10/09/2020

International Journal of Sports Science & Coaching (Vol. 15/2020) | Associações de variáveis situacionais e de performance com o resultado de transições defensivas no Campeonato do Mundo de 2018

Os momentos de transição têm um papel fundamental no resultado do jogo e constituem parte importante do processo de treino no futebol. Não fomos nós que o afirmámos. Esta é, de resto, uma opinião de treinadores de alto nível, como, por exemplo, José Mourinho: “Everybody says that set plays win most games, but I think it is more about transitions” (citado por Wright et al., 2014, p. 716). 

Entre outros motivos de cariz pessoal, penso que um dos principais argumentos que levou o Rui Freitas a selecionar o tema das transições defensivas para o seu projeto de doutoramento é que, de facto, há uma carência generalizada de evidência científica em matéria de transições, sobretudo no que se relaciona com o momento da perda da posse de bola. Não tendo qualquer tipo de intromissão nessa decisão, nem na elaboração do dito projeto, julgo que foi um tiro certeiro. Por isso, quando fui convidado para colaborar com o Rui e com a professora Anna Volossovitch (orientadora da tese de doutoramento), já a investigação seguia num ponto avançado, inclusive com resultados. A minha contribuição cingiu-se ao limar de pequenas arestas. E o que importa mesmo é o produto final, ora publicado na revista britânica International Journal of Sports Science & Coaching (figura 1).



Figura 1. Título, autores e outras informações editoriais do artigo. 1- CIPER, Faculdade de Motricidade Humana, SpertLab, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; 2- CIDEF, ISMAT - Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, Portimão, Portugal.

 

Abstract

Transition moments play a major role in match outcome and constitute an important part of the soccer coaching process. Nevertheless, the body of literature on match analysis reveals a lack of knowledge regarding transition moments, particularly the defensive ones. This study aimed to analyse how several situational and performance variables were associated with different defensive transition outcomes. A sample of 977 defensive transitions from 15 matches of FIFA World Cup 2018 was coded using a bespoke observational system. Data were analysed through log-linear modelling and Pearson’s chi-square. Regarding performance variables, final position (p≤0.001; ES=0.390[≥0.290]; large effect size), duration (p≤0.001; ES=0.206[0.07; 0.21]), defensive approach (p≤0.001; ES=0.419[0.30; 0.50]), defensive pressure (p≤0.001; ES=0.147[0.05; 0.15]; medium effect sizes), numerical relations (p≤0.05; ES=0.113[0.07; 0.21]), initial position (p≤0.05; ES=0.092[0.06; 0.17]), initial number of zones (p≤0.05; ES=0.083[0.05; 0.15]), final number of zones (p≤0.001; ES=0.112[0.05; 0.15]) and defensive coverage (p≤0.001; ES=0.130[0.05; 0.15]; small effect sizes) were significantly associated with the defensive transitions outcomes. A small-sized and non-significant association (p=0.126; ES=0.080[0.07; 0.21]) was found for type of ball loss. Concerning the situational variables, a small-sized and significant association between match outcome and defensive transitions outcome was identified (p≤0.05; ES=0.092[0.07; 0.21]). Our findings provide new knowledge on factors that influence team success in defensive transitions. The coaching staff should be aware that the exploitation of areas behind the most retreated player of the midfield sector ought to be avoided. Furthermore, a reduction in the space available to ball carriers and an increased effort to quickly recover possession should be encouraged. 

Key words: Association football, performance analysis, soccer, sport analytics. 

Reference

Freitas, R., Volossovitch, A., & Almeida, C. H. (2020). Associations of situational and performance variables with defensive transitions outcomes in FIFA World Cup 2018. International Journal of Sports Science & Coaching, 15. https://doi.org/10.1177/1747954120953666

 

Um conjunto de treze variáveis distintas (três situacionais e dez de performance) foi analisado em relação à variável dependente “resultado da transição defensiva”. Sem pretender esmiuçar os resultados obtidos, bem como a discussão que deles adveio, apurámos alguns factos de interesse prático para o treinador, que de seguida sintetizo:

 

·  As equipa vencedoras foram capazes de impedir mais frequentemente a progressão espacial da equipa adversária. As melhores equipas não são somente competentes em processo ofensivo, mas também demonstram mais eficácia nos momentos de perda da bola. Nos instantes subsequentes à perda da posse, recomenda-se a promoção de situações de superioridade numérica no centro de jogo e a adoção de comportamentos, individuais e/ou coletivos, que fechem espaços a ser explorados pelos opositores, via drible ou passes progressivos.

 

· Episódios curtos de transição defensiva estiveram associados a ações defensivas bem-sucedidas. Procurar recuperar rapidamente a bola após a perda, embora seja individual e coletivamente exigente, deve ser incentivado em treino e competição.

 

·  Parece ser crucial evitar que a transição defensiva termine no espaço atrás do médio mais recuado (aM; figura 2), pois nessas circunstâncias observámos um aumento de ações de finalização dos oponentes. 


Figura 2. Identificação do espaço atrás do médio mais recuado (aM) (Freitas et al., 2020; adaptado de Seabra & Dantas, 2006).

 

·  Logo após a perda da bola, o 1.º defensor deve encurtar espaço e pressionar o portador da bola adversário, condicionado o tempo e o espaço disponível para ler o jogo e agir. Se for assegurada a existência de cobertura(s) defensiva(s), a probabilidade de recuperação da posse de bola aumenta.

 

· As equipas de elite geralmente expõem-se em demasia durante a fase ofensiva, exacerbando o princípio “espaço”. Contudo, acautelar a possível perda da bola, garantindo um posicionamento mais equilibrado no decurso do ataque, reduz as perturbações causadas pela equipa contrária nos momentos de transição.

 

Sou suspeito para adjetivar o trabalho que foi realizado, mas posso-vos confidenciar que me deu um prazer imenso reler o artigo. Não só recomendo vivamente a leitura integral daquela que é a primeira publicação científica do Rui Freitas – a quem, em particular, congratulo –, como ainda sugiro que acompanhem os conteúdos que vai escrevendo no seu blogue Diário do Mister.

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