11/07/2016

EURO 2016: Portugal campeão europeu e as chapadas de luva branca

Aos 10 dias do mês de julho de 2016, a seleção portuguesa sagrou-se campeã europeia, pela primeira vez na sua história, ao vencer a França no Stade de France – Saint-Denis, na final do Campeonato da Europa de 2016 (figura 1).

Figura 1. Portugal, vencedor do EURO 2016 (fonte: pt.euronews.com).

É histórico e a história desta conquista dos nossos «heróis do mar» é bonita de tão inesperada. Ao contrário do EURO 2004, em Portugal, no qual a nossa seleção praticava um futebol vistoso, aproveitando parte da equipa de um FC Porto vencedor da Champions League e com um plantel de luxo, esta fase de grupos mostrou-nos uma equipa com… falta de recursos, pouco ambiciosa e condicionada por um senhor chamado Cristiano Ronaldo: três vezes bola de ouro da FIFA. Sim, condicionada, porque muitas vezes o portador da bola tinha inúmeras opções de passe, mas a bola seguia sempre para o mesmo destinatário – Cristiano Ronaldo – mesmo quando essa não era a melhor decisão a tomar. E quando a bola não chegava ao capitão, ele barafustava de impaciência. À partida, os jogadores estavam condicionados pelo melhor do mundo. Fernando Santos adaptou a equipa à incapacidade de Ronaldo fechar defensivamente numa ala, com um 1-4-4-2 com dinâmicas, por vezes, confusas e eu referi a várias pessoas de boca cheia: «enquanto Portugal tiver Ronaldo na equipa, por muito bom que ele seja (e é), nunca iremos ganhar uma competição internacional». Disse-o e, agora, não tenho medo de o reassumir. Aliás, também referi que o Éder não era jogador para ser convocado para este europeu e o «patinho feio» resolveu a competição a nosso favor (figura 2). Por esta altura, já contabilizo duas chapadas de luva branca.

Figura 2. O «patinho feio» da seleção foi decisivo: Éder (fonte: abola.pt).

Depois, veio a fase a eliminar e o jogo com a Croácia mostrou-nos dois aspetos muito importantes: (1) um selecionador Fernando Santos realista, pragmático e, ao contrário do comum dos adeptos portugueses, ciente das limitações da equipa e dos pontos fortes das seleções adversárias; (2) um grupo unido, coeso, repleto de personalidade, atitude e comprometido com as palavras do seu líder Fernando Santos: «apenas iremos voltar a casa no dia 11 de julho de 2016» (hoje). Desde então, vimos Fernando Santos a corrigir aspetos menos conseguidos na fase anterior, uma equipa forte em organização defensiva e a primar pelo equilíbrio em todos os momentos de jogo, um capitão Cristiano Ronaldo a ser decisivo, um Pepe absolutamente fantástico na linha defensiva, um Rui Patrício brilhante na final, entre muitos outros elogios que poderia fazer a todos os outros jogadores.

Porém, a maior chapada de luva branca foi a do engenheiro Fernando Santos (figura 3). 

Figura 3. Fernando Santos: o engenheiro do EURO 2016 (fonte: rr.sapo.pt).

Dou a mão à palmatória e friso que soube interpretar muito bem o contexto da competição e, em termos estratégico-táticos, preparar a equipa para ultrapassar as diversas eliminatórias e vencer a final. Portugal não jogou da mesma forma contra a Croácia e contra a França; também não jogou do mesmo modo contra a Polónia e contra o País de Gales. Houve particularidades estratégico-táticas que foram trabalhadas e implementadas e isso foi obra do mister Fernando Santos e da sua equipa técnica. Por exemplo, ao ceder a iniciativa de jogo ao País de Gales, defendendo num bloco médio, Portugal salvaguardou-se das transições ofensivas adversárias, com Gareth Bale na frente sempre pronto para explorar o espaço atrás da nossa linha defensiva. Contra a França, Portugal tentou sempre controlar o ritmo de jogo com saída de bola curta pelo guarda-redes, algo que não se verificou nos jogos anteriores.

Em suma, não assistimos a um futebol de posse, rendilhado, de encher o olho, mas vimos Portugal ser realista e eficaz. A seleção jogou o suficiente para ser bem-sucedida quando outrora com Eusébio, Coluna, Bento, Chalana, Humberto Coelho, Manuel Fernandes, Fernando Gomes, Figo, Rui Costa, João Vieira Pinto, etc., nunca fora. E esta página do futebol português é sublime porque nos coloca no topo da Europa e nas bocas do mundo. Daqui a uns anos, lembremo-nos que uma equipa em que poucos acreditavam fez por merecer e foi feliz. Enfim, com 33 anos vi a seleção principal de futebol de Portugal conquistar uma grande competição internacional. Muitos outros viveram uma vida inteira sem nunca ter tido esse privilégio.

O meu orgulho está com este grupo: jogadores, equipa técnica e restante comitiva. Hoje, o meu orgulho é do tamanho da nossa pátria: viva Portugal!

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