23/08/2012

O talento de Messi numa só jogada



Messi, o talento argentino do FC Barcelona. Nunca escondi a profunda admiração que nutro pelo futebolista. Contra o Bayer Leverkusen, na edição transata (2011/2012) da Liga dos Campeões, embora não tenha concretizado golo, demonstrou todo o seu génio numa só jogada. Criatividade, iniciativa, capacidade técnica e velocidade ao serviço do futebol. Desde o compasso de espera à "picadinha" por cima do guarda-redes alemão, passando pela aceleração e pelo drible, tudo parece simples; tudo é anedoticamente fantástico!
 
Definitivamente, Cristiano Ronaldo seria o melhor jogador do mundo, se não houvesse neste mesmo período da história da modalidade um senhor chamado Lionel Messi.

19/08/2012

O meu ídolo? Só um: João Vieira Pinto.

Foi outrora, e durante o período da minha infância, a única personalidade que me levou a colar posters nas estantes do meu quarto. João Vieira Pinto: o menino de ouro na altura, ou o pequeno génio como também era chamado. Um jogador cheio de talento, que muito deu ao Sport Lisboa e Benfica e acabou escorraçado por um senhor ainda a contas com a justiça portuguesa: Vale e Azevedo.

Foto: João Vieira Pinto (fonte: http://epluribusunum1904.blogspot.com).

Para além do Benfica, representou o Boavista, Atlético de Madrid, Sporting e Sporting de Braga. Venceu títulos em todos eles. Na seleção nacional Sub-20 foi bicampeão mundial (1989 e 1991) e na seleção A foi internacional 81 vezes, rubricando exibições de luxo e apontando um total de 23 golos, alguns deles espetaculares.

Atualmente é dirigente na Federação Portuguesa de Futebol. No dia de hoje – 19 de agosto de 2012 – celebra o seu 41º aniversário. Em jeito de homenagem a este enorme talento do futebol português deixo-vos as incidências da partida que mais vividamente brota da minha memória e na qual, claro está, João Vieira Pinto brilhou (Sporting 3 - 6 SL Benfica; campeonato nacional, época 1993/1994).
 

Parabéns e o meu muito obrigado pelo encanto que era ver-te jogar.

13/08/2012

De Londres 2012 para o Desporto em Portugal

A festa dos Jogos Olímpicos terminou ontem em Londres e somente voltaremos a presenciar, direta ou indiretamente, o certame em 2016, a ocorrer na cidade brasileira do Rio de Janeiro.


No rescaldo da participação portuguesa, Vicente Moura (presidente do Comité Olímpico Português) e Mário Santos (Chefe da Missão Olímpica portuguesa) classificaram os resultados obtidos como positivos, estabelecendo uma relação inequívoca com a precariedade que é o desporto em Portugal. Uma medalha de prata e nove diplomas olímpicos não é mau, porém, arrisco-me a afirmar, poderia ser muito melhor.

O investimento no desporto é escasso, a educação física (EF) e o desporto escolar são permanentemente marginalizados comparativamente a outras disciplinas escolares, depois o povo quer medalhas? Exige-se à Telma Monteiro o ouro, quando a judoca americana que a derrotou na 1ª ronda, não possuindo o mesmo talento, dispôs certamente de melhores condições para alcançar êxito na competição. Na maior parte das vezes, o talento por si só não chega; é fundamental oferecer as condições devidas de preparação para que o nível de excelência possa ser alcançado. Neste particular, comparar um atleta português a outro americano é, no mínimo, perverso. Ainda assim, às vezes lá os enganamos.

Parece ser consensual que a formação desportiva de base deve ser repensada e, acima de tudo, incentivada pelo Estado. A EF e o desporto escolar deveriam desempenhar um papel fulcral neste processo, ao invés é melhor reduzir o tempo destinado à prática de atividade física e desportiva nas escolas; é mais correto que o aproveitamento na EF não conte para a média no ensino secundário, como quem diz: “vão lá às aulas, mas não se esforcem muito para não desgastar o raciocínio para a matemática”. Aqui, apraz-me ridicularizar a situação: se um jovem apresenta um aproveitamento insuficiente na matemática, os pais não se importam de colocar o educando na explicação, muitas vezes paga a peso de ouro. De modo análogo, se um jovem não cumpre os objetivos definidos nas diversas matérias da EF, os pais, conscientemente, deveriam incentivar à prática de um qualquer desporto (natação, ginástica, andebol, karaté, dança, etc.), diminuindo o “analfabetismo motor” do seu rebento. Mas não! O melhor mesmo é não contar para a média do secundário.

Por sinal, ainda recentemente saiu uma notícia no jornal O Público (ver aqui), em que dá para perceber, através de uma pesquisa longitudinal efetuada por uma equipa de investigadores da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa (FMH-UTL), que a) os jovens com aptidão cardiorrespiratória saudável tiveram um maior somatório das classificações de português, matemática, ciências e inglês, b) os alunos insuficientemente ativos, ou seja, que não cumprem as recomendações de atividade física diária (pelo menos 60 minutos por dia de atividade física moderada e vigorosa), têm maior probabilidade de serem pré-obesos ou obesos, c) o exercício promove a formação de novos neurónios e uma maior interação entre estas células nervosas, que, por sua vez, promovem maior sensibilidade e desenvolvimento cognitivo.

Estas, entre muitas outras, seriam razões mais que suficientes para incentivar à prática desportiva regular desde as idades mais tenras. Como reforça Luís Sardinha (diretor do Laboratório de Exercício e Saúde da FMH), o ideal seria que, por altura do término do 12º ano, os alunos fossem “consumidores educados de exercício físico”, muitos deles, acrescento eu, talvez desportistas nas mais distintas modalidades, porém é algo que se encontra muito longe da realidade em que vivemos.

Portugal só teria a ganhar com mais e melhor desporto: saúde, autoestima, felicidade, produtividade e, lá está, as tão proclamadas medalhas olímpicas. Porque o olimpismo consagra os principais vetores para uma vida sã em sociedade: equilíbrio das qualidades do corpo, da vontade e do espírito; desenvolvimento harmonioso do Homem; ação concertada, organizada, universal e permanente de todos os indivíduos e entidades participantes; entendimento mútuo, amizade, solidariedade e fair play; repúdio pela discriminação independentemente de raça, religião, política ou género sexual.

Urge repensar estratégias; urge valorizar o desporto no nosso país. Todos nós!

29/07/2012

Breve revisão: A grande penalidade no futebol

A marcação de uma grande penalidade é uma circunstância peculiar no decurso de um jogo de futebol. Pode resultar de uma falta ocorrida no interior da grande área ou, como último recurso, determinar o desfecho de um jogo através de uma série de penáltis para cada equipa. Por este motivo, são episódios que assumem proporções altamente mediáticas. Ainda recentemente, o Campeonato Africano das Nações (CAN, 2012), a Liga dos Campeões da UEFA (2011/2012) e uma das meias-finais do EURO 2012 foram precisamente decididos através da marcação de grandes penalidades.

Foto: O penálti de Bruno Alves no duelo das meias-finais do EURO 2012 diante da Espanha (fonte: REUTERS).

Portanto, a grande penalidade não deveria ser um evento a negligenciar na preparação das equipas para a competição, embora muitos treinadores e equipas técnicas descurem esta categoria de bola parada no seu planeamento de sessões e microciclos, lembrando-se esporadicamente de “afinar a pontaria” dos 11 metros quando a ocasião assim o exige, por exemplo, na sessão prévia a jogos da Taça. Do mesmo modo que sempre me disseram que não se deve estudar apenas no dia anterior a um teste, estou ciente de que “bater” penáltis um ou dois dias antes de um jogo a eliminar é manifestamente escasso para melhorar a competência dos atacantes e dos guarda-redes (GRs) nestas situações específicas.

Parece ser consentâneo que a execução e o resultado de uma grande penalidade dependem de estados de equilíbrio/desequilíbrio entre o jogador que remata a bola e o GR, constituindo, por isso, uma interação dinâmica de um contra um (Lopes, Araújo, Peres, Davids, & Barreiros, 2008; Palao, López-Montero, & López-Botella, 2010). Além disso, são inúmeras as variáveis que condicionam a prestação dos dois intervenientes. O conhecimento anterior (observação e análise do adversário), os estados emocionais, a lateralidade do atacante (destro ou canhoto), a localização da partida (em casa ou fora), o resultado corrente do jogo (a vencer, empatado ou a perder), entre outros, são fatores que permanecem em jogo, senão mesmo de forma mais determinante, no curto período em que decorre a grande penalidade. A investigação científica tem procurado algumas respostas, porém a maioria das pesquisas peca por o concretizar fora do contexto ecológico em que a díade atacante vs. GR emerge (Lopes et al., 2008).

Na revisão efetuada por Lopes et al. (2008) sobre esta temática, foi possível sintetizar um conjunto de conclusões comuns a diversas investigações consultadas: (i) as coxas e a perna de apoio do atacante parecem ser fontes de informação relevantes para antecipar a direção do remate por parte dos GRs; (ii) os atacantes não podem alterar a direção do remate, sem prejuízo da performance, quando os GRs se movem entre os 400 e os 300 ms antes do contacto do atacante com a bola; (iii) os GRs que obtêm mais êxito aguardam mais tempo para iniciar a ação de defesa; (iv) os GRs podem influenciar a perceção prévia do atacante para uma determinada zona da baliza e, assim, condicionar a direção do remate; (v) há uma associação forte entre a importância da grande penalidade e a efetividade do desempenho; (vi) há uma associação entre instruções negativas proferidas pelo treinador e a performance do atacante na marcação da grande penalidade.

Segundo estas evidências, a típica desvantagem atribuída aos GRs nestas situações poderá ser atenuada com o treino de um vasto leque de habilidades percetivas, para além da hipersolicitada componente motora. Neste particular, a tomada de decisão do GR pode ser potenciada caso assente num processo permanente e ativo de exploração e seleção de informação relevante que suporte a decisão (Lopes et al., 2008). Do lado do atacante, podem surgir duas estratégias para marcar o penálti: (i) a independente do GR, na qual o jogador parte para a bola com a decisão tomada em relação ao lado para onde irá rematar, focando-se na precisão e potência da ação ou (ii) a dependente do GR, em que o jogador explora e analisa, em frações de segundo, as ações do GR no sentido de decidir o lado para o qual irá rematar e obter sucesso (Lopes et al., 2008; Palao et al., 2010).

Transpondo os factos para o treino desportivo, é importante que o desenvolvimento de habilidades subjacentes à marcação de grandes penalidades não seja colocado de parte no alto rendimento e, sobretudo, nas diversas etapas de formação na modalidade. No cômputo geral, é uma tarefa bastante aprazível desde as idades mais jovens, nas quais a aquisição de habilidades percetivas, cognitivas e motoras assumem especial significado. Em ambos os estudos mencionados, os autores indicaram algumas dicas para explorar na prática. Assim, o treinador deverá: (i) melhorar a tolerância dos jogadores (atacante e GR) à pressão das grandes penalidades, mediante a oposição a adversários com diferentes estratégias; (ii) manipular constrangimentos da tarefa (distância da bola, tamanho da bola, tamanho da baliza, etc.) e constrangimentos do praticante (e.g., aumentar a pressão imposta numa decisão por grandes penalidades, criar rankings de sucesso para todos os jogadores, etc.); (iii) conceder instruções aos GRs para 1) se moverem ao longo da linha de golo, 2) permanecerem estáticos o máximo possível ou 3) definir uma posição inicial ligeiramente para a esquerda ou para a direita e, posteriormente, tentar defender o penálti; para os atacantes 1) assumir diferentes ângulos de aproximação à bola, 2) variar a distância inicial entre o próprio e a bola, 3) rematar com o pé dominante e com o não dominante.

No essencial, o treinador deve propiciar a exploração de diversas estratégias, constrangendo a tarefa e o praticante, a fim de que o mesmo possa estar suficientemente “afinado” para lidar com circunstâncias inesperadas na marcação de uma grande penalidade. A aferição dos resultados pode ser alcançada com a elaboração de uma simples grelha de avaliação com critérios pré-definidos. Eis um exemplo relativo à eficácia: (i) para os atacantes: 8 ou mais golos, em 10 tentativas, é definido como “muito bom”, entre 5 e 7 “médio” e menos de 5 “insuficiente”; (ii) para os GR: 3 ou mais defesas, em 10 remates, é definido como “muito bom”, 2 em 10 “médio” e uma ou zero “insuficiente”.

Referências
Lopes, J. E., Araújo, D., Peres, R., Davids, K., & Barreiros, J. (2008). The dynamics of decision making in penalty kick situations in association football. The Open Sports Sciences Journal, 1, 24-30. (pdf)
Palao, J. M., López-Montero, M., & López-Botella, M. (2010). Relación entre eficacia, lateralidad y zona de lanzamiento del penalti en función del nivel de competición en fútbol. Revista Internacional de Ciencias del Deporte, 4(19), 154-165. (pdf)

09/07/2012

Crescer, com talento, no futebol não é fácil…


(…) nos dias que hoje correm.


A este propósito, deixo-vos as sábias palavras do professor José Neto (2012, p. 36):

E isto é particularmente evidente quando observamos as exigências do tipo comercial (lei do mercado) que coisificam e degradam, até à condição de mera mercadoria, o agente desportivo de alto rendimento, designadamente no futebol. Mas é-o também e, aqui de forma deveras preocupante, no afã despótico de muitos pais e outros agentes que, ao detectarem numa criança sinais de talento, a fazem entrar à força numa espécie de forja de craques, sugando-lhe aquilo que, para ela, é mais importante: o espaço lúdico para crescer. Quando se quer, à viva força, enxertar no homem o craque, este, a acontecer, é à custa do homem que acontece – e, após a fulguração da estrela cadente, o vazio e a solidão. Mas há mais: pouco ou nada educativo é um desporto se este se exprimir exclusivamente nas suas componentes física, táctica, técnica e normativa.

Referência
Neto, J. (2012). Futebol de corpo inteiro. Lisboa: Prime Books.