08/05/2022

Rendimento = Atitude + Competência; a conquista do título pelo FC Porto

Em 2016, numa ação de formação sobre “liderança no desporto”, o professor Tomaz Morais referiu que o rendimento desportivo, em particular na alta competição, é o resultado do somatório de duas componentes essenciais: atitude e competência. 

A propósito da mais recente Liga Portuguesa bwin conquistada pelo Futebol Clube do Porto – o 30.º campeonato de futebol do clube –, e completamente à margem de todas as polémicas relacionadas com questões de arbitragem, devemos reconhecer que a equipa de Sérgio Conceição bateu inequivocamente qualquer equipa em matéria de atitude (foco, compromisso e sentido coletivo). No que respeita à componente “competência”, foi também o conjunto mais eficaz e regular nas diversas fases e momentos do jogo. 

Para ilustrar a importância da atitude em contexto competitivo, analisemos o lance que, aos 90’+4, decide a vitória do FC Porto no jogo de ontem diante do Sport Lisboa e Benfica. Convido-vos a observar os comportamentos de transição defensiva da maioria dos jogadores da casa, mas designadamente de Adel Taarabt:

 


Em quatro “frames” demonstro o porquê de termos um SL Benfica a 17 pontos do FC Porto e a 11 do Sporting Clube de Portugal. A atitude nestes momentos de transição defensiva tem sido quase norma: lenta, carente de objetividade e entreajuda. Inicialmente, após a execução do pontapé de canto, o equilíbrio defensivo encarnado parecia assegurado, com três jogadores fora da área visitante (figura 1). Uma vez que o grosso dos alívios defensivos geralmente ocorre para o local em que Pepê recolheu a bola, Taarabt e Darwin não apresentam o posicionamento ideal para contrariar um possível contra-ataque. Contudo, nesta fase do jogo, e com o SL Benfica a dar tudo para evitar a festa azul e branca, até é admissível (e vulgar) que haja algum desacerto posicional no cumprimento do equilíbrio defensivo.

 

Figura 1. Início da transição defensiva com o SL Benfica em superioridade numérica fora da área de penálti.

 

Nos episódios de transição defensiva, a atitude competitiva é aferida pelo modo com os jogadores e as equipas reagem à perda da posse de bola. Se a maioria dos jogadores das águias nem esboçou reação para recuperar defensivamente, Darwin – que de resto foi o mais rápido a tentar fechar espaço defensivo –, somente iniciou o sprint após percecionar Taarabt a ser ultrapassado em velocidade por Pepê no duelo 1v1 (figura 2).

 

Figura 2. Desenrolar da transição defensiva, com Taarabt a ser ultrapassado por Pepê.

 

O terceiro “frame” é marcante para o desfecho do contra-ataque. Taarabt, batido em velocidade por Pepê, deveria ter ajustado a corrida de recuperação para fechar o espaço defensivo no corredor central. Com essa possível adaptação tática, equilibraria a relação numérica (Pepê vs. João Mário; Zaidu vs. Taarabt) e, no mínimo, cobriria o espaço vital à entrada da sua área de penálti. Não só não acompanhou Pepê, como não fechou o espaço central, como ainda foi totalmente ultrapassado por Zaidu e pelo árbitro Luís Godinho (figura 3). Uma atitude incompreensível e que não faz jus às exigências competitivas de um clube de referência como é o SL Benfica.

 

Figura 3. O princípio do sucesso do contra-ataque do FC Porto: a “atitude” de Taarabt.

 

O vídeo e o último “frame” mostram que João Mário fez tudo o que podia para temporizar. Dividiu a ocupação espacial para evitar a progressão de Pepê para a baliza e, simultaneamente, para cortar a linha de passe para Zaidu. Por força da desvantagem numérica, não foi bem-sucedido. Taarabt assistiu “a meio gás” ao 2v1, ao golo de Zaidu e à festa do FC Porto (figura 4).

 

Figura 4. O 2v1 do FC Porto que viria a resultar no golo de Zaidum. Taarabt ficou a ver.

 

Em jeito de conclusão, é justo assinalar que a pontuação alcançada pelos portistas não pode dar azo a que análises, no mínimo questionáveis, em torno de mais ou menos centímetros, mais ou menos cartões, mais ou menos penáltis, ofusquem o grupo que mais rendimento desportivo exibiu ao longo da época. Por sua vez, o SL Benfica deve refletir a fundo sobre o que pretende para sua equipa principal e definir um plano estratégico para o alcançar. Nesta busca interna de rumo para o futuro, a “atitude” deverá ser uma componente inegociável para todos, assente numa identidade própria – a famigerada mística – que exclua por completo qualquer manifestação de facilitismo, conformação e irresponsabilidade. 

Parabéns ao FC Porto pelo 30.º título nacional de futebol.

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