A realidade por detrás de um artigo científico é, como já
mencionei noutras ocasiões, a parte massiva e invisível de um icebergue. Este
projeto, desenvolvido em paralelo com outras investigações, começou a ser
idealizado na 12.ª reunião do Grupo de Investigação e Formação em Futebol e
Futsal do Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (GIFut – ISMAT), realizada a
5 de dezembro de 2022. Não sabíamos ainda que competição iríamos analisar,
embora já tivéssemos linhas metodológicas definidas, que constituíram a base do
trabalho.
O desenho global dos Métodos ficou delineado no final de janeiro de 2023. Contudo, esta secção – a primeira a ser redigida –, só foi concluída em março de 2024, após reajustes estatísticos necessários. Entretanto, a fiabilidade intra e interobservadores ficou finalizada em julho de 2023. A versão final do manuscrito surgiu em setembro de 2024. Apesar de termos acelerado o passo, só praticamente um ano depois da primeira versão concluída vimos o estudo publicado na Journal of Human Kinetics (Q1; Impact Factor 2024: 2.8; CiteScore 2024 = 4.4) (figura 1).
Figura 1. Detalhes editoriais do artigo publicado no transato dia
23 de setembro de 2025, na revista Journal of Human Kinetics.
O artigo, a ser incluído na terceira secção do volume 100 da revista, demonstrou, em outros aspetos, que os fatores situacionais “competição”, “período do jogo” e “resultado corrente” não afetaram significativamente os indicadores de performance associados à construção e progressão ofensiva. Influenciaram, sim, as transições defesa-ataque que originaram golo, sobretudo entre os 31–60 minutos e quando as equipas estavam a perder. Nestes casos, a recuperação da posse ocorreu em zonas mais adiantadas, recorrendo a estratégias mais agressivas.
A “qualidade da equipa” revelou ser o fator central. As mais bem classificadas evidenciaram ataques mais longos e estruturados, com intervenções mais rápidas sobre a bola para marcar. Contrariando estudos anteriores, estas equipas não recuperaram mais vezes a posse em zonas adiantadas para criar golos: o seu sucesso ofensivo dependeu menos do local da recuperação e mais da forma como conduziram a bola após a recuperar.
Em síntese, o sucesso no futebol de elite depende não só da qualidade intrínseca da equipa, mas também da sua capacidade de adaptação às condições situacionais do jogo.
Quero ainda enaltecer o trabalho de equipa e agradecer a
colaboração dos Professores Paulo Paixão (GIFut – ISMAT; Instituto Politécnico
de Beja; SPRINT), José António Jorge (GIFut – ISMAT), Pedro Vargas (GIFut –
ISMAT; Escola Superior de Saúde Jean Piaget Algarve), Ricardo Gonçalves (GIFut
– ISMAT) e Rui Batalau (GIFut – ISMAT; CIDEFES, Universidade Lusófona). A
Figura 2 mostra parte da primeira página do artigo, com o resumo original (Abstract)
e as palavras-chave (Keywords).
Figura 2. Primeira página do artigo original.
Por último, uma breve nota: a ciência leva tempo, dá
muito trabalho e pouco se saboreia. Quando o produto é publicado, é como se
apenas apanhássemos as canas de um fogo de artifício que não tivemos
oportunidade de apreciar, apesar de termos sido nós a prepará-lo. O que nos
move, então? A curiosidade de querer saber sempre um pouco mais.
Referência
Almeida, C. H., Paixão, P., Jorge, J. A., Vargas, P.,
Gonçalves, R., Batalau, R. (2025). Impact of situational variables on goal-scoring offensive
sequences in the 2022 FIFA World Cup. Journal of Human Kinetics. Advance online publication. https://doi.org/10.5114/jhk/202563