01/09/2016

A busca pela perturbação na eficácia do ataque posicional das equipas de Pep Guardiola

Hughes et al. (1998) defined a perturbation in soccer as an incident that changes the rhythmic flow of attacking and defending, leading to a shooting opportunity. For example, a perturbation could be identified from a penetrating pass, a dribble, a change of pace or any skill that creates a disruption in the defence and allows an attacker a shooting opportunity.
(McGarry et al., 2002: 775)


Dia 28 de agosto de 2016. O Manchester City recebeu e venceu o West Ham United por 3-1. Até aqui, nada de anormal. Os «Citizens», porém, mudaram imenso com a chegada de Pep Guardiola. À 3ª jornada, o cunho do treinador está lá e o ataque posicional uma marca distintiva na sua ideia de jogo. Vislumbremos o primeiro golo do jogo, aos 7 minutos:


O ataque posicional preconizado pelas equipas de Pep Guardiola é, para muitos, chato, aborrecido e entediante. Na minha perspetiva, as principais finalidades são (1) encontrar o timing oportuno para criar a perturbação (i.e., quebrar a simetria existente entre as duas equipas) e (2) retirar a posse de bola e a iniciativa à equipa adversária. Basicamente, é um método de jogo que prima pela inteligência e eficácia: controlar a posse de bola, desposicionar os jogadores contrários para criar espaço e aumentar o ritmo de jogo para originar a situação de finalização.

Figura 1. Fase de estabilidade e início da perturbação 
(Manchester City 1 x 0 West Ham, 28-ago-2016).

A figura 1 mostra-nos a equipa do West Ham United perfeitamente equilibrada com duas linhas defensivas bem definidas e 9 jogadores de campo atrás da linha da bola (4 médios + 5 defesas). David Silva poderia perfeitamente ter colocado a bola em De Bruyne no corredor direito, no intuito de dar largura à equipa, em vez disso passou para o corredor central para John Stones (defesa central em permuta posicional) e deu início à perturbação na organização defensiva dos visitantes (figura 2).

Figura 2. Perturbação, quebra de estabilidade e criação da situação de finalização 
(Manchester City 1 x 0 West Ham, 28-ago-2016).

O passe interior atraiu três jogadores para John Stones que, ao devolver ao primeiro toque para David Silva, criou o espaço para o espanhol acelerar, progredir e executar o passe de rotura para o compatriota Nolito. O cruzamento rasteiro e atrasado para Sterling foi, como se costuma dizer, «meio golo».

Desengane-se quem pensa que isto é obra do acaso ou apenas sai no momento. A paciência e a busca pela perturbação são premeditadas na cabeça de Guardiola e devidamente trabalhadas nas sessões de treino. Jogar com o imprevisto e o inesperado é a chave para o sucesso de qualquer ataque posicional, contudo, acarreta os seus riscos. A gestão do risco e do imprevisto é o que faz de Guardiola um treinador diferente dos demais. Observe-se o seu Barcelona, o seu Bayern de Munique e o seu Manchester City e descubra-se as diferenças. É outro futebol; pelo menos, é o futebol que me encanta. E como refere Carlos Daniel no seu recente livro Futebol a Sério: «No futebol, como em tanta coisa na vida, deixar de encantar é pior do que perder». (2016: 22).


Referências
Daniel, C. (2016). Futebol a Sério (3.ª Edição). Lisboa: A Esfera dos Livros.
Hughes, M., Dawkins, N., David, R., & Mills, J. (1998). The perturbation effect and goal opportunities in soccer. Journal of Sports Sciences, 16, 20.
McGarry, T., Anderson, D. I., Wallace, S. A., Hughes, M. D., & Franks, I. M. (2002). Sport competition as a dynamical self-organizing system. Journal of Sports Sciences, 20, 771-781.

Sem comentários: