Corria o mês de fevereiro de 2020 quando o Município de Monchique lançou a primeira edição do Prémio Artístico e Literário de Monchique. De entre as cinco categorias de participação possíveis, e julgando estarem asseguradas condições legais para concorrer, submeti o conto “Além do horizonte” na categoria “prosa”.
Independentemente do resultado do concurso, do qual fui
excluído pelo júri e que, em sede própria e a quem de direito, tive
oportunidade de manifestar a minha discordância, o conto recebeu uma menção
honrosa, com direito a publicação na coletânea Liberdade (1.ª edição, 2020;
figura 1), que reúne alguns dos trabalhos que participaram nas diversas
categorias: prosa, escultura, fotografia e pintura (poesia não teve trabalhos a concurso).
Figura 1. Capa e contracapa da coletânea Liberdade (2020), edição
do Município de Monchique.
Pessoalmente, deu-me um gozo enorme escrever este conto,
não apenas por abordar a liberdade em tempos de confinamento, mas, essencialmente,
porque me permitiu conjeturar algumas particularidades e tradições de Monchique
em tempos que não tive ocasião de vivenciar. Também não podia deixar de parte a
componente filosófica que preenche os entretantos da nossa existência. Aqui, no
Linha de Passe, transcrevo o primeiro parágrafo da prosa:
Poderia escrever que esta é a história do senhor
Jerónimo, mas isso seria mais um dos incontáveis lugares-comuns que encontramos
entranhados no quotidiano: os dias repetidos à exaustão, com contornos mais ou
menos retos, mais ou menos monótonos. O assunto que vos trago não deveria ser
corriqueiro ou desprezível para a tão aclamada humanidade, embora o que reste
dela seja apenas alguns espasmos esporádicos que ocorrem sem aviso prévio. A
maioria de nós goza o «dado como adquirido» sem esforço, dor, paixão ou memória;
um conjunto de intenções, ações e conquistas rebaixado ao valor da indiferença.
Porém, as forças que nos impulsionaram para o que somos, ou que nos impelem
para o que seremos, nada têm de trivial.
Se, por obra do acaso ou da intenção, o livro vos for parar às mãos, espero que o emaranhado de palavras que escrevi vos faça sentido e que a imaginação vos leve “além do horizonte”.
Expresso os meus sinceros parabéns a todos os participantes e, em especial, aos vencedores do prémio. Faço ainda votos para que o Município de Monchique continue a incentivar a produção cultural local, com esta ou outras iniciativas do género.
Sem comentários:
Enviar um comentário