apresenta francas possibilidades de atingir a fase seguinte
da prova. Para além de jogar mais duas vezes em casa, os valores de posse de
bola e de remates à baliza observados permitem-nos inferir que, pelo menos, a
equipa portista é eficaz no controlo da bola, não deixando de ser objetiva na
procura do golo. Em relação ao controlo do espaço há margem para progresso, não
apenas para potenciar a precisão do passe em organização ofensiva, mas também
para evitar sofrer mais golos em processo defensivo, visto que tanto o Schalke
como o Galatasaray têm menos golos sofridos até ao momento.
O caso do SL Benfica
é bem mais bicudo. Embora ainda tenha mais 2 jogos para disputar em casa
(Ajax e AEK), os valores apresentados pela equipa encarnada são todos
inferiores às médias globais das 32 equipas nas variáveis de performance em
análise. Ainda que os valores associados à ação de remate se aproximem da
média, os valores relativos à ação de passe estão nitidamente abaixo do nível
médio encontrado nesta competição. Para além de manifestar dificuldades no
controlo do espaço em transição e organização defensivas, o que se traduziu em 5
golos sofridos em 3 jogos disputados, as carências da equipa de Rui Vitória no
controlo da bola são mais que notórias. As estatísticas indicam que se privilegiou os métodos de
contra-ataque e ataque rápido, sem esquecer que o Benfica jogou mais de uma parte em inferioridade numérica em Atenas. Isso, no entanto, não explica integralmente a falta
de qualidade ofensiva dos vice-campeões nacionais, até porque somente conseguiu concretizar golos aos campeões gregos. O cenário negativo dos benfiquistas
agudiza quando tanto Ajax como Bayern detêm valores superiores em todas as
variáveis.
Em suma, os
números valem o que valem e, em particular, esta análise descritiva não determina
a 100% que FC Porto passe à fase a eliminar e o SL Benfica não. A análise
retrospetiva do desempenho não implica que não haja evolução e novidade em jogos
futuros. Embora haja sempre uma margem de erro associada, também é verdade que
a ciência tem algo a dizer sobre o fenómeno e que treinadores, adjuntos e
analistas deveriam estar atentos aos dados e procurar, através deles, planificar
e propor conteúdos em treino mais ajustados às exigências e às tendências
identificadas na competição em curso.
Termino com os
meus votos de sucesso para as equipas portuguesas.
Referência
Almeida, C. H. (2018).
What performance-related variables best differentiate eliminated and qualified
teams for the knockout phase of UEFA Champions League? Sport Performance & Science Reports, 1(23),
1-3.
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