21/05/2012

O Paradigma dos "Extremos Invertidos"

Parece ser cada vez mais usual observar treinadores de futebol de elite a fazer uso de extremos ou médios-ala (caso joguem mais recuados) invertidos. Por extremos (ou médios-ala) invertidos entende-se a opção de colocar jogadores destros de cariz ofensivo a atuar no corredor esquerdo e, inversamente, jogadores canhotos no corredor direito.

Não pretendo fazer uma resenha histórica sobre o assunto, remontando à primeira vez que um treinador se lembrou de quebrar a vulgaridade de canhotos para a esquerda e destros para a direita, contudo, face ao número crescente de casos no futebol de alto rendimento, creio que estamos diante de um novo paradigma: a utilização de “extremos invertidos”.

No Barcelona, em tempos, Guardiola fê-lo com Henry/Messi, mais tarde com Villa/Messi, Pedro/Messi, entre outros. No Real Madrid, José Mourinho fê-lo, durante a presente época, com Ronaldo/Di Maria ou Ronaldo/Özil. Também em 2011/2012, vimos o Bayern Munique de Jupp Heynckes com Ribéry/Robben, o FC Porto de Vítor Pereira com Varela/Hulk, embora Villas-Boas (2010/2011) tivesse recorrido mais à dupla em causa, e o SL Benfica de Jorge Jesus com Nolito/Gaitán ou Nolito/Bruno César. Viajando um pouco mais além, podemos ainda vislumbrar o Shakhtar Donetsk de Mircea Lucesco com William/Douglas Costa. Decerto que outros haverá, mas que aqui não foram mencionados.   


Há quem critique as nuances comportamentais que decorrem desta opção estratégica, alegando que “afunilar” o jogo para o corredor central é benéfico para a formação que defende e que, para além disso, condiciona em demasia as valências de determinados avançados, nomeadamente os “homens de área” ou, conforme célebre tirada do treinador português Paulo Sérgio (recém vencedor da Taça da Escócia), os “pinheiros”.

Esta opção estratégico-tática depende não somente das características dos jogadores que um treinador possui, mas sobretudo da ideia de jogo do próprio treinador. Se há quem prefira ter “pinheiros”, sem mobilidade, para meter bolas no fundo da rede, de facto, os “extremos invertidos” podem não ser a solução mais viável. No cômputo geral, perante aquilo que são as exigências da competição ao mais alto nível, parece-me que traz mais benefícios do que malefícios para a dinâmica ofensiva da equipa.

As diagonais efetuadas pelos extremos fomentam uma série de situações que suplantam a mais que previsível jogada de “ir à linha de fundo para cruzar”. Por exemplo: (i) progredir para o espaço interior (corredor central) em condução ou drible, criando situação propícia para rematar à baliza; (ii) executar diagonal com bola, solicitando o apoio e posterior combinação tática (direta ou indireta) com o avançado ou médio interior, no intuito de desequilibrar a organização defensiva adversária; (iii) diagonal para o espaço interior, em progressão, permitindo a entrada no corredor de origem do lateral ou do médio interior; (iv) diagonal sem bola para a zona de finalização, surgindo, a meu ver, maior possibilidade de obtenção de sucesso na ação de remate, devido a melhor enquadramento do atacante para recorrer ao seu membro inferior dominante.   

Discordo também que tal não possa ser aplicado em equipas que não lutem por títulos. É uma circunstância estratégica treinável, como tantas outras, embora requeira maior cultura tática dos seus protagonistas, desde o avançado, que deve ser dotado de inteligência e mobilidade, passando pelos médios interiores e de cobertura, aos laterais. Não implica apenas progressão vertical, como se os extremos fizessem uso de palas, é um processo muito mais refinado e exigente.

Apesar disso, e a avaliar pelas evidências mais recentes no continente europeu, em que as melhores equipas (realço o Barcelona, o Real Madrid e o Bayern Munique) não descuram o fenómeno, merece toda a nossa reflexão. O paradigma vai sendo outro.

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