A saúde... o que é? Como se pode relacionar tal ideia com o corpo? Como se enquadram estes dois conceitos (saúde e corpo) na sociedade?
Actualmente, as ciências biomédicas esforçam-se por solucionar ‘problemas’ biológicos que estão na origem da doença. À medida que estas ciências evoluem, a esperança média de vida da população tende a aumentar, sendo perfeitamente aceitável que surjam questões como a colocada por Fernando Salvater: “Até onde é lícito ir demasiado longe?”. Na minha humilde perspectiva, reformularia um pouco a pergunta e colocaria-a do seguinte modo: Até onde é necessário irmos demasiado longe? Valerá mesmo a pena?
Naturalmente, cairemos na subjectividade das respostas. Eu terei a minha, o leitor terá a sua e, embora estas possam parecer iguais, nunca o serão verdadeiramente. Quando nascemos somos, no imediato, introduzidos na sociedade. Hoje em dia, sobretudo nas sociedades mais desenvolvidas, a pessoa que nos diz ‘Olá!’ pela primeira vez é um funcionário do hospital (um médico ou um enfermeiro). Mas porquê um médico ou um enfermeiro, porque não a minha avó ou o meu pai? Porque, até durante o parto, há riscos, colocando-se desde logo em prática o conceito de saúde. Salvater, em O Conteúdo da Felicidade, refere que a saúde é imposta à sociedade e assim o é, logo! Desde o nosso nascimento que estamos sujeitos a certos comentários como: “oh bebé, não come isso que faz mal”; “não faças aquilo que cais e ficas mal”; “olha que a saúde não é de ferro” e por aí fora. Enfim, educam-nos na distinção do que é mau e do que é bom, limitam-nos os comportamentos, modulando-os na tentativa de nos tornarem, única e exclusivamente, úteis. Mas, úteis para quê? Para funcionarmos bem, para no futuro mostrarmos rendimento, sermos produtivos e só assim se justifica a saúde como objectivo geral do Estado.
E o prazer do ser humano, não conta? Para o Estado se não for rentável é supérfluo, sem qualquer importância. Pois é, e para o próprio ser humano? O que seria a vida de um Homem sem prazer? De que serve vivermos 90 anos se nos é vedado ou censurado o acesso aos pequenos prazeres que nos põem um sorriso na cara? Valerá a pena? Eu acho que não!
Então, não será esta ideia de saúde um enorme paradoxo no seio da nossa sociedade? O Estado quer-nos bem de saúde para trabalharmos, para sermos alguém, no entanto, segundo Salvater, está-se nas tintas para se vivemos felizes ou não, se temos prazer ou não. Por muito trivial que isto possa parecer, tem fundamento e revela-se um ponto crucial. Fornecem-nos saúde e neglicenciam determinadas necessidades que nos são essenciais – os prazeres. Tudo isto origina, no meu ponto de vista, um círculo vicioso: "Saúde - Doença - Saúde - (...)".
Não admira que apareçam notícias indicando que mais de 90% da população mundial ande depressiva. Ora, neste facto surge outra problemática associada à sociedade. Impõem-nos saúde, mas para vivermos bem, também nos impõem uma sociedade de medidas, onde a imagem corporal é altamente relevante. Nós podemos ser indivíduos fisiologicamente saudáveis, mas em termos de imagem corporal fora de padrões estipulados pela sociedade. Embora continuemos a ser ‘úteis’, muitas são as situações onde tal utilidade não é aceite. Psicologicamente, ficamos arrasados, doentes e mais cedo ou mais tarde essa doença repercute-se pelo todo como uma praga que nos dilacera, o vai ao encontro do referido por Gómez de la Serna, em O Homem da Barba: “(...) de uma ideia exasperada pode brotar a doença e a hecticidade que mata”.
Assim, concluo deixando uma pergunta no ar: Seremos apenas escravos de uma ideia abstracta estúpida ou, pelo contrário, reis manipulados cuja doença surge em função da saúde como elemento a conquistar?
5 comentários:
Deveras pertinente este Post Bro. Na perspectiva que relataste da manipulação da imagem corporal pela Scociedade, convido-te a ver com atenção dois documentários onde é apresentado, para além de outros aspectos, o curioso caso da evolução das figuras GI Joe ao longo dos anos. Temos de ser críticos em relação ao termo "desenvolvimento", pois muitas
este é apenas conotado como desenvolvimento económico-financeiro.
Synthol/Steroids-Drugs In Society
http://www.youtube.com/watch?v=rBBWMRRWOrM
e
Bigger, Faster, Stronger
http://www.youtube.com/watch?v=D8nOKJTL6Tg
[http://www.imdb.com/title/tt1151309/]
Olá, sou árbitro de futebol da A.F. Beja, e vi o teu Poste intitulado "Quem quer ser árbitro em Portugal?", gostei muito da tua prespectiva e inclusive publiqueio, no meu bloge espero que não te importes.
E soubre o texto em sim, é sempre bom saber que ha pessoas que compreendem as dificuldades da nossa causa.
Abraço
Luis
PS - posso adicionar o teu blogue ao meu para que quem visita o meu blogue possa visitar tambem o teu???
Agradeço o seu comentário, Luís.
Com certeza que pode adicionar o meu blog ao seu. O prazer é todo meu.
Bons jogos! :)
Saúde Almeida,
parabéns pelo blog!A propósito da parte inicial do teu post,deixo-te aqui um link de um seminário de um Prof. do departamento de genética de Cambridge que tem um discurso que, no mínimo, faz-nos pensar um pouco!é um gajo muito bem disposto, com uma visão muito futurística (e pouco ortodoxa)mas que encerra em si alguma verdade apesar de eu, como pseudo-ciêntista e conhecendo um pouco da area achar que ainda estamos longe...muito longe...ou talvez não!
O que é certo é que é assim que a ciência evolui, para o bem e para o mal. Bem aquele gajo que o filipe mostrou é um bom exemplo de como usar algum frutos da ciência(drogas sintéticas)de forma muito inteligente...
http://video.google.com/videoplay?docid=3847943059984264388#docid=-998064340963332476
bruno medronho
Obrigado, Filipe e Bruno pela qualidade e pela pertinência dos vossos comentários e dos links que disponibilizaram.
A ciência é parte integrante da sociedade e, como tal, também contribui para a "deformação" do corpo, quer seja ou não em sentido pejorativo. O uso de drogas como os esteróides ou a expansão da esperança média de vida são consequências disso mesmo.
Certamente que muito poderíamos especular acerca deste trinómio "Ciência(Saúde) - Corpo - Sociedade", embora eu defenda que a questão central resida na subjectividade do existencialismo, algo que a ciência, por si só, nunca poderá alcançar as conclusões nuas e cruas que talvez alguns de nós pretenderíamos.
Abraços. :)
Carlos Almeida
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