“A relíquia” foi a
terceira obra que li do nosso José Maria Eça de Queirós (figura 1), depois de
ler lido “Os Maias” (1888) e “A cidade e as serras” (1901)”. Há muito que não
constatava o brilhantismo deste escritor: literalmente, ensina-nos a escrever.
Com mestria, faz uma crítica da sociedade vigente na época – já tempos de
Capitalismo, conforme assinala logo no prólogo –, na qual a devoção à igreja é
um imperativo para um estatuto social mais refinado.
Figura 1. Capa da recente edição de “A relíquia”, do escritor Eça de
Queirós.
(obra escolhida para
o 13.º Encontro do Clube de Leitura de Monchique, 9-abr-2020)
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Depois, é todo um enredo
de farsa, de hipocrisia e de ganância em que Teodorico – o devoto –, ou Raposão
– o boémio – coabitam. Ora vivendo numa clausura eclesiástica imposta pela tia
D. Maria Patrocínio das Neves, rodeada de outros tantos abutres dissimilados;
ora liberto nos seus veementes impulsos mundanos, repletos de “relaxações”,
como a D. Adélia, a luveira Mary e o imaginado romance com o suposto amor da
sua vida: uma monja de negro em terras do Médio Oriente.
Os planos de Teodorico
Raposo, contudo, deram para o torto, porque a “mentira tem perna curta”. Foi,
precisamente, num momento de angústia e de penúria, que Teodorico tomou
consciência dos seus atos e, quase que por ordem divina, optou por levar uma
vida recatada, honesta e que o reconduziu à prosperidade. Um romance que,
sobretudo, nos educa sobre a honestidade, a genuinidade e como nunca se deve
deixar os nossos créditos em mãos alheias.
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