25/04/2020

Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago


Em palavras ao alcance de toda a gente, do que se tratava era de pôr de quarentena todas aquelas pessoas, segundo a antiga prática, herdada dos tempos da cólera e da febre-amarela, quando os barcos contaminados ou só suspeitos de infeção tinham de permanecer ao largo durante quarenta dias, até ver. Estas mesmas palavras, Até ver, intencionais pelo tom, mas sibilinas por lhe faltarem outras, foram pronunciadas pelo ministro, que mais tarde precisou o seu pensamento, Queria dizer que tanto poderão ser quarenta dias como quarenta semanas, ou quarenta meses ou quarenta anos, o que é preciso é que não saiam de lá.
(p. 47-48)

A obra Ensaio sobre a cegueira, do “nosso” nobel José Saramago (figura 1), é uma narrativa que vem a propósito dos tempos pandémicos que vivemos. Não é que a enfermidade seja a mesma, pois 99,9% das pessoas ficar cega sem explicação aparente é um cenário bem mais gravoso, se a desfaçatez de comparar ficção (“mal-branco”) e realidade (COVID-19) me é permitida.

Figura 1. Capa de “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago (24.ª edição, Porto Editora, 2019).

Após as habituais dedicatórias, Saramago expôs no início do livro uma citação, tão curta como eloquente, do Livro dos Conselhos: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” Estava dado o mote para um ensaio verdadeiramente brilhante sobre um fenómeno bastante improvável, ainda que possível. E se de repente a cegueira nos apanhasse a todos desprevenidos? Não escrevo sobre a cegueira que nos remete para a escuridão das trevas, mas para uma brancura permanente, o designado “mal-branco”. Como seria o mundo dos humanos? Caótico e, em certa conta, desprezível.

Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais (…).
(p. 129)

Porém, a personagem principal é imune e vivencia a catástrofe com uma visão inversa ao ditado “em terra de cegos, quem tem olho é rei”. Fosse ela outra e, seguramente, teria aproveitado a deixa. Optou pela conduta menos convencional, mais difícil e digna no auxílio ao seu semelhante.

(…) E as pessoas, como vão, perguntou a rapariga dos óculos escuros, Vão como fantasmas, ser fantasma deve ser isto, ter a certeza que a vida existe, porque quatro sentidos o dizem, e não a poder ver (…).
(p. 257)

Este excerto estabelece uma relação implícita entre grau de humanidade e perceção, não estritamente sensorial, do envolvimento. À medida que aumentamos a perceção do nosso ambiente, maior será a humanização do nosso comportamento. Isto porque a cegueira tem algo (ou tudo) de irracional. Mesmo aqueles que fazem uso da visão, por vezes, olham, mas não veem; outros veem, mas não reparam. E passeamo-nos como espectros.

E como poderá uma sociedade de cegos organizar-se para que viva, Organizando-se, organizar-se já é, de uma certa maneira, começar a ter olhos (…).
(p. 312)

Certamente um dos melhores livros, se não mesmo o melhor, que li nos últimos anos. Recomendo fortemente! Obrigado, mestre Saramago.

20/04/2020

Artigo do mês #4 – abril 2020 | Efeitos de manipular o tipo de bola em jogos reduzidos no futebol juvenil

Nota prévia: O artigo científico alvo da presente síntese foi selecionado em função dos seguintes critérios: (1) publicado numa revista científica internacional com revisão de pares; (2) publicado no último trimestre; (3) associado a um tema que considere pertinente no âmbito das Ciências do Desporto.

- 4 -
Autores: Sara Santos, Diogo Coutinho, Bruno Gonçalves, Eduardo Abade, Bruno Pasquarelli, & Jaime Sampaio
Título: Effects of manipulating ball type on youth footballers’ performance during small-sided games
Revista: International Journal of Sports Science & Coaching
País: Portugal
Referência:
Santos, S., Coutinho, D., Gonçalves, B., Abade, E., Pasquarelli, B., & Sampaio, J. (2020). Effects of manipulating ball type on youth footballers’ performance during small-sided games. International Journal of Sports Science & Coaching. doi: 10.1177/1747954120908003 (link)

Figura 1. Informações editoriais do artigo do mês #4 - abril 2020.

Apresentação do problema
Os treinadores têm vindo a utilizar os jogos reduzidos como meio integrante do processo de treino, uma vez que permitem desenvolver, em simultâneo, comportamentos físicos, técnicos e táticos dos jogadores. No futebol infantojuvenil, em particular, os jogos reduzidos permitem que os praticantes aprendam e aperfeiçoem habilidades próprias da modalidade, sendo que os treinadores, ao manipularem certas regras da tarefa proposta, direcionam os praticantes para a deteção de informações relevantes do envolvimento e para a execução de ações pretendidas.

Neste sentido, são amplamente conhecidos os efeitos que derivam da manipulação do número de jogadores e/ou das dimensões espaciais. Por exemplo, se os jogadores parecem beneficiar da prática de jogos reduzidos com menor número de elementos, porquanto executam um maior número de ações ofensivas e defensivas (Owen et al., 2014; Vilar et al., 2014), formatos de jogo de maiores dimensões são mais apropriados para aumentar a distância percorrida e para promover esforços de alta intensidade (Owen et al., 2014). Contudo, enquanto a investigação associada à manipulação do número de jogadores e/ou dimensões do espaço encontra-se bastante fundamentada, a aplicação de outros tipos de constrangimentos, ao invés, deve ser mais explorada, de forma a melhor elucidar aqueles que trabalham no terreno em relação à criação de contextos profícuos para a aprendizagem.

Uma das estratégias de ensino adotadas consiste na manipulação do tamanho e do peso da bola. Estudos prévios demonstraram que jogadores que treinaram com diferentes tipos de bola exibiram melhorias na competência motora, em comparação com outros que somente treinaram com bolas regulares de futebol (Burcak et al., 2015; Button et al., 1999). Porém, estes resultados foram obtidos na repetição de tarefas isoladas de passe, condução e drible, que não refletem a natureza dinâmica e imprevisível do jogo. O estudo de Pasquarelli e colaboradores (2014) foi o único que analisou os efeitos da modificação das características da bola no desempenho físico de jogadores em jogos reduzidos. Apesar de não se terem verificado diferenças significativas, é provável que bolas com propriedades distintas (e.g., o maior ressalto de uma bola de andebol ou a forma oval da bola de râguebi) possam induzir diferentes comportamentos técnicos e táticos, mas, até à data, nenhum estudo averiguou essa hipótese.

Por outro lado, embora estejam evidenciados os benefícios de expor os jogadores a contextos de variabilidade, como os jogos reduzidos, há uma carência generalizada de conhecimento acerca de como as capacidades dos praticantes podem ser afetadas pela realização de tarefas com variabilidade adicional. Desta maneira, o propósito do estudo foi identificar os efeitos de manipular o tipo de bola (futebol, andebol e râguebi) nos desempenhos físico, técnico, tático e criativo de jovens jogadores, em duas situações de jogo reduzido (Gr+4v4+Gr e Gr+6v6+Gr).

Métodos
Amostra: 12 jogadores de futebol (idade = 13.7 ± 0.5 anos; com 6.1 ± 0.9 anos de experiência na prática da modalidade) pertencentes ao mesmo clube, com 4 treinos semanais e um jogo competitivo ao fim-de-semana, no nível regional. Dois guarda-redes cumpriram o protocolo experimental, mas não foram incluídos na análise dos dados devido à especificidade da sua posição.

Procedimentos e protocolo experimental: Os jogadores cumpriram um total de 4 sessões, duas por semana separadas por dois dias, durante o período competitivo. Duas sessões foram destinadas à situação de 4v4 e outras duas para o 6v6, ambas com guarda-redes. Os jogos reduzidos foram organizados em 4 séries de 6-min (bola de futebol, bola de andebol, bola de râguebi e situação mista, com troca de tipo de bola a cada 2-min), com pausas de 3-min entre séries/condições, o que determinou um tempo total de 33-min por sessão. A ordem de cada condição de jogo (i.e., tipo de bola) foi aleatória nas 4 sessões (figura 2). Os participantes foram divididos em duas equipas equilibradas, tendo em consideração a avaliação subjetiva da habilidade dos jogadores pelo treinador principal.

Figura 2. Representação esquemática das variantes de jogo reduzido propostas.
(imagem não publicada pelos autores) 

Recolha dos dados: Os jogos reduzidos foram gravados com uma câmara digital fixa. Os comportamentos técnicos individuais foram registados através de um sistema de análise notacional, incluindo variáveis de passe, drible e de remate, classificadas em função do resultado (sucesso vs. insucesso) e considerando componentes de criatividade (tentativas, fluência e versatilidade). As variáveis físicas (distância percorrida e velocidade do deslocamento) e táticas (índice de exploração espacial, distância entre companheiros de equipa, distância entre os centroides das equipas e espaço de jogo efetivo) foram obtidas através de GPS e computadas com o software Matlab®.

Análise estatística: (1) as variáveis técnicas e de criatividade foram apresentadas em medianas e amplitudes interquartis, enquanto as variáveis físicas e táticas descritas mediante médias e desvios-padrão; (2) foram utilizadas duas folhas de Excel próprias para inferências baseadas na magnitude; (3) a interpretação da análise estatística foi efetuada com base numa escala de probabilidades e em valores de corte associados às dimensões de efeito.

Principais resultados
No cômputo geral, ficou demonstrado que comportamentos distintos de jogo emergiram em função do tipo de bola utilizado e da manipulação do número de jogadores. As maiores diferenças, relativamente à situação de controlo (jogo com bola de futebol), foram verificadas com a bola de râguebi e em contexto misto (várias bolas). As diferenças foram mais acentuadas em jogos disputados com mais jogadores.

· Gr+4v4+Gr
Bola de andebol vs. bola de futebol: foi desvendada maior irregularidade na distância entre equipas e um aumento do número de remates à baliza, o que pode estar associado às menores dimensões da bola de andebol. Como esta bola pode ser passada com velocidade mais elevada, esse fator pode ter afetado não apenas a distância verificada entre as equipas, como também aumentou as exigências físicas do jogo, sobretudo da equipa em processo defensivo.

Bola de râguebi vs. bola de futebol: as equipas atuaram mais próximas no terreno de jogo, o que pode ser consequência da trajetória imprevisível da bola de râguebi. Como controlar a bola é mais difícil, é natural que a equipa contrária exerça mais pressão sobre o portador da bola para tirar proveito de erros técnicos. O espaço efetivo de jogo foi mais reduzido e regular, sendo ainda mais regular a distância entre companheiros de equipa, factos que ajudam a explicar as menores exigências físicas apuradas nesta condição.

Situação mista vs. bola de futebol: o tipo de bola foi alterado a cada dois minutos de jogo, mas os resultados foram similares aos obtidos para jogos com a bola de râguebi. Concretamente, houve decréscimos no espaço de exploração individual, no espaço efetivo de jogo e na distância entre centroides das equipas. A presença da bola de râguebi pode ter influenciado o posicionamento dos jovens jogadores e, por inerência, o seu desempenho físico, traduzindo-se em menores distâncias total e percorrida em jogging.

·  Gr+6v6+Gr
Bola de andebol vs. bola de futebol: jogar com a bola de andebol originou um decréscimo no espaço de exploração individual. Talvez a menor dimensão da bola permita aos jogadores encontrar soluções de passe e remate mais simples e imediatas. Por isso, houve um decréscimo substancial na carga externa, sendo evidente nas menores distâncias percorridas em jogging, em corrida, em sprint e em termos totais.

Bola de râguebi vs. bola de futebol: o número de ações técnicas bem-sucedidas decresceram, ao invés do observado para o número de erros técnicos, o que também justifica os menores valores obtidos para a fluência e versatilidade dos jogadores (figura 3). O elevado foco no controlo da bola condicionou a perceção da informação relevante do envolvimento, registando-se valores mais baixos na exploração individual do espaço, na distância entre companheiros de equipa e no espaço efetivo de jogo.

Figura 3. Introdução da bola de râguebi em contexto de prática no futebol.
(imagem não publicada pelos autores)

Situação mista vs. bola de futebol: ao modificar o tipo de bola durante os jogos, observou-se uma redução do número de passes e dribles executados com sucesso e da fluência das ações dos jogadores. Constataram-se menores distâncias percorridas nas diversas zonas de velocidade e maior irregularidade na distância interpessoal, podendo dever-se à menor familiaridade dos jovens com este tipo de contextos dinâmicos, nos quais as regras do jogo são periodicamente manipuladas.

Implicações práticas
Os treinadores podem (e devem) planear tarefas com variabilidade adicional, nas quais as regras do jogo sejam sistematicamente manipuladas, de maneira a que os jogadores se adaptem continuamente a novas exigências do foro percetivo e comportamental. Os efeitos da manipulação do tipo de bola são enfatizados em formatos de jogo com maior número de jogadores (e possibilidades de ação). Por isso, o tipo de bola utilizado em situações mais complexas deve ser cuidadosamente ponderado. De acordo com as evidências apresentadas, seguem-se algumas especificações decorrentes do tipo de bola proposto na prática:

Bola de futebol
· Requer que os jogadores explorem mais o envolvimento para criar espaços, aumentando as exigências de movimento e físicas associadas.

Bola de andebol
· Aumenta a exigência física sem comprometer a eficácia das ações técnicas e dos comportamentos táticos em formatos de jogo mais reduzidos;
· Permite refinar ações técnicas e promove a emergência de novas ações técnicas e criativas em formatos de jogo com mais jogadores, aumentando a amplitude atencional.

Bola de râguebi
· Fomenta comportamentos de aproximação dos defensores ao portador da bola, com o intuito de efetuar contenção ou pressão;
· Induz maior regularidade no comportamento defensivo coletivo e reduz as exigências físicas do jogo.

Situação mista (várias bolas)
·  Suscita adaptabilidade tática sem afetar comportamentos técnicos e criativos em formatos de menor dimensão;
· Proporciona a adaptação percetivo-motora e comportamentos exploratórios constantes para superar as sucessivas modificações da tarefa em formatos de jogo mais complexos.

Conclusão
Em comparação com a bola regular de futebol, os efeitos de jogar com outros tipos de bola foram mais evidentes em formatos com maior número de jogadores. Propor bolas com características distintas (i.e., tamanho, forma e propriedades do ressalto) parece amplificar as exigências percetivas, uma vez que os jogadores necessitam de mais tempo para compreender a trajetória da bola. Este aspeto, combinado com o aumento do volume informacional associado à adição de jogadores, pode afetar a capacidade para interagir com o envolvimento e executar ações motoras apropriadas. Este estudo demonstrou que modificar a informação disponível, em relação ao tipo de bola e número de jogadores, amplifica ou limita a perceção de jogadores Sub-14, condicionando o seu desempenho técnico, tático e físico.


P.S.:
1-  As ideias que constam neste texto foram originalmente escritas pelos autores do artigo e, presentemente, traduzidas para a Língua Portuguesa;
2-  A leitura deste texto não dispensa a leitura integral do artigo em questão;
3-  As citações efetuadas nesta rúbrica foram utilizadas pelos autores do artigo, podendo o leitor encontrar as devidas referências na versão original publicada no International Journal of Sports Science & Coaching.

10/04/2020

A relíquia (1887), de Eça de Queirós

“A relíquia” foi a terceira obra que li do nosso José Maria Eça de Queirós (figura 1), depois de ler lido “Os Maias” (1888) e “A cidade e as serras” (1901)”. Há muito que não constatava o brilhantismo deste escritor: literalmente, ensina-nos a escrever. Com mestria, faz uma crítica da sociedade vigente na época – já tempos de Capitalismo, conforme assinala logo no prólogo –, na qual a devoção à igreja é um imperativo para um estatuto social mais refinado.

Figura 1. Capa da recente edição de “A relíquia”, do escritor Eça de Queirós.
(obra escolhida para o 13.º Encontro do Clube de Leitura de Monchique, 9-abr-2020)

Depois, é todo um enredo de farsa, de hipocrisia e de ganância em que Teodorico – o devoto –, ou Raposão – o boémio – coabitam. Ora vivendo numa clausura eclesiástica imposta pela tia D. Maria Patrocínio das Neves, rodeada de outros tantos abutres dissimilados; ora liberto nos seus veementes impulsos mundanos, repletos de “relaxações”, como a D. Adélia, a luveira Mary e o imaginado romance com o suposto amor da sua vida: uma monja de negro em terras do Médio Oriente.

Os planos de Teodorico Raposo, contudo, deram para o torto, porque a “mentira tem perna curta”. Foi, precisamente, num momento de angústia e de penúria, que Teodorico tomou consciência dos seus atos e, quase que por ordem divina, optou por levar uma vida recatada, honesta e que o reconduziu à prosperidade. Um romance que, sobretudo, nos educa sobre a honestidade, a genuinidade e como nunca se deve deixar os nossos créditos em mãos alheias.

01/04/2020

Futebol, saudade e surpresa num exercício de treino

Após 14 anos ininterruptos ligado ao futebol de formação, no qual representei três clubes distintos como treinador – Atlético CP, JD Monchiquense e Portimonense SC –, tomei a decisão de fazer uma pausa sabática na presente época. Quis a ironia o destino que este maldito COVID-19, à data com quase 900 000 infetados e 45 000 mortos, colocasse boa parte da população portuguesa, europeia e mundial em quarentena.

O futebol que, desde cedo, fez parte da minha vida, parou totalmente. Se a saudade já apertava por não estar diretamente envolvido no fenómeno, agora, confinado entre quatro paredes, adquiriu outra magnitude. Porém, num dia de arrumações invulgares, remexendo em “águas passadas”, encontrei uma surpresa (figura 1), que me transportou para uma memória feliz do futebol: a avaliação prática das disciplinas Técnico-Tática e Metodologia do Treino, do curso de treinadores UEFA Basic (Grau II), promovido pela Associação de Futebol do Algarve, há uns anos.
  
Figura 1. O ovo contendo o “exercício-surpresa” a construir.
(clique para ampliar)

Após cada formando tirar à sorte um “exercício-surpresa”, de entre 36 hipóteses, a avaliação consistia em construir o exercício em 10 ou 15 minutos (não me recordo bem), de acordo com as breves informações facultadas e considerando o modelo de jogo previamente elaborado. O acaso ditou um exercício do Grupo 2 – Manutenção da Posse de Bola: Conceptualize um exercício de treino para a manutenção da posse da bola utilizando um espaço reduzido de jogo, e com 3 equipas.

Para além da conceção do exercício decorrer sob pressão temporal, tínhamos de equacionar todos os seus elementos, incluindo a formação das equipas, para expor, orientar e discutir em sessões práticas subsequentes. Sem margem para dúvida, foi uma das tarefas mais aliciantes do curso. Apresento em seguida a minha proposta (figura 2).

Figura 2. Representação esquemática do exercício proposto.

Características estruturais
Formato: Gr+3v3+Gr+3NT (2 neutros exteriores + 1 neutro interior)
Espaço: 25x20m (55.6 m2/jogador)
Duração: 3 x 4’ (1’ recuperação passiva entre reps)
Volume: 14’
Densidade: 1 : 1/4
Condicionantes: (1) neutros (NT) jogam, no máximo, a 2 toques/intervenção sobre a bola; (2) no processo ofensivo, é obrigatório circular a bola pelos 2 NT exteriores (linhas laterais); (3) a equipa em posse tem de realizar, no mínimo, 6 passes consecutivos para poder finalizar.
Variantes: (1) condicionar todos os jogadores a jogar, no máximo, a 2 toques/intervenção; (2) aumentar o número mínimo de passes para se poder finalizar (8-10); (3) impossibilitar a realização de passe de retorno ao último portador da bola; (4) solicitar cada NT apenas uma vez durante cada ataque.

Objetivos
(1) Potenciar o jogo apoiado, recorrendo ao triângulo como unidade estrutural funcional;
(2) Privilegiar a execução de receções orientadas e passes curtos;
(3) Estimular o cumprimento constante dos princípios específicos cobertura ofensiva e mobilidade;
(4) Em transição ofensiva, retirar rapidamente a bola de zonas de pressão adversária, variando o ângulo de ataque à baliza contrária.

Relação com o modelo de jogo
Estrutura tática de base: 1-4-3(1-2)-3. Pretendemos que a equipa jogue predominantemente em ataque posicional, fazendo do triângulo a unidade estrutural e funcional de referência. Em organização ofensiva, circular a bola com velocidade e precisão (receção orientada e passe curto), obrigando a equipa oponente a basculações sucessivas (variação do ângulo de ataque à baliza oponente). O cumprimento dos princípios cobertura ofensiva e mobilidade é essencial para circular a bola com segurança e, posteriormente, criar espaços para finalizar em golo. Em transição ofensiva, reforçar o seguinte princípio geral do modelo de jogo: «retirar a bola rapidamente da zona de pressão adversária». Após a recuperação da bola, a equipa deve circulá-la para espaços menos congestionados e mais seguros para elaborar o processo ofensivo.

Planeamento
Sessão de treino: incluir na Parte Fundamental, imediatamente após a Parte Preparatória.
Microciclo: incluir na sessão de quarta-feira, tendo jogo oficial ao domingo (-4 dias).

Zona de intensidade alvo
80-90% FC máx.; PSE: 8/9.

Regime
Força específica.

Equipas

O melhor, no entanto, foi a camaradagem, a partilha de conhecimentos e experiências, e aquele cheiro tão característico da relva. O futebol, a saudade e a surpresa imiscuídos num simples exercício… para a posterioridade.

Para todos os meus companheiros de curso e formadores: um abraço e votos de saúde e muito sucesso!