No futebol, como
em outras áreas de atividade humana, há personalidades e personalidades. O alemão
Jürgen Klopp, treinador do Liverpool FC, é daquelas personalidades que não é
difícil admirar, não somente pelo que as suas equipas fazem em campo, mas pela postura
que mantém perante o fenómeno complexo que é o futebol (Figura 1).
Figura 1. Klopp e o mercado chinês (fonte: A Bola online, 23-dez-2016). |
Face ao mercado
emergente chinês, eis as recentes declarações de Klopp reproduzidas pelo jornal
A Bola:
Para mim,
nem sequer penso nessa opção de ir para a China. Está fora de questão. (…)
Tenho a certeza de que o Óscar e família estão contentes. Não vão ter mais
preocupações de dinheiro no resto da vida! Estamos num mundo livre e cada um
decide o que achar melhor. (…) Neste momento, os jogadores não querem jogar na
liga chinesa, por isso, a única forma de os convencer é com muito dinheiro.
Mas, nas principais ligas europeias, pode ganhar-se muito dinheiro também.
Sublinho e subscrevo!
Jürgen Kloop é um apaixonado pelo jogo, pela competição. A maioria dos
jogadores de elite, felizmente, ainda é assim. Os melhores buscam sempre a
evolução e a superação. Para isso, precisam de desafios, de jogar contra os
melhores e sentir na pele o quão ténue é a linha que separa o sucesso do
fracasso. Naturalmente, não será na China que encontrarão o melhor contexto
para se superar, no fundo, para sentir prazer pelo jogo e lidar com o
inesperado. Ainda que devam equacionar o seu bem-estar financeiro e o futuro da
sua família, não creio que Óscar, aos 26 anos, não possua já recursos suficientes
para levar uma vida descontraída após a sua aposentação. É totalmente legítimo,
sim, mas há algo mais que isso! Será a pressão competitiva constante que leva à
saturação dos jogadores de elite, em particular nas principais ligas europeias?
Serão apenas os milhões chineses, e vazios de conteúdo futebolístico, que estão
na base da mudança?
Seja o que for,
os efeitos do «futebol-indústria» atingiram o seu auge. Para bem da modalidade
desportiva, é bom que individualidades como Klopp, que amam o jogo na sua
essência, nunca se deixem seduzir pelo lado negro do futebol contemporâneo: a
febre do dinheiro. O jogo é para ser jogado, vivido, pensado e sentido pelo
próprio jogo e não por um outro qualquer bem material.