30/10/2022

Artigo do mês #34 – outubro 2022 | Atividade de exploração visual e design de tarefas de treino: Perceções de treinadores experientes de academias profissionais de futebol

Nota prévia: O artigo científico alvo da presente síntese foi selecionado em função dos seguintes critérios: (1) publicado numa revista científica internacional com revisão de pares; (2) publicado no último trimestre; (3) associado a um tema que considere pertinente no âmbito das Ciências do Desporto.

 

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Autores: Eldridge, D., Pocock, C., Pulling, C., Kearney, P., & Dicks, M.

País: Inglaterra

Data de publicação: 4-setembro-2022

Título: Visual exploratory activity and practice design: Perceptions of experienced coaches in professional football academies

Referência: Eldridge, D., Pocock, C., Pulling, C., Kearney, P., & Dicks, M. (2022). Visual exploratory activity and practice design: Perceptions of experienced coaches in professional football academies. International Journal of Sports Science & Coaching. https://doi.org/10.1177/17479541221122412

  

Figura 1. Informações editoriais do artigo do mês 34 – outubro de 2022.

 

Apresentação do problema

A qualidade do desempenho em contextos dinâmicos e temporalmente constrangidos pode ser sustentada pela capacidade do jogador em explorar visualmente o envolvimento no sentido de identificar oportunidades de ação (Jordet et al., 2020; McGuckian et al., 2018). A natureza dinâmica dos jogos desportivos, como o futebol, requer que os jogadores prestem atenção aos movimentos dos companheiros de equipa e dos adversários para orientar as ações subsequentes (Eldridge et al., 2013). A investigação existente tem reconhecido a importância de competências percetivo-cognitivas, como o reconhecimento de padrões (North et al., 2009), a antecipação (Roca et al., 2011) e a pesquisa visual (Savelsbergh et al., 2002), em performances de excelência no futebol. Mais recentemente, os estudos no futebol têm analisado a “atividade de exploração visual” (McGuckian et al., 2020; Pocock et al., 2019), o “comportamento de exploração visual” (McGuckian et al., 2017) e o “scanning” (Aksum et al., 2021; Jordet et al., 2020), que, no cômputo geral, referem-se aos movimentos corporais e da cabeça que envolvem desviar o olhar da bola para orientar o controlo prospetivo de ações futuras. 

A relevância da atividade de exploração visual em ambientes competitivos tem sido destacada em estudos analíticos no âmbito da performance desportiva, surgindo a frequência de exploração visual associada à precisão do passe na Premier League inglesa (Jordet et al., 2013, 2020) e em campeonatos europeus de futebol em idades juvenis (Aksum et al., 2021). Porém, apesar de investigadores e treinadores reconhecerem a importância dos comportamentos de pesquisa visual para a performance de alto nível no futebol (Pulling et al., 2018), pouquíssimos estudos têm investigado a eficácia do design de atividades práticas no aumento da frequência e na melhoria da qualidade do ato de exploração visual de jovens praticantes. 

Na generalidade, uma maior exploração visual tem sido ligada a desempenhos com bola mais bem conseguidos, embora vários fatores contextuais possam influenciar a frequência de comportamentos de pesquisa visual. A regularidade destes comportamentos pode variar em função de exigências posicionais no seio da equipa: por norma, executam-se mais varrimentos por segundo em posições centrais (e.g., defesas centrais e médios-centro), comparativamente a posições periféricas (e.g., defesas laterais) (Jordet et al., 2020). Além disso, a proximidade dos oponentes pode influenciar a frequência de busca visual, já que, tipicamente, os jogadores realizam mais movimentos com a cabeça quando estão longe da bola e, por isso, sob menor pressão defensiva (Aksum et al., 2021). Por seu turno, sob intensa pressão, os jogadores não realizam tantos “scans”, pois há o risco acrescido de perderem a posse de bola enquanto desviam o olhar da mesma para preparar ações futuras. A verdade é que, se os jogadores forem capazes de efetuar atividades de exploração visual sob intensa pressão, reunirão melhores condições para superar a oposição dos adversários. A compreensão destes constrangimentos pode ajudar a que os treinadores concebam atividades práticas mais efetivas para incrementar a qualidade dos comportamentos de exploração visual dos jogadores. 

O comportamento visual de procura de informações do envolvimento varia em função do escalão etário. Por exemplo, jogadores Sub-19 exploraram mais o envolvimento que indivíduos Sub-17 em campeonatos europeus nessas categorias (Aksum et al., 2021). Mesmo em condições simuladas de futebol, em contexto laboratorial, os jogadores mais velhos executaram mais movimentos com a cabeça (McGuckian et al., 2020). Porém, uma vez que pode haver um “efeito de teto” em jogadores internacionais de elite, compreender como os treinadores de futebol delineiam a prática para jovens praticantes pode contribuir para que a investigação forneça pistas valiosas para a melhoria de competências percetivas no decurso do processo de formação de futebolistas. Essencialmente, urge entender como é que se treinam comportamentos de exploração visual no terreno, em tarefas representativas (figura 2).

 

Figura 2. O design de tarefas representativas no desenvolvimento de comportamentos de pesquisa visual (imagem não publicada pelos autores).

 

Os treinadores de futebol mais experientes e com mais qualificações destacaram que o treino da exploração visual deve ser introduzido desde idades baixas e pode ser estimulado através de instruções diretas, aplicando constrangimentos e questionamento (Pulling et al., 2018). Os treinadores que raramente trabalham comportamentos de pesquisa visual mencionaram a existência de barreiras para desenvolver capacidades percetivas (e.g., dificuldade na estruturação de tarefas e falta de recursos para entender tais comportamentos). Para superar estas barreiras, a realização de entrevistas com treinadores experientes pode facultar exemplos de atividades práticas direcionadas para a melhoraria da exploração visual em jovens futebolistas. O objetivo deste estudo foi entender como é que treinadores, com experiência em contexto de academias profissionais de futebol, conceptualizam os comportamentos de exploração visual e como é que aplicam essa conceção na estruturação de tarefas práticas.

 

Métodos

Participantes: 9 treinadores masculinos a trabalhar no seio de uma academia da Federação Inglesa de Futebol pertencente a um clube profissional que atua nas 4 divisões mais altas de Inglaterra (Premier League, Championship, League 1 e League 2). Os treinadores (idade, média ± desvio-padrão: 40 ± 9.6 anos; experiência de treino no futebol: 18 ± 6.1 anos) foram selecionados porque são responsáveis por uma equipa da academia e porque, em termos de qualificações, possuem licenças UEFA A (n = 5) e UEFA B (n = 4).

Procedimentos: os dados foram obtidos de entrevistas semiestruturadas para conhecer aprofundadamente as perspetivas dos treinadores sobre a atividade de exploração visual. O guião da entrevista passou por uma fase de estudo piloto, com um treinador com licença UEFA B, após o qual os investigadores puderam fazer pequenos ajustes nas questões propostas e na organização das mesmas. As questões eram abertas, por forma a conceder oportunidade aos investigadores de sondar as respostas dadas pelos treinadores. O guião da entrevista foi dividido em 3 secções: 1) questões sobre o background dos participantes enquanto treinadores (e.g., Por favor, pode dizer-me como começou a desenvolver a atividade de treinador?); 2) questões sobre as perceções e as experiências dos treinadores em orientar sessões de treino para desenvolver a exploração visual dos jovens jogadores (e.g., Acha que a atividade de exploração visual tem mais importância em determinadas idades?); 3) com base na experiência acumulada, os participantes foram convidados a desenhar e a descrever exercícios que eles achavam que poderiam aprimorar a perceção visual dos jovens futebolistas. As entrevistas foram conduzidas pelo autor principal presencialmente, cara a cara, numa localização escolhida pelos treinadores. As entrevistas duraram entre 32 e 48 minutos e foram gravadas através da aplicação para telemóvel Smart Recorder 7 (Version 2.1, 2009–2013 Roe Mobile Development). Posteriormente, o conteúdo das entrevistas foi transcrito à letra para análise dos dados.


Análise dos dados:

 

·     Entrevista

Neste estudo, o autor principal recorreu a um modelo de 6 fases para realizar a análise dos temas (Braun et al., 2016): familiarização com os dados, produção de códigos iniciais, procura de temas, revisão dos temas, definição e nomeação dos temas e produção do relatório. O autor principal adotou uma abordagem indutiva, pesquisando semelhanças e diferenças nos dados e descrevendo temas. Os códigos iniciais foram desenvolvidos em temas mais amplos, que, depois, foram revistos e redefinidos pela equipa de investigação. Após completar a definição e a nomeação dos temas, o investigador principal reviu os códigos dos dados em bruto e os temas. Os outros coautores realizaram uma apreciação crítica dos códigos e dos temas para tornar o racional da organização dos dados mais robusto.

 

·     Exemplos dos exercícios práticos

As atividades práticas apresentadas pelos treinadores foram categorizadas segundo a proposta avançada por Roca e Ford (2020) (tabela 1).

 

Tabela 1. Categorias e definições das atividades relacionadas com a prática de futebol utilizadas na análise (adaptado de Roca & Ford, 2020).

  

·     Qualidade e rigor da investigação

Para aumentar o rigor metodológico do estudo, foi cumprida uma série de passos para assegurar a fiabilidade dos dados (Smith & McGannon, 2018): a seriação dos participantes foi executada através de critérios específicos (qualificações próprias; papel atualmente desempenhado); explicação dos objetivos do estudo antes do começo das entrevistas; o entrevistador tinha uma longa experiência no treino de futebol (14 anos), incluindo o facto de ter sido treinador numa academia profissional de futebol e possuir a licença UEFA A; os coautores atuaram como “amigos críticos” do investigador principal, ao rever e criticar os procedimentos adotados em todas as fases de análise do conteúdo das entrevistas. Foram, também, calculadas as fiabilidades intra e interobservador para a análise das tarefas práticas propostas pelos treinadores, sendo os valores de concordância ambos muito elevados (k = 1.0; k = 0.81, respetivamente).

 

Principais resultados

Os resultados deste estudo permitem (1) estreitar a brecha existente entre a atividade de exploração visual dos jogadores e o design de atividades práticas e (2) introduzir conhecimento aplicado sobre o tipo de exercícios que os treinadores consideram efetivo para desenvolver a exploração visual dos jogadores. A análise de conteúdo dos dados identificou 3 temas fundamentais: a importância da atividade exploração visual, o desenvolvimento da atividade exploração visual e a transmissão da atividade de exploração visual.

 

·     Importância da atividade de exploração visual

No decurso das entrevistas, os treinadores aludiram a jogadores de futebol de elite nos anos mais recentes, como Paul Scholes, Frank Lampard, Andrea Pirlo e Cristiano Ronaldo, para enfatizar a importância da perceção visual no jogo. De facto, a atividade de exploração visual permite que os jogadores orientem efetivamente as suas ações subsequentes com ou sem bola:

 

Treinador 2: Eu penso que é relevante, os jogadores saberem o que necessitam de fazer antes de receber a bola, onde está o espaço, é crucial no suporte do processo de tomada de decisão.

 

Treinador 7: Oh, sem dúvida, o varrer com o olhar é massivo, nós dizemos aos jogadores, e continuamos a dizer-lhes: como podemos acelerar o jogo? Como podemos tornar os nossos passes mais efetivos? Como podemos tornar o nosso jogo mais fluído? E retornamos aos simples pré movimentos, olhar por cima do ombro, ter ideias, fixar imagens antes de receber a bola.

 

Os treinadores manifestaram que a habilidade para jogar com perspetivas de 360 graus é essencial para uma tomada de decisão eficaz, especialmente em certas posições:

 

Treinador 2: Eu não acho que haja uma sessão em que eu não diga aos jogadores “levantam a cabeça, levantem a cabeça, olhem à vossa volta”, não olhar apenas em frente, mas por cima do ombro e chegar aos 360 graus, porque o futebol é 360 graus.

 

Treinador 1: Eu especialmente entendo que é vital para um médio centro, a posição na qual eu próprio joguei e é tão importante saber o que se passa à nossa volta quando estamos no meio do “parque”.

 

·     Desenvolvimento da atividade de exploração visual

Os treinadores entendem que, para que os jogadores desenvolvam atividades de exploração visual proficientes, eles precisam de desenvolver este comportamento desde idades baixas:

 

Treinador 4: Eu considerá-lo-ia como um fundamento do jogo e, quando tu falas acerca dos fundamentos, devem ser trabalhados entre os 5 e os 11 anos de idade. Portanto, para mim, necessita de ser ensinado nessa faixa etária, e não penso que se deva parar a partir de então… tu sabes, quando se olha para o [Andrea] Pirlo, tu nunca alcanças um nível de topo quando entendes que não necessitas de fazer mais isso. (…) tão importante quanto receber competências, é transmitir as competências que ensinas aos 5, 6, 7, 8 e 9 anos.

 

Alguns treinadores questionaram se a atividade de exploração visual pode ser desenvolvida em idades posteriores. Surgiu a dúvida se o desenvolvimento desta competência percetiva em crianças/jovens alguma vez alcance níveis de mestria, caso o comportamento não seja estimulado desde idades jovens:

  

Treinador 3: (…) porque eu não tenho certeza de que se chegares aos 14 sem nunca ter executado o comportamento, que consigas apanhá-lo, não tenho a certeza de que chegues lá. Eu estou a tentar fazê-lo agora com jovens com 16 e 17 anos de idade e não é natural para eles, nunca o fizeram antes, nem nunca lhes foi mostrado antes.

 

Treinador 4: Eu acho que quanto mais tarde começares a fazê-lo, mais difícil se torna.

 

As evidências experimentais parecem contradizer as perspetivas destes treinadores. O potencial para desenvolver atividades de exploração visual na adolescência tardia é suportado por diversos estudos, entre os quais, um mostrou que jogadores Sub-19 exploraram visualmente mais que jogadores Sub-17 em jogos de Campeonatos Europeus (Aksum et al., 2021).

 

·     Transmissão da atividade de exploração visual

Os treinadores exibiram uma atitude positiva para o treino da atividade de exploração visual e para o papel importante que tem no desenvolvimento do jogador. Apesar desta atitude positiva, parece que a maioria dos treinadores não coloca um foco especial nestes comportamentos durante as sessões de treino:

 

Treinador 1: É uma tendência que adoto ao longo das minhas sessões, não diria “oh, esta noite os rapazes vão trabalhar os seus sentidos visuais”. Eu colocaria isso em qualquer sessão que faço.

 

Treinador 9: É interessante porque eu não diria que vou para um treino a pensar que vou desenvolver as competências visuais dos jogadores.

 

Os treinadores mencionaram que utilizam diversos métodos para aprimorar a exploração visual nas sessões de treino. O método mais comum prende-se com o design de exercícios de treino e, especificamente, recorrendo a atividades com oposição:

 

Treinador 4: Os rapazes necessitam de entender o jogo e que o processo de tomada de decisão só vai surgir quando há meia oposição ou oposição e o “scanning” é a base para isso; se eles não sabem o que se passa à sua volta, então não interessa o quão bem eles batem na bola de A para B, porque nunca a vão ter.

 

Os exercícios são uma parte integral do processo de treino e é crucial que os treinadores considerem como é que as tarefas devem ser estruturadas para facilitar a aprendizagem e a aquisição de competências específicas do futebol. Por isso, o facto de alguns treinadores não manifestarem certeza sobre o tipo de exercícios que deve ser proposto para fomentar o desenvolvimento da exploração visual revelou-se surpreendente:

 

Treinador 9: Eu ficaria muito interessado em saber que tipo de exercícios melhoram as competências visuais dos jogadores.

 

O recurso à vídeo-análise é outro passo positivo no processo de treino, uma vez que demonstra que os treinadores trabalham e valorizam outras disciplinas para promover o desenvolvimento do jogador:

 

Treinador 9: Eu gosto de usar clips de vídeo… Eles necessitam de ser capazes de se autorreconhecer. Eu fiz coisas no passado em que levei o meu iPad para a sessão de treino, filmei o jogador por dois minutos, tirei-o da situação e mostrei-lhe exatamente o que pretendia.

 

Treinador 2: Eu posso definitivamente pensar em alguns jogadores com quem tenho trabalhado… ao nível da academia e ao nível da primeira equipa, talvez não varram tão bem o jogo quanto deveriam e eu penso numa situação em que tu possas olhar para destacar na tua análise ou no teu DVD, portanto, tu sentar-te-ias com o jogador e mostrar-lhe-ias visualmente que não está a fazê-lo e também enfatizaria o sucesso quando ele executa o pretendido.

 

Os treinadores admitiram que o questionamento constitui uma ferramenta crucial para desenvolver o conhecimento e a compreensão das competências de pesquisa visual:

 

Treinador 8: O trabalho de Mosston e Ashworth [estilos de ensino] em torno do Q [Question: pergunta] & A [Answer: resposta], descoberta convergente, descoberta divergente, sou muito mais deste tipo de coisas, então vais conseguir através de perguntas e respostas de qualquer maneira. Eu raramente paro os treinos, mas posso falar com as crianças no decurso da sessão, até coisas simples como: quando tocaste lá, ou quando recebeste pela última vez, sabias o que estava atrás de ti? Que outras imagens viste nesse momento? Ou viste aquela pessoa ali?

 

·     Atividades práticas

Cada treinador apresentou um conjunto de exercícios de treino quando foram questionados sobre o tipo de práticas que empregam para desenvolver a atividade de exploração visual. Reuniu-se um total de 33 tarefas de treino estruturadas pelos 9 treinadores (tabela 2).

 

Tabela 2. Frequências e percentagens de atividades com tomada de decisão ativa e não ativa propostas pelos treinadores.


A percentagem de atividades definidas como de tomada de decisão ativa (n = 70%) excedeu a percentagem de atividades de tomada de decisão não ativa (n = 30%). É algo preocupante a evidência de que cerca de um terço das tarefas desenhadas para melhorar competências de perceção visual seja classificado de tomada de decisão não ativa. Somente foram propostos 3 (9%) exercícios para a manutenção exclusiva da posse de bola, enquanto 17 (52%) foram classificados como jogos reduzidos/condicionados. A visão dos treinadores sobre a importância dos jogos reduzidos/condicionados foi encarada como positiva, já que as oportunidades de ação (affordances) que emergem são mais consistentes com o que ocorre em situação de jogo formal.

 

Aplicações práticas

Em estudos prévios já foi comprovado que os melhores jogadores, pelo menos aqueles que receberam um prémio de prestígio internacional na sua carreira, apresentam mais comportamentos de exploração visual do envolvimento em jogo relativamente aos seus pares (Jordet et al., 2013). Assim, é fundamental que os treinadores reconheçam quais são os atributos-chave que fazem com que jogadores sejam bem-sucedidos ao nível da elite. Este saber pode ajudá-los no processo de treino e a fornecer aos aprendizes modelos para que possam observar bons hábitos de suporte ao seu desenvolvimento. 

Recorrer ao questionamento é importante, sem dúvida; porém, conforme verificado no exemplo suprarreferido do treinador 8, os técnicos fazem predominantemente questões convergentes, comparativamente a questões divergentes, que tendem a promover mais o pensamento crítico e a reflexão (O’Connor et al., 2021; Partington & Cushion, 2013). Os treinadores devem ir além da simples evocação do que os jovens viram ou fizeram e da importância excessiva atribuída à obtenção de uma resposta imediata. Neste sentido, sugere-se que os treinadores antecipem a sua intervenção e/ou beneficiem de apoio no planeamento das questões a colocar, por forma a aumentar a eficácia das mesmas no desenvolvimento do desempenho do jogador. 

A necessidade de criar e aplicar tarefas de aprendizagem representativas foi um ponto bastante enfatizado. Para estimular e refinar competências do foro percetivo, é essencial que as tarefas práticas envolvam os jogadores em contextos informacionais funcionais, que proporcionem espaços, brechas, relações angulares, distâncias interpessoais, sincronização ou perturbações entre companheiros de equipa e adversários. Para encorajar o desenvolvimento da exploração visual, também é recomendado que sejam propostas atividades com tomada de decisão ativa específicas para as diferentes posições de jogo (por exemplo, os comportamentos de exploração visual dos médios-centro diferem daqueles que são executados por jogadores que atuam em posições mais periféricas: defesas laterais/extremos). 

Não é lógico, nem coerente, preparar exercícios com tomada de decisão não ativa (i.e., atividades que não contenham elementos que determinem a tomada de decisão dos jogadores como ocorre no jogo formal) para desenvolver competências visuais nos jogadores. Essas atividades não requerem que os jogadores pesquisem ativamente o envolvimento para identificar oportunidades de ação. A necessidade de “olhar sobre o ombro” ou “adquirir uma visão a 360 graus” cai por terra quando os jogadores já sabem com exatidão o que têm de fazer a seguir antes de receber a bola (e.g., exercícios padronizados). 

A promoção de comportamentos de pesquisa visual no treino deve estar devidamente alinhada com o nível do praticante. Por exemplo, a redução excessiva da área de jogo individual numa situação reduzida de 3v3 (40 m2/jogador), com crianças Sub-8 em fase de iniciação, produzirá contextos de pressão que não facilitam o “levantar a cabeça” e o “varrer o jogo com o olhar” (exploração visual). Por outro lado, à medida que os praticantes se tornam mais competentes, a criação e a intensidade dos contextos de pressão devem ser cuidadosamente ponderadas sem que, acima de tudo, se comprometa o princípio da representatividade da tarefa.

 

Conclusão

O propósito deste estudo foi aprofundar o entendimento sobre as atividades práticas propostas por treinadores experientes a trabalhar em academias de futebol profissionais, no intuito de melhorar os comportamentos de exploração visual no processo de formação de jovens jogadores. A investigação debruçou-se sobre (a) a perceção que os treinadores de futebol têm da atividade de exploração visual e (b) as tarefas práticas produzidas pelos treinadores para aprimorar a perceção visual dos jovens. Os principais resultados traduzem-se nos seguintes pontos: 1) os treinadores consideraram a atividade de exploração visual como uma parte integrante da performance do jogador, que deve ser treinada desde idades baixas; 2) alguns treinadores não entenderam ser necessário focar particularmente a perceção visual nas sessões de treino; 3) a melhor forma de intervir para fomentar estes comportamentos é através do design de atividades práticas, que podem ser suportadas por adereços visuais, vídeo-análise e questionamento. As estratégias de intervenção no treino devem continuar a evoluir para que os jogadores possam desenvolver as suas competências em consonância com as exigências do jogo. No futuro, a investigação deve centrar-se no impacto de diferentes tarefas de treino na atividade de exploração visual do jogador e no transfer para a performance em competição.

 

P.S.:

1-  As ideias que constam neste texto foram originalmente escritas pelos autores do artigo e, presentemente, traduzidas para a língua portuguesa;

2-  Para melhor compreender as ideias acima referidas, recomenda-se a leitura integral do artigo em questão;

3-  As citações efetuadas nesta rúbrica foram utilizadas pelos autores do artigo, podendo o leitor encontrar as devidas referências na versão original publicada na revista International Journal of Sports Science & Coaching.

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