13/08/2011

Futebol: uma democracia empobrecida

Vivemos numa sociedade, tanto quanto sei, democrática. Cada um de nós tem direitos e deveres que deveriam ser invariáveis por cabeça. Parece, porém, que a democracia não é transversal a todos os sectores da nossa sociedade.

No desporto, particularmente no futebol, assiste-se frequentemente a uma tirania dos "maiores", sendo escassa a protecção dos "menores". Entenda-se que me refiro a clubes. Considerem o seguinte cenário meramente hipotético e, portanto, irreal, mas que é possível de ocorrer:

O Sebastião é um rapaz nascido em Monchique e aos 6 anos começou a praticar futebol no clube da sua terra: o Juventude Desportiva Monchiquense. Iniciou a sua formação no clube, completando uma época nos Petizes (Sub-7), duas nos Traquinas (Sub-9), uma como Benjamim B (Sub-10), uma nos Benjamins A (Sub-11) e duas nos Infantis (Sub-13). Como o Sebastião era um miúdo talentoso e que se destacava nos jogos da sua equipa, decidiu, conjuntamente com os seus pais, mudar para um clube com outra projecção e que lhe oferecia, supostamente, a possibilidade de competir num nível superior e evoluir mais favoravelmente na modalidade. Imagine-se, o Portimonense SC. Nesse seu novo clube, assina contrato de formação e cumpre duas épocas como Iniciado (Sub-15), duas nos Juvenis (Sub-17) e, finalmente, mais duas nos Juniores (Sub-19). Por acaso, no último ano de júnior, jogou alguns jogos pelos seniores na II Liga e despertou a cobiça de clubes estrangeiros. Os olheiros do Manchester United, sempre atentos, recomendaram-no a Sir Alex Ferguson, que decidiu pela sua contratação; pagou 5.000.000.000 Euros pelo rapaz.

Nesta situação, há direitos de formação envolvidos no negócio. No entanto, a lei portuguesa prevê que o primeiro clube do jovem, responsável por mais de 50% da sua formação, não receba qualquer contrapartida financeira. Já o outro clube, aquele com maior projecção, receberá não apenas uma soma avultada pela transferência, como ainda arrecadará na íntegra os direitos de formação do indivíduo. Soa a injusto, mas é a realidade que temos.

Numa assembleia da Associação de Futebol do Algarve, o JD Monchiquense tem direito a 7 votos; o Portimonense, por exemplo, tem direito a 77. Por esta ordem de ideias, eu deveria ter direito a um voto nas Legislativas, enquanto o senhor Pinto Balsemão, por ser um sujeito mais influente que eu no nosso país, deveria ter direito a 100 votos.

Os grandes "comem" os mais pequenos sem desdém, com a conivência da democracia, de direitos e deveres empobrecidos. A intenção de "tornar mais igual" converteu-se no inverso. Enquanto o mundo for movido a dinheiro e interesses, nunca haveremos de viver em democracia. A peneira continuará a tapar o Sol, mas jamais totalmente.


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