19/06/2011

Os Pais como Exemplos Tristes

Os pais são agentes formativos de elevada referência para as crianças. Salvo algumas excepções, é com eles que os miúdos acabam por passar mais tempo desde a primeira infância até à adolescência. Parece-me inegável que a educação dos mais pequenos seja bastante influenciada pelos exemplos que são dados, em casa ou fora dela, pelas figuras adultas de referência mais chegadas a si: os pais.

Particularmente no processo de formação desportiva, é demasiado vulgar encontrarmos maus exemplos daquilo que deve ser o comportamento ou a atitude de um encarregado de educação. Há alguns dias atrás, estava a participar com os meus jovens num torneio e deparei-me com uma cena profundamente triste e hilariante. Na final de Benjamins A (Sub-11) do dito torneio, uma das equipas vencia por 3-0 a outra finalista, curiosamente uma formação de um grande clube de Portugal. Na segunda parte, as circunstâncias modificaram-se e, perto do fim do jogo, o resultado chegou ao 3-3. Um dos jogadores da equipa que tinha estado a vencer sofreu uma falta (dura, por sinal) e um dos pais levantou-se na bancada e gritou: "Levanta-te, pá, agora já não estás a vencer. Estás a queimar tempo para quê?". Atenção, que estávamos a falar de crianças com 10-11 anos de idade. Ora, o pai do miúdo magoado também se levantou e o verniz começou a estalar.

Mais tarde, num contra-ataque, a reviravolta consumou-se e a equipa que perdia 3-0, venceu o torneio por 3-4. Enquanto as crianças faziam a festa, os pais "vencedores" provocavam os outros. Daí até à pancadaria geral foi um estalar de dedos: mulheres a ser arrastadas pelos cabelos bancada abaixo, homens ao soco e ao pontapé, etc. As crianças "vencedoras" pararam de fazer a festa e as "vencidas" pararam de chorar para ver o "espectáculo". As crianças/jovens que estavam na bancada tiveram de se afastar para não serem agredidas também. Um triste exemplo daquilo que é a nossa sociedade actual, onde não imperam valores, nem princípios morais e éticos.

Senti-me envergonhado com o que assisti e cada vez mais constato que, tal como um professor ou treinador tem de tirar um curso para educar ou formar, assim os pais deveriam fazer o mesmo. Não confio no bom senso da nossa sociedade, nem tão pouco naquela que deveria ser uma capacidade natural de educar por intuição. O desejo de vencer, de ser superior, está de tal modo incrustrado nas mentalidades que o respeito pelo outro desvanece-se a cada dia que passa. Esta é a verdadeira crise actual. Um fenómeno que só ultrapassaremos quando tivermos realmente de nos unir para sobreviver.

07/06/2011

O Sétimo Selo

O Sétimo Selo é um romance de José Rodrigues dos Santos. O texto inclui a divulgação de uma série de problemas mundiais relacionada com a dependência excessiva da produção petrolífera e os danos que tal acarreta no nosso meio ambiente, designadamente mediante o aquecimento global.


O enredo é cativante e remete-nos para a preponderância de fortes interesses económicos, conducentes a que muitos países descurem o que poderá ser o final da civilização humana, tal como a conhecemos hoje. A reflexão sobre o futuro do nosso planeta é uma constante; a sobrevivência da Terra depende da implementação de novas fontes energéticas menos poluentes, até porque as reservas de petróleo são finitas e já cruzaram o pico de produção. Por tudo isto, é um livro cuja leitura recomendo.

04/06/2011

Versos de uma Vida por José Gomes Bartolomeu



No passado dia 2 de Junho de 2011 (Quinta-feira), dia da Vila de Monchique, a Junta de Freguesia de Monchique promoveu diversas iniciativas interessantes. Entre elas, foi apresentando o livro "Versos de uma Vida" de José Gomes Bartolomeu. Fizeram-me o convite para fazer parte do painel de apresentação, facto que aceitei com enorme prazer. Em seguida, deixo em registo as palavras endereçadas à audiência:

Há cerca de cinco anos que eu dou aulas de Ginástica Sénior na Santa Casa da Misericórdia de Monchique, embora o Sr. José Gomes Bartolomeu apenas as frequente há pouco mais de três anos. Cedo se revelou uma pessoa calma, pacata e bom conversador. Quebrado que foi o gelo inicial do primeiro trimestre, o Sr. Zé Gomes, como por cá é conhecido, cometeu a proeza de recitar uma glosa sua, portanto, 44 versos (4 do mote e 40 das 4 estrofes; cada estrofe contém 10 versos) sem hesitar uma palavra que fosse. Fiquei estupefacto! Pelo entusiasmo com que o fazia e pela capacidade de memória absolutamente invulgar para uma pessoa de 80 anos. Por isso, captou a minha atenção e admiração.

Esporadicamente, lembrava-se e lá recitava uma das suas obras, até que, mais recentemente, começou a levar as suas quadras em papel para me mostrar nas aulas. Porém, fazia-o de forma humilde, reconhecendo os seus erros. Isso nunca o desmotivou e continuou empenhado no seu ofício. Os outros residentes do lar costumam dizer que o Sr. Zé Gomes está no escritório a escrever. O escritório é o seu quarto. Escrever é mais do que um simples passatempo, trata-se de uma paixão. Para além do talento do Sr. Zé Gomes, e por reconhecer que as suas memórias escritas são património histórico-cultural do concelho de Monchique, foi a sua enorme paixão pela escrita que me levou a propor à Junta de Freguesia de Monchique que se fizesse um livro com algumas das suas glosas.

Daí à obra que hoje temos pela frente foi um pequeno salto. Já agora, felicito o Dr. Carlos Abafa, a Dr. Ana Paula Almeida e o Dr. Eduardo Duarte pelo excelente trabalho na composição e na edição do livro: está simplesmente espectacular. Acreditem que vale mesmo a pena ler, pois contém versos lindíssimos. Dito isto, e para finalizar a minha intervenção, o que acho mais interessante é que a vida desta obra, que é cultura, brota da simplicidade e da perseverança de José Gomes Bartolomeu, um poeta popular, isto é, um poeta do povo e, acima de tudo, um poeta monchiquense.

Muito obrigado pela vossa atenção!

29/05/2011

A Final em Palestra

Disputar uma final é sempre especial. Na minha perspectiva, torna-se ainda mais especial quando o fazemos representando o "nosso" clube de sempre; aquele que nos ajudou a crescer, pessoal e desportivamente. Infelizmente, nunca tive oportunidade de o fazer enquanto jogador federado, porém ontem fi-lo enquanto treinador da equipa de Infantis (Sub-13) do Juventude Desportiva Monchiquense.

Por isso, e sabendo da importância das palavras que se transmitem antes do evento, preparei cuidadosamente a minha intervenção, na esperança que pudessem estimular as melhores atitudes e comportamentos dos jovens numa situação competitiva excepcionalmente emotiva. Acredito que o teor da palestra é um factor que qualquer treinador não deve negligenciar e, como tal, decidi partilhar a minha experiência neste espaço.

Habitualmente, preparo a palestra para um máximo de 15 minutos; mais do que isso, satura os miúdos e a mensagem final pouco é assimilada. Costumo ainda dividir a palestra inicial em três fases: introdutória, estratégico-táctica e motivacional. A fase introdutória (2-3 minutos) permite-me contextualizar a participação no jogo em causa, em função da actualidade desportiva e das competências trabalhadas e adquiridas ao longo da época. Na fase estratégico-táctica (7-8 minutos), enuncio o "sete" inicial, as missões tácticas dos jogadores e os métodos ofensivo e defensivo em diversas circunstâncias do jogo (processo ofensivo e defensivo, pontapés de canto, pontapés livres e lançamentos laterais). Por norma, focalizo sempre um ou dois aspectos da equipa adversária, caso tenha na minha posse alguma informação sobre a mesma. A fase motivacional (5 minutos) serve para despertar os jogadores e deve conter uma mensagem de optimismo e crença nas suas capacidades individuais e, fundamentalmente, na qualidade do colectivo. O apelo, por um lado, deve estimular o organismo para a acção sem, por outro lado, responsabilizar em excesso, pois pode gerar muita ansiedade. Terminar com simples expressões como um "divirtam-se no jogo" ou "sintam prazer naquilo que fazem" tem o condão de acalmar estados demasiado excitados.

Assim, deixo o exemplo da final do Torneio Complementar de Futebol 7, na qual os "nossos" infantis venceram a boa equipa do Clube de Futebol "Os Armacenenses" (crónica do jogo aqui):

Fase introdutória: "Hoje, dia 28 de Maio de 2011, vamos jogar esta final, precisamente no mesmo dia que o Barcelona e o Manchester United jogam a final da Liga dos Campeões. Portanto, é um dia tão especial para nós, como é para eles: é a nossa Liga dos Campeões! Apesar disso, e de se tratar de uma final, quero que percebam que a aprendizagem e a evolução que registaram ao longo da época já ninguém vos tira. E foi considerável! Não são a mesma equipa de Setembro passado; estão, globalmente, muito melhores e capazes para dar excelentes respostas em situações como esta". Os vossos desempenhos a partir da primeira volta da 1ª fase têm sido sempre em crescendo, exemplo disso são as prestações verificadas na 2ª fase, nos quartos de final e na meia-final. Acima de tudo, entendam que funcionam muito melhor colectivamente e isso só se obtém com muito empenho, espírito de sacrifício e solidariedade".

Fase estratégico-táctica: (por se tratar de aspectos muito específicos da nossa organização colectiva, julgo que não faz muito sentido aprofundar neste contexto).

Fase motivacional: "Qualquer desportista quando entra em competição quer vencer. É bem verdade que devemos saber ganhar e perder, mas não me digam que gostam de perder, porque isso é uma atitude totalmente anti-desportiva. Não, vocês, tal como a equipa técnica, querem vencer e vão entrar em campo com uma postura vencedora. No regulamento da Associação de Futebol do Algarve terminam com a seguinte referência «haverá troféu e medalhas para os vencedores» e, reparem, não contempla qualquer brinde para os derrotados. Pois é, jovens, aos 12/13 anos têm oportunidade de vencer um título distrital, coisa que o nosso clube já não conquista há mais do que uma década; imaginem quantas pessoas não gostariam de entrar naquele campo e dar o máximo para ficar na história do JDM e do concelho de Monchique? Se eu tivesse essa possibilidade, trocava agora com qualquer um de vocês: entrava a correr dentro do campo. Mas não o posso fazer, por isso é que acredito e tenho muita fé que vocês o vão fazer por mim e melhor do que eu faria na vossa idade. ACREDITEM em vós, ACREDITEM na equipa, joguem como se fossem só um e lembrem-se que uma situação desta, não raras vezes, só ocorre uma vez na vida. Antes de irmos aquecer, só vos peço que se divirtam, tenham prazer em jogar futebol e que lutem, durante os 60 minutos, pelo vosso sonho. Atitude, malta; força, JDM!"

18/05/2011

Linha de Passe de Parabéns!


O blog Linha de Passe comemora hoje cinco anos de existência. Após 231 "posts" e 32 658 visitas, posso congratular-me por ter aguentado este espaço virtual durante meia década. Nem sempre é fácil mantê-lo actualizado, mas vou-me esforçando para isso. A qualidade dos textos também é variável, em função da minha disponibilidade e inspiração. Há largos dias que simplesmente não sai nada de jeito.

Acima de tudo, agradeço a todos os leitores, assíduos ou apenas de passagem, pelo tempo dispendido a ler algo que, de alguma forma, me é significativo. Se para vós também o foi, embora concordem ou não com as ideias expostas, então julgo que o objectivo do Linha de Passe tem sido alcançado.

Muito obrigado pela vossa atenção!