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27/10/2020

“Jogar” com o oponente – Interpretação dos “sinais” e adaptação num esquema tático (bem-sucedido)

Num texto recentemente publicado no Linha de Passe: “Pontapés de canto longos e alternativas – motivos para diversificar”, foi enfatizada a importância de “desposicionar” as equipas adversárias do seu método defensivo, através de pontapés de canto batidos de modo indireto (“curtos”), a fim de retirar dividendos ofensivos. Para ilustrar esse texto, adicionei um vídeo de um golo que a equipa de Sub-17 (Juvenis A) do Portimonense SC marcou diante do Louletano DC, na época 2017/2018, e que, na ocasião, valeu a reviravolta (2-1) num jogo muito competitivo. Passo a recuperar essas imagens:

 


Se a premissa que originou a execução do método indireto foi explanada na publicação supramencionada, as estratégias e os meios de treino que estiveram na origem das decisões tomadas pelos jogadores constituem o objeto da presente análise. Em primeira instância, que fique claro que as ações dos nossos jogadores no esquema tático decorreram da autonomia decisional que lhes fora concedida, não pressupondo qualquer interferência prévia da equipa técnica, a não ser na definição de alguns posicionamentos de referência e das zonas de ataque à bola para finalizar. Em suma, a solução encontrada foi uma novidade para nós. Sabíamos e expusemos, de antemão, que: (1) a estratégia adversária passava por ocupar espaços vitais dentro da área de penálti, mediante um método à zona composto por 9 jogadores de campo e o guarda-redes; (2) quando instalados nas posições de referência do método defensivo, os jogadores oponentes eram habitualmente eficazes no jogo aéreo.

 

“Jogar” com o oponente

Diz-se nos meandros do treino desportivo que jogamos com os companheiros de equipa e contra a equipa ou os jogadores contrários. O “jogar” com o oponente significa tirá-lo das suas zonas (e ações) de conforto. E este “jogo do gato e do rato” pode resultar de opções estratégicas ponderadas antes do jogo, geralmente por parte da equipa técnica, ou de ações táticas dos jogadores que emergem no decurso do mesmo. Os jogadores, além de serem os agentes táticos por excelência, na medida em que são eles que solucionam os problemas contextuais que o jogo suscita, podem reforçar o estatuto de protagonistas se também forem estrategas dentro do campo. E esse é um fator que pode ser treinado e rentabilizado no treino, ao invés do que é admitido pela maioria dos treinadores. 

Voltando ao caso em análise, a nossa equipa já tinha usufruído de alguns pontapés de canto antes deste golo, contudo, a equipa adversária havia conseguido superiorizar-se nesses lances. Aproveitando a interrupção da partida por lesão de um jovem jogador, recordo-me de ver os nossos responsáveis pela marcação das bolas paradas a trocar impressões e a gesticular para os colegas no interior da área. Posteriormente, um dos executantes (esquerdino) dirigiu-se para o banco adversário e pediu para beber água, enquanto o outro (destro) tomou posição junto ao quarto de círculo (figura 1). 

 

Figura 1. Engodo criado pelos jogadores antes da execução do pontapé de canto bem-sucedido.

 

A ida ao banco para beber água foi um pretexto inteligente que o nosso jogador usou para adquirir vantagem posicional para o que havia combinado com os companheiros. O engodo criado, que ocorreu de forma autónoma e espontânea, visava atrair os adversários para fora da sua zona de conforto (i.e., posições no interior da área). Ficámos surpreendidos e bastante satisfeitos pelo desenlace da situação, porque, embora não tenhamos tido responsabilidade direta na solução encontrada para o esquema tático, potenciámos o pensamento estratégico e a liberdade dos jogadores no processo de treino.

 

Interpretação dos “sinais” e adaptação comportamental

No início da época, com pouco tempo de trabalho, propusemos tarefas de treino mais fechadas no que às situações fixas do jogo diz respeito, ou seja, com posicionamentos mais rígidos, zonas de ataque à bola religiosamente estabelecidas e sinaléticas associadas à forma de marcação do esquema tático (p. ex., um braço levantado para cruzamento ao 2.º poste, tocar na meia para saída “curta” ou mãos atrás da cabeça para despoletar “combinação tática”). Em cada microciclo não trabalhámos todos os esquemas táticos, uma vez que incidíamos rotativamente sobre um ou dois, consoante o planeamento efetuado e as necessidades da equipa. No microciclo do jogo em questão, apresentámos dois objetivos específicos para pontapés livres laterais e lançamentos laterais, a cumprir num exercício do último treino da semana, com 3 repetições de 8 minutos (figura 2). 

 


Figura 2. Método específico de preparação – jogo Gr+10v10+Gr (50x65m; 147,7 m2/jogador).

 

Acontece que, depois de instruída a situação de jogo reduzido/condicionado e divididas as equipas, os jogadores tinham a responsabilidade de definir os métodos ofensivos e defensivos subjacentes aos esquemas táticos, sem o conhecimento da equipa oponente. A condicionante utilizada foi que as equipas repunham a bola em jogo, após a bola sair fora ou ser cometida uma infração, através de pontapé livre lateral ou lançamento lateral indicado pelo treinador. Aos métodos adotados por uma equipa sucediam-se adaptações comportamentais constantes da outra equipa, fomentando o foco atencional de atacantes e defensores e a leitura dos “sinais do outro”. Se, por exemplo, uma equipa optava por uma reposição indireta (“curta”), os atacantes na área deveriam temporizar as suas ações para explorar os espaços vitais no momento oportuno (figura 3), ou procurar uma outra posição que lhes permitisse aumentar a probabilidade finalizar com êxito. Por sua vez, os defensores deveriam pressionar para condicionar a leitura e a execução do portador da bola sem, no entanto, perder o controlo do espaço em largura e profundidade. Entre cada repetição, treinadores e jogadores debatiam as opções estratégicas tomadas, encorajando ou corrigindo alguns detalhes, sendo que os melhores “projetos” poderiam ser aplicados em jornadas futuras.

 

Figura 3. A temporização no deslocamento para espaços vitais no interior da área de penálti para não incorrerem em fora de jogo.

 

Não tenho dúvidas que o golo que a nossa equipa marcou resultou do tipo de “tarefa aberta” que foi regularmente proposto nas sessões de treino, ao longo dos microciclos semanais. Defendo, sem hesitação, que estas tarefas de treino apresentam um conjunto de valências que não são de ignorar no processo de formação no futebol ou noutra modalidade coletiva, designadamente:

 

· Mantêm a dinâmica sequencial típica do jogo, pois garantem que momentos de transição (ofensiva/defensiva) e fases de organização (ofensiva/defensiva) sucedam à marcação de um esquema tático;

·  Promovem a responsabilidade e a autonomia dos jogadores, porque são os próprios que executam as estratégias que conceberam;

·  Desenvolvem a leitura e inteligência de jogo, tal como o pensamento estratégico, desde idades jovens – “em cada praticante, há um mini treinador”;

· Potenciam o transfer de soluções inovadoras e mais bem interpretadas pelos praticantes para o contexto competitivo.

 

Ao “puxarmos” as crianças ou os jovens para a tomada de decisão estratégica estaremos, também, a aprofundar o conhecimento do jogo enquanto treinadores. Partilhar e confrontar perceções e raciocínios com os outros induz a reflexão e a aprendizagem. E é um facto que as mentes jovens são capazes de produzir ideias absolutamente fascinantes.

01/04/2020

Futebol, saudade e surpresa num exercício de treino

Após 14 anos ininterruptos ligado ao futebol de formação, no qual representei três clubes distintos como treinador – Atlético CP, JD Monchiquense e Portimonense SC –, tomei a decisão de fazer uma pausa sabática na presente época. Quis a ironia o destino que este maldito COVID-19, à data com quase 900 000 infetados e 45 000 mortos, colocasse boa parte da população portuguesa, europeia e mundial em quarentena.

O futebol que, desde cedo, fez parte da minha vida, parou totalmente. Se a saudade já apertava por não estar diretamente envolvido no fenómeno, agora, confinado entre quatro paredes, adquiriu outra magnitude. Porém, num dia de arrumações invulgares, remexendo em “águas passadas”, encontrei uma surpresa (figura 1), que me transportou para uma memória feliz do futebol: a avaliação prática das disciplinas Técnico-Tática e Metodologia do Treino, do curso de treinadores UEFA Basic (Grau II), promovido pela Associação de Futebol do Algarve, há uns anos.
  
Figura 1. O ovo contendo o “exercício-surpresa” a construir.
(clique para ampliar)

Após cada formando tirar à sorte um “exercício-surpresa”, de entre 36 hipóteses, a avaliação consistia em construir o exercício em 10 ou 15 minutos (não me recordo bem), de acordo com as breves informações facultadas e considerando o modelo de jogo previamente elaborado. O acaso ditou um exercício do Grupo 2 – Manutenção da Posse de Bola: Conceptualize um exercício de treino para a manutenção da posse da bola utilizando um espaço reduzido de jogo, e com 3 equipas.

Para além da conceção do exercício decorrer sob pressão temporal, tínhamos de equacionar todos os seus elementos, incluindo a formação das equipas, para expor, orientar e discutir em sessões práticas subsequentes. Sem margem para dúvida, foi uma das tarefas mais aliciantes do curso. Apresento em seguida a minha proposta (figura 2).

Figura 2. Representação esquemática do exercício proposto.

Características estruturais
Formato: Gr+3v3+Gr+3NT (2 neutros exteriores + 1 neutro interior)
Espaço: 25x20m (55.6 m2/jogador)
Duração: 3 x 4’ (1’ recuperação passiva entre reps)
Volume: 14’
Densidade: 1 : 1/4
Condicionantes: (1) neutros (NT) jogam, no máximo, a 2 toques/intervenção sobre a bola; (2) no processo ofensivo, é obrigatório circular a bola pelos 2 NT exteriores (linhas laterais); (3) a equipa em posse tem de realizar, no mínimo, 6 passes consecutivos para poder finalizar.
Variantes: (1) condicionar todos os jogadores a jogar, no máximo, a 2 toques/intervenção; (2) aumentar o número mínimo de passes para se poder finalizar (8-10); (3) impossibilitar a realização de passe de retorno ao último portador da bola; (4) solicitar cada NT apenas uma vez durante cada ataque.

Objetivos
(1) Potenciar o jogo apoiado, recorrendo ao triângulo como unidade estrutural funcional;
(2) Privilegiar a execução de receções orientadas e passes curtos;
(3) Estimular o cumprimento constante dos princípios específicos cobertura ofensiva e mobilidade;
(4) Em transição ofensiva, retirar rapidamente a bola de zonas de pressão adversária, variando o ângulo de ataque à baliza contrária.

Relação com o modelo de jogo
Estrutura tática de base: 1-4-3(1-2)-3. Pretendemos que a equipa jogue predominantemente em ataque posicional, fazendo do triângulo a unidade estrutural e funcional de referência. Em organização ofensiva, circular a bola com velocidade e precisão (receção orientada e passe curto), obrigando a equipa oponente a basculações sucessivas (variação do ângulo de ataque à baliza oponente). O cumprimento dos princípios cobertura ofensiva e mobilidade é essencial para circular a bola com segurança e, posteriormente, criar espaços para finalizar em golo. Em transição ofensiva, reforçar o seguinte princípio geral do modelo de jogo: «retirar a bola rapidamente da zona de pressão adversária». Após a recuperação da bola, a equipa deve circulá-la para espaços menos congestionados e mais seguros para elaborar o processo ofensivo.

Planeamento
Sessão de treino: incluir na Parte Fundamental, imediatamente após a Parte Preparatória.
Microciclo: incluir na sessão de quarta-feira, tendo jogo oficial ao domingo (-4 dias).

Zona de intensidade alvo
80-90% FC máx.; PSE: 8/9.

Regime
Força específica.

Equipas

O melhor, no entanto, foi a camaradagem, a partilha de conhecimentos e experiências, e aquele cheiro tão característico da relva. O futebol, a saudade e a surpresa imiscuídos num simples exercício… para a posterioridade.

Para todos os meus companheiros de curso e formadores: um abraço e votos de saúde e muito sucesso!

05/01/2014

Eusébio partiu, mas o seu legado perdurará

O primeiro texto de 2014 é uma curta homenagem a Eusébio. O dia 5 de janeiro de 2014 é marcado pelo seu falecimento, porém, o legado que deixa no futebol português perdurará por longas décadas. O seu contributo foi fundamental para que o nome do Sport Lisboa e Benfica se erguesse no panorama europeu e para que Portugal constasse no mapa do futebol mundial. No que diz respeito a esta modalidade desportiva, o que o «pantera negra» fez está apenas ao alcance de predestinados, de génios.

Imagem: A estátua de Eusébio por Vasco Duarte (fonte: olhares.sapo.pt).

Não tive oportunidade de o ver jogar (ao vivo), mas fica para a posterioridade alguns dos seus números:

· 638 golos em 614 jogos oficiais (média de 1,04 golos/jogo);
· Ganhou 11 Campeonatos Nacionais (1960-61, 1962-63, 1963-64, 1964-65, 1966-67, 1967-68, 1968-69, 1970-71, 1971-72, 1972-73 e 1974-75);
· Conquistou 5 Taças de Portugal (1961-62, 1963-64, 1968-69, 1969-70 e 1971-72);
· Venceu 1 Taça dos Campeões Europeus (1961-62);
· 3 vezes finalista vencido na Taça dos Campeões Europeus (1962-63, 1964-65 e 1967-68);
· 3 vezes melhor marcador da Taça dos Campeões Europeus (1965, 1966 e 1968);
· 7 Bolas de Prata (record nacional) em 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970 e 1973;
· 2 Botas de Ouro (1968 e 1973);
· 1 Bola de Ouro (1965).

Tão impressionante como observar algumas das suas jogadas e os seus golos:


Até sempre, Eusébio!

30/12/2013

Um feito em 31

Faz hoje 31 anos que nasceu.
 
Lembro-me de nós, em crianças, a correr atrás da bola e a andar de bicicleta na pista do cerro do alto de São Roque. Recordo-me, mais que tudo, das aventuras. A vida, por essa altura, era uma aventura… feliz! Passados que estão 20 anos, somos tudo e não somos nada. Eu, por exemplo, gosto de jogar futebol, mas jamais entrarei num estádio repleto de adeptos entusiastas para me ver jogar; gosto de treinar jovens, mas estou a milhentas léguas de possuir a competência e o conhecimento de José Mourinho; gosto de “arranhar” na guitarra, mas fascina-me quem sabe “solar” de cima a baixo, e de forma melódica, nas cordas do instrumento. Ele não, tem jeito para a escrita; aliás, muito jeito para a escrita. Talento puro. Todos veem isso, mas ninguém se parece importar muito. Os «muito bons» comentados no facebook, as palmadinhas nas costas acompanhadas de singelos «escreves bem, pá!», são simpáticos, porém, manifestamente insuficientes.
 
Tenho para mim que uma arte somente adquire expressão quando é mostrada ao mundo, quando é exposta para todos podermos apreciar. Que beleza teria o Mosteiro dos Jerónimos envolto em tecido negro? O que falta é isso mesmo: mostrar ao mundo, sob a forma de obra. Um livro publicado far-lhe-ia alguma justiça, mas não toda. Infelizmente, é muito mais fácil criticar e/ou subestimar; é mais cómodo. É precisamente por esse motivo que as pessoas são melhores depois de mortas; dão menos trabalho.
 
Revolta-me poder fazer pouco. Talvez o pouco de alguns, um dia, possa ser suficiente para lhe prestar o devido reconhecimento, colocando à margem os incautos egocentristas que não veem, ou fazem, maliciosamente, de conta que não veem. Provas? Têm-nas no blogue Terra Ruim, em prosa ou em poesia; é à vontade do freguês.
 
Um dia, digo eu.
 
E porque a vida é um caminho, que se faz caminhando, espero que bem aprecie esta “aventura” escrita:
 
Imagem: Capa de Patagónia Express de Luis Sepúlveda (Porto Editora, 2011).

Parabéns, amigo Eduardo Duarte!

10/06/2013

Aprendizagem de bolas paradas no futebol juvenil: O caso dos pontapés de canto

As situações de bola parada, também designadas de situações fixas ou estáticas do jogo, são determinantes para o desfecho final de inúmeras partidas. Este é um facto que parece ser unânime entre treinadores, jogadores e investigadores da modalidade. Por exemplo, Yiannakos e Armatas (2006) comprovaram que 35.6% dos golos marcados no Euro 2004, que decorreu em Portugal, resultaram de bolas paradas (pontapés de canto, pontapés livres, grandes penalidades e lançamentos laterais). Da totalidade dos golos obtidos de bola parada, a maior percentagem (40%) foi concretizada através de pontapés de canto. Deste modo, estas situações fixas do jogo, neste texto com especial referência aos pontapés de canto, não devem ser negligenciadas no processo ensino-aprendizagem da modalidade de futebol junto dos mais jovens.

Não é invulgar o debate entre treinadores acerca de como ensinar as crianças/jovens a lidar, ofensiva e defensivamente, com os eventos de bola parada. Há quem treine, repetida e exclusivamente, bolas ao segundo poste, com a “entrada” do melhor cabeceador nessa zona; há quem refira que o melhor é “sair a jogar curto”, cabendo depois a decisão ao portador da bola de dar sequência à jogada; há quem treine n “sinais” que desencadeiam situações padronizadas com vista à obtenção do golo. Pessoalmente, não sigo estritamente nenhuma das opções anteriores, mas dou azo a que aconteça um pouco de todas, através da descoberta guiada.

O exercício é simples: formar duas equipas e conceder três pontapés de canto, de cada lado, a cada uma delas. Seis situações ofensivas e seis situações defensivas. Antes do “jogo do canto”, deixo as equipas reunirem para, entre os seus elementos, decidirem como defender (zona, individual ou mista) e como atacar (com ou sem sinais, bola longa, bola curta, jogada combinada, etc.). No final do exercício tiramos em conjunto as devidas ilações, no sentido de potenciar os aspetos positivos e corrigir os negativos. As crianças/jovens são induzidas a aprender aspetos estratégicos do jogo, ao mesmo tempo que estimulam a sua criatividade e lidam com circunstâncias contextuais imprevistas. Posteriormente, o treinador tem a missão de resumir toda a informação num quadro de ações coletivas (abertas ou fechadas), passíveis de representarem a sua filosofia do jogo e as convicções dos seus jovens praticantes.

Há sensivelmente dois anos, no dia 12 de junho de 2011, os miúdos que treinava no JD Monchiquense colocaram em prática as nossas ideias. Houve sinal, houve “bola curta” e, ao primeiro minuto de jogo, passaríamos a vencer a final de um torneio infantil de futebol 7. Mais importante do que o resultado da partida, foi demonstrarem todo o seu entendimento do jogo num contexto de elevada tensão. Eis a memória em vídeo e esquematizada:

 
Esquema: Sequencialização dos comportamentos coletivos que determinaram o golo de pontapé de canto na final do Torneio Infantil das Eiras, em junho de 2011 (p. f., clique na imagem para ampliar).

Começou com uma sinalética para chamar o jogador situado ao primeiro poste (10). O jogador 10 poderia “rodar” sobre o adversário direto, guardar a bola ou devolver ao jogador 4. Decidiu devolver ao marcador do canto que, após a combinação tática direta, poderia cruzar, rematar de pronto ou driblar para dentro para enquadrar com a baliza e obter melhor ângulo de remate. Tomou a última opção e fê-lo com sucesso. Entretanto, os jogadores no interior da área optaram por abrir linhas de passe ao jogador 4, fora da grande área. A meu ver, um erro. Um dos dois deveria ter ficado no interior da área e procurado a recarga, caso o guarda-redes defendesse de forma incompleta.

É neste âmbito que eu entendo a descoberta guiada como um meio muito enriquecedor para o ensino/aprendizagem do jogo, incluindo as bolas paradas e, em particular, os pontapés de canto. Certamente que não é exclusivo no que implica à obtenção de êxito (formativo), nem o único digno de referência, mas é muito oportuno, sobretudo nos escalões de formação de base.

Referência
Yiannakos, A., & Armatas, V. (2006). Evaluation of the goal scoring patterns in European Championship in Portugal 2004. International Journal of Performance Analysis in Sport, 6(1), 178-188.

18/10/2012

A ausência de um “10” na seleção portuguesa

Para quem, nos anos mais recentes, viu Rui Costa ou Deco a jogar pela seleção portuguesa, de imediato reconhecerá a falta que faz um jogador com características de um “10” no meio-campo de Portugal.
 
Foto: Rui Costa a atuar por Portugal (retirado de www.google.pt).

Até ao momento, as quatro jornadas da qualificação para o Mundial 2014 – isto sem esquecer o magnífico Euro 2012 realizado pela seleção – demonstraram que, por muita qualidade que possam ter João Moutinho, Raúl Meireles e Miguel Veloso (os habituais titulares), nenhum deles é verdadeiramente um “10”.
Destaco, acima de tudo, predicados como a criatividade, a espontaneidade e a inteligência de jogo que distinguem os grandes craques que envergam ou envergaram a camisola “10”. Em conjunto, estes atributos possibilitam que um “10” saiba encontrar (e concretizar eficazmente) soluções para problemas contextuais do jogo que poucos (ou nenhum) companheiros de equipa conseguiriam discernir e executar. São estes jogadores que jogam e fazem jogar uma equipa; contagiam um jogador menos evoluído, técnica ou taticamente, a praticar um futebol vistoso e, simultaneamente, objetivo. São estes jogadores que melhor entendem os ritmos de jogo: quando é preciso circular mais a bola para recuperar ou pacientemente conduzir a equipa adversária a entrar em desequilíbrios defensivos; ou quando é necessário acelerar processos para aproveitar desequilíbrios já presentes na estrutura defensiva oponente (ataque rápido ou contra-ataque). São estes jogadores que só sabem jogar bem!
Sem desprimor para qualquer um dos excelentes médios que figuram nas opções iniciais de Paulo Bento, não temos um “10” em Portugal. A ausência das ideias de um “10” ficou por demais evidente diante da Rússia e da Irlanda do Norte. E que jeito daria um Rui Costa ou um Deco a Cristiano Ronaldo e a Nani nas alas. As cotações (leia-se, performances) destes jogadores na seleção subiriam em flecha.
Por último, não posso deixar de fazer figas para que as gerações futuras do futebol português sejam mais prendadas que esta no que toca à matéria de um “10”: uma espécie em vias de extinção que urge preservar e… saber formar.

23/08/2012

O talento de Messi numa só jogada



Messi, o talento argentino do FC Barcelona. Nunca escondi a profunda admiração que nutro pelo futebolista. Contra o Bayer Leverkusen, na edição transata (2011/2012) da Liga dos Campeões, embora não tenha concretizado golo, demonstrou todo o seu génio numa só jogada. Criatividade, iniciativa, capacidade técnica e velocidade ao serviço do futebol. Desde o compasso de espera à "picadinha" por cima do guarda-redes alemão, passando pela aceleração e pelo drible, tudo parece simples; tudo é anedoticamente fantástico!
 
Definitivamente, Cristiano Ronaldo seria o melhor jogador do mundo, se não houvesse neste mesmo período da história da modalidade um senhor chamado Lionel Messi.

19/08/2012

O meu ídolo? Só um: João Vieira Pinto.

Foi outrora, e durante o período da minha infância, a única personalidade que me levou a colar posters nas estantes do meu quarto. João Vieira Pinto: o menino de ouro na altura, ou o pequeno génio como também era chamado. Um jogador cheio de talento, que muito deu ao Sport Lisboa e Benfica e acabou escorraçado por um senhor ainda a contas com a justiça portuguesa: Vale e Azevedo.

Foto: João Vieira Pinto (fonte: http://epluribusunum1904.blogspot.com).

Para além do Benfica, representou o Boavista, Atlético de Madrid, Sporting e Sporting de Braga. Venceu títulos em todos eles. Na seleção nacional Sub-20 foi bicampeão mundial (1989 e 1991) e na seleção A foi internacional 81 vezes, rubricando exibições de luxo e apontando um total de 23 golos, alguns deles espetaculares.

Atualmente é dirigente na Federação Portuguesa de Futebol. No dia de hoje – 19 de agosto de 2012 – celebra o seu 41º aniversário. Em jeito de homenagem a este enorme talento do futebol português deixo-vos as incidências da partida que mais vividamente brota da minha memória e na qual, claro está, João Vieira Pinto brilhou (Sporting 3 - 6 SL Benfica; campeonato nacional, época 1993/1994).
 

Parabéns e o meu muito obrigado pelo encanto que era ver-te jogar.

27/07/2009

A infância que vale por uma vida

Arrisco-me a dizer que a infância é o melhor período da nossa vida. Não quero com isto ferir susceptibilidades; eu sei que há infâncias e infâncias. Mas se fizéssemos um estudo sobre "taxas de felicidade pura" nas diversas etapas da vida, atrevo-me a prognosticar que na infância se obteriam os valores mais elevados.

Em primeiro lugar, seria necessário definir o conceito de "felicidade pura". Na minha modesta opinião, não é um sentimento de fácil descrição, mas perfeitamente identificável quando acontece. Lembro-me que, durante a minha infância, todas as tardes sentia a "felicidade pura" e, sem preocupações, lá partia libertino para mais um período de brincadeira.

Contudo, os anos passam, as responsabilidades aumentam e a liberdade restringe-se. A liberdade de fazer o que nos apetece, sem pensar em problemas, em trabalho, ou neste e naquele pormenor que não pode ser descurado.

Não me parece que seja um sentimento exclusivo da minha pessoa, porque quando observo crianças a brincar consigo identificar-lhes a "felicidade pura". Só existem elas e o momento. Somente o presente interessa. Não há futuro e o passado, por mais horrendo que seja, desvanece-se. O mundo pára e elas ali estão... verdadeiramente felizes.


13/06/2009

Da condição humana, ninguém se livra

Estava a ler um artigo e subitamente lembrei-me de um episódio, no mínimo, hilariante. Numa aula do mestrado, o conceituado professor de uma cadeira extremamente secante, muito entusiasmado pela matéria que estava a leccionar, decidiu apelar aos alunos que procurassem no google a seguinte expressão: "ten mil steps".

De entre a soberba gaffe "portinglesa", a cumplicidade dos olhares cruzados e as gargalhadas mudas que foram dadas naquela sala somente nos confirmam que da condição humana, ninguém jamais se livra. :)

28/01/2008

Nirvana - Heart-Shaped Box

Com muita pena minha, nunca terei a oportunidade de os ver ao vivo, mas fica o registo:

Hey!

Wait!

I've got a new complaint

Forever in debt to your priceless advice

28/11/2007

A Criança, a Fantasia e o Pai Natal.

Diariamente trabalho com inúmeras crianças e jovens, desde os 2 aos 16 anos de idade. Uma das perguntas que tenho por hábito fazer aos mais novos, é: "O que queres ser quando fores grande?". Médico, futebolista, polícia, condutor de camiões, enfermeira, piloto de aviões, astronauta e biólogo marinho, são algumas das profissões mencionadas.

Apesar de achar imensa graça às respostas, umas mais hesitantes que outras, faço sempre um esforço para nunca me rir ou gozar com elas. Pelo contrário, procuro sempre incentivar a criança a seguir o seu sonho, por muito difícil que seja. Se é possivel eu vencer o Euromilhões na sexta-feira, é muito mais provável que uma destas crianças consiga alcançar este seu "sonho de infância".

A vida é bela porque estamos sempre a aprender. Há uma dúzia de anos, pertencia eu, juntamente com alguns amigos da minha terra natal, ao clube local - o Juventude Desportiva Monchiquense - quando em dia de jogo, um dirigente fez questão de ir ao balneário para "dar moral à malta". Éramos crianças. Algures no seu discurso disse: "(...) nenhum de vós será um jogador profissional.". Realista. De facto, os poucos que chegaram aos séniores, nenhum passou dos distritais, contudo recordo-me das expressões tristes e cabisbaixas dos meus colegas e da minha desilusão. Quem não queria ser jogador de futebol naquele grupo?

Ser sincero e realista não são qualidades negativas num adulto, porém quando lidamos com crianças, é necessário sermos sensíveis às suas fantasias e aos seus processos de crescimento e maturação. É tremendamente cruel privar qualquer criança de um sonho, por muito estúpido que possa parecer.

Na minha opinião, devemos ir alimentado esses sonhos, sem ansiedades e sem expectativas demasiado elevadas, uma vez que em determinado momento da nossa vida, variável de sujeito para sujeito, todos nós deixamos de acreditar no Pai Natal.

19/08/2007

Opeth - To rid the disease (2003)

Os suecos Opeth, não sendo uma banda muito conhecida no panorama nacional, deram os primeiros passos no mundo da música em 1990. O seu estilo é bastante marcado pelo heavy metal, mas também com influências de jazz, rock progressivo, blues e folk. Esta música faz parte do alinhamento do albúm Damnation, lançado em 2003. Neste registo, a banda procurou mostrar a vertente mais melódica da sua sonoridade, abulindo a distorção característica das suas guitarras e os tons graves do seu vocalista Mikael Åkerfeldt.

Na minha opinião, uma boa música é aquela que tem a capacidade de "mexer" connosco, isto é, de "brincar" com as nossas emoções, quer através da sua letra e/ou da sua sonoridade. Sempre que ouço este tema fico todo arrepiado, mesmo não estando ligado a nenhum episódio marcante da minha vida... pelo menos que conste no meu consciente.

17/06/2007

Imagens do Corpo.

- Olá, bom dia! Como estás? – pergunto à Monalisa, em pleno museu do Louvre, Paris. Ela não responde, permanecendo imóvel com o seu olhar misterioso.

- Tens algo para me dizer, eu sei... aproveita agora que não está aqui ninguém – continuo, sussurrando. Mas ela... nada!

- Queres fazer "jogo" comigo é? – pergunto irritado, e continuo: – Pensas que me podes ignorar, tal como fazes com os milhares de corpos que ano após ano te veneram? Pois fica sabendo que tu não passas de tela e óleo, nunca sentiste, nunca cheiraste, nunca ouviste, nem nunca provaste. Só vês! Conheces de cor todos os cantos deste átrio, mas eu posso sentir a chuva a cair, cheirar o perfume da rosa, ouvir o cântico dos melros ou fazer caretas ao provar a acidez do limão.

Mais uma vez sou ignorado, é inútil... ela não me ouve.

Entretanto, aproxima-se um grupo de turistas para ver o célebre quadro. Diante da tela, mergulham como que hipnotizados na imagem daquela rapariga enigmática. Nem me olham! Porquê? Eu era o único corpo que estava presente! Será que é por ser igual a eles que não reparam? E se por artes mágicas o meu corpo fosse estampado num quadro e exposto ao lado dela? Passaria de três para duas dimensões, mais nada! Ah... e deixaria de sentir, ouvir, provar ou cheirar... apenas iria ver, durante 5, 10, 100 ou 1000 anos, milhares de corpos no “pára-arranca” com a mesma paisagem de fundo. Sentir-me-ia bem? Nem sequer me iria sentir, o meu mundo enquanto corpo terminaria no processo de estampagem de mim próprio.

Lanço um último olhar ao quadro, a pintura representa um corpo que está ausente, não se manifesta. De facto ele quer-nos dizer qualquer coisa, mas nós nunca saberemos o quê, pois simplesmente não habita nos padrões psicofisiológicos da nossa realidade. Resumindo: é material... só e somente!

Sorrio perante tal raciocínio e deixo o local. Subitamente, perdi a vontade de ver qualquer quadro ou peça de arte... hoje não é dia para isso. Antes de sair, imagino-me ali mesmo, estampado ao lado da Monalisa... e se de honra falássemos, ficaria muito lisonjeado, mas como prevalece a existência... prefiro viver, sentindo!

07/06/2007

The Cranberries - Zombie (1994)

And the violence caused such silence,

Who are we mistaken?

(...)

With their tanks and their bombs

And their bombs and their guns.

In your head, in your head, they are dying...

29/04/2007

The Crow (1994)

Um filme de antologia, uma banda sonora memorável e um contexto trágico inundado de misticismo. Foi-me marcante, vi-o dezenas de vezes e visualizar este pequeno clip dá-me um gozo tremendo.

A célebre questão - Victims, aren't we all? - citada no filme, teve e tem o propósito (involutário?) de nos relembrar que até em ficção podemos morrer ou viver na realidade. Brandon Lee foi vítima disso mesmo, morreu ao fazer este filme, na sua grande e única oportunidade de saltar para o estrelato. Apesar das consequências trágicas, afirmou-se no mundo cinematográfico e deixou um legado intransponível para as sequelas de The Crow produzidas.

22/10/2006

Linguagem e corpo: a rapariga de azul.

Entrámos na Disco às 4h da manhã. Na verdade, a minha vontade não era muita, mas... em nome da amizade, fui solidário. Consumo mínimo, blá, blá, blá... passei pela pista de dança e estabeleci-me no balcão a mirar os corpos que se expressavam no centro daquele pequeno universo.
Varri a sala de lado a lado com o olhar e notei algumas expressões faciais de deleite nos meus parceiros de género, orientadas para um ponto atrás do pilar do lado oposto onde me encontrava. Fiquei curioso. Saí do meu posto, atravessei a pista de dança aos sobressaltos por entre corpos energicamente balanceados pelo ritmo da música e procurei pelo “epicentro” daquela atenção.
Logo, apenas vi grupos de pessoas em pleno acto de comunicação, contudo, havia algo que destoava dos restantes corpos, simplesmente, normais. Por momentos passei os olhos pelo chão cintilante, a luz era tão intensa que me ofuscou. Mas não, não era a luz das “psicadélicas”, era a luz de um corpo cuja profundidade das formas vulgarizava qualquer movimento efectuado naquela altura, naquele lugar. O “epicentro” daquele sismo de emoções era uma rapariga vestida de azul, um poder tremendo, um campo gravitacional fortíssimo que fixava a visão da maioria dos presentes, masculinos ou femininos.
Perguntei-me como seria possível um corpo mexer com tanto fenómeno fisiológico alheio sem fazer nada de mais, apenas por ser e estar. Na ânsia de responder a tal questão, dei por mim a vaguear em diferenças culturais, expressões corporais, processos psicológicos, genéticos... enfim, tanto raciocínio para nada. Enchi o peito de ar e decidi remeter a resposta a essa mesma questão para a “rainha da noite”.

No meu caminho, os meus passos soavam humildemente e eu ficava cada vez mais pequeno e dominado qual meteorito atraído por um planeta gigante. Quando estava a meio metro da rapariga, tremendo como varas verdes, tentei articular um “boa noite” tímido que não saiu. Inspirei fundo, a fim de baixar a frequência cardíaca, e disparei:

- Olá! Como consegues submeter tantos seres à tua presença sem fazeres algo de realmente importante para eles?

Soou-me a ridículo, absurdo e a estúpido. O que acabara de dizer? Ela olhou para o lado, bastante admirada e encolheu os ombros. Imediatamente, uma amiga aproximou-se e disse:

- Desculpa, mas a minha amiga Luísa é surda-muda, não percebeu o que disseste.
Recuei dois passos, completamente em choque e perfeitamente incapaz de saber o que fazer.
- Ah... ok! – murmurei, virando cobardemente as costas, e afastei-me.

Desde então que me questiono acerca da minha capacidade de comunicar. Porque não aprender linguagem gestual? Porque não tirar um curso de boas maneiras? Sim, porque a minha atitude naquela noite foi deplorável, vergonhosa e lastimável. Revelei-me um autêntico deficiente e detesto empregar esta palavra macabra. Deficiente em termos de atitude e em termos de comunicação. De que me serviu tirar um curso de Comunicação Social durante 5 anos? Afinal de contas, sou jornalista!

Resumindo, foi a noite mais marcante da minha vida. Experimentei n tipos de sensações (satisfação, admiração, receio, coragem, incapacidade, vergonha e pena), pus em causa o meu trabalho, a minha formação... o MEU CORPO, e o mais importante, aprendi que a palavra deficiente cabe apenas àqueles que agem como eu agi, porque os outros – surdos-mudos, cegos ou atrasados mentais – são planetas gigantes circulando num mundo onde somente alguns meteoritos acabam por se aproximar.

P.S. - O texto acima é pura ficção e resultou de um trabalho que realizei no 4º ano da faculdade para a cadeira de Epistemologia da Motricidade Humana.

30/09/2006

Entre o ir e o voltar foi um piscar de olhos.

Fui, gostei e quero regressar. No pouco tempo que estive na Ilha da Madeira, vivi! Desde o Caniçal ao Paúl do Mar, observei, provei e senti a beleza insular.

Os carrinhos de cesto, o teleférico, a Choupana, o Terreiro da Luta, a praia com areia de Marrocos da Calheta, as ondas dos surfistas no Jardim do Mar e no Paúl do Mar, os porcos de Prazeres, a poncha não bebida em Câmara de Lobos, as Desertas, o Porto Santo lá longe, foram cenários com os quais me cruzei e não vou esquecer. Antes pelo contrário, a relembrar!

O meu maior agracedimento é dirigido, sem surpresas, para o grande amigo JF... um anfitrião que permitiu o meu deslumbre. Para ele e respectiva família, um muito obrigado!

Habituaram-me mal e quero voltar, para quando não sei, mas... "quero voltar prá ilha".

P.S. - Agradeço também à Junta de Freguesia de Monchique pela atenção concedida aos estudantes universitários de Monchique. Poucas são as entidades que têm este tipo de iniciativa. Bem-haja!

23/07/2006

Morte e Filosofia

Por muito que possa parecer, fiz um trabalho na faculdade sobre esta temática, mais concretamente na cadeira de Epistemologia da Motricidade Humana. Curiosamente, o professor responsável também é escritor, tendo recentemente publicado inúmeras obras com críticas muito positivas.

Bem, não pretendo escrever acerca de Gonçalo M. Tavares, mas sim a propósito do trabalho realizado por um ex-colega, que decidiu filmar uma entrevista a outro ex-colega de faculdade, de modo a dissecar o tema Morte e Filosofia. Nostalgicamente, fartei-me de rir ao rever o vídeo (grandas malucos!), contudo houve ideias da discussão que me cativaram pelo seu interesse.


Para começar, o entrevistado salienta que a morte é umas férias que a vida nos dá (pergunto se não será o contrário). Posteriormente, fala-se na vida como uma ilusão, porque tudo acaba, "não levamos nada", ou seja, "tiramos um curso, compramos um carro, uma casa, levamos a vida a pagar o carro e a casa, e quando damos por isso: - 'Olha, agora estou morto... morri!'" (Deliciosamente parvo!). Mais, segundo o mesmo, nós não temos medo da morte, temos medo é de pensar que um dia vamos morrer (Lindo!).

Finalizo com a referência do protagonista a Vergílio Ferreira, na medida em que temos de "justificar a vida em face da inverosimilhança da morte" (momento alto da entrevista), pois a morte é "uma cena obscura", logo temos de iluminar a vida com coisas boas, tirando o máximo proveito daquilo que ela nos proporciona, como forma de contornar a inevitabilidade do nosso destino (bem visto!).

Ex-colegas, amigos... valeu pela reflexão. :)

Um grande bem-haja!