01/03/2020

Indefinição nas missões táticas defensivas no 1-4-4-2: quem equilibra no corredor lateral?

Com o SC Braga ainda em vantagem no Funchal (0-1), diante do CS Marítimo, veio à baila a velha questão de quem equilibra defensivamente no corredor lateral quando a estrutura tática de base é o 1-4-4-2. É o avançado? É o médio interior/ala? É o médio de cobertura, vulgo “trinco”? E se não houver ninguém a aumentar a pressão defensiva, aproxima o central adjacente para efetuar cobertura defensiva ao lateral em inferioridade?

Vejamos o golo inaugural do jogo, aos 5 minutos, concretizado pelo jovem Trincão:


A equipa do Marítimo – claramente com um 1-4-4-2 definido –, face à entrada da bola no seu corredor lateral esquerdo, não fez “saltar” nenhum jogador na oposição ao portador da bola (Trincão), possibilitando à entrada do seu meio-campo defensivo uma situação de inferioridade numérica (1v2). Bem o Braga a atrair/concentrar a posição dos médios adversários no corredor central para progredir por fora (figura 1).

Figura 1. Início da situação de inferioridade numérica (1v2) do Marítimo, no seu corredor lateral esquerdo.

Com a bola descoberta, Rúben Ferreira foi recuando para temporizar e manter o setor defensivo alinhado. Ajuda? Nunca houve e Trincão – inteligente –, foi avançando para fixar os apoios de Rúben (figura 2).

Figura 2. A situação de superioridade/inferioridade manteve-se próximo da área de penálti da equipa da casa.

No momento certo, Trincão passou a bola a Ricardo Esgaio, colocando Rúben Ferreira a correr atrás do prejuízo. O problema foi que a indefinição nas missões táticas defensivas se manteve nos últimos 15 metros e, em particular, no setor defensivo insular. Como último recurso, a cobertura defensiva que era suposto ser realizada pelo central não ocorreu e a inferioridade numérica (1v2) perpetuou-se (figura 3).

Figura 3. Rúben Ferreira nas lonas, sem apoio de qualquer companheiro de equipa.

Ricardo Esgaio devolveu a Trincão que, com ângulo de remate aberto, finalizou em golo uma situação incrível de superioridade/inferioridade numérica que principiou na zona do meio-campo e teve uma duração de cerca de 8 segundos, sem qualquer ajustamento tático por parte dos jogadores do Marítimo (figura 4). Em alta competição, esta passividade é fatal.

Figura 4. Dois contra um até ao remate final (e golo) de Trincão.

É por estas e por outras que se diz, com propriedade, que a estrutura tática de base (i.e., a distribuição dos jogadores pelo terreno de jogo) não detém máxima relevância num contexto em que noção de oposição é fundamental. As dinâmicas comportamentais que se estabelecem numa equipa é que ditam se esta estará mais próxima ou distante de alcançar o sucesso. Neste âmbito, as missões táticas, a coordenação interpessoal, os ajustes e as combinações são treináveis, devendo este processo ponderar a multiplicidade de circunstâncias e problemas que o oponente pode suscitar em competição.

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