26/05/2016

Homenagem aos Infantis A do Portimonense SC, Época 2015/2016

No início desta época – 2015/2016 – foi-me proposto um novo desafio como treinador: colaborar com o Portimonense SC no escalão de Infantis (Sub-13). Algum tempo depois, viemos a saber que a Associação de Futebol do Algarve iria lançar, pela primeira vez na história do futebol na região, a modalidade Futebol 9 para o escalão etário em questão. Após nove épocas consecutivas a treinar miúdos no Futebol 7 (2005/2006 – 2013/2014) e uma época no Futebol 11 (2014/2015), este constituía um desafio suplementar, marcado pela novidade.

Figura 1. Plantel dos Infantis A (Sub-13) do Portimonense SC, 2015/2016.
(em falta 9 elementos dos Infantis C que também se sagraram campeões).

Os desafios foram ultrapassados de uma forma absolutamente gratificante, fruto do talento dos nossos jovens praticantes mas, sobretudo, da sua capacidade de trabalho e solidariedade. A atitude é essencial para vingarmos em qualquer área da sociedade e no desporto essa premissa não foge à regra. Se é óbvio que o trabalho de um treinador de formação deve assentar no aperfeiçoamento das capacidades individuais da criança/jovem, não é menos verídico que o desenvolvimento de competências sociais deve ser convenientemente ponderado. A atitude para colaborar, cooperar e ser solidário com os companheiros de equipa é mais determinante do que se pensa no desporto, em particular nos desportos coletivos, nos quais a base do sucesso individual é e será sempre o êxito coletivo. Deste modo, apresentámos a época como uma corrida («RACE») em que os vencedores se pautam por R – Respeito, A – Aprendizagem, C – Cooperação e E – Empenho. E o grupo que formámos foi forte, muito forte mesmo, o que foi bastante evidente nos poucos momentos menos bons com que nos deparámos. Não tenho dúvida que foi a chave para uma temporada memorável: 26 jogos e 26 vitórias no Campeonato Distrital de Infantis – Futebol 9 (figura 2); vencedores do torneio Albufeira EuroCopa 2016 (Futebol 11) e do Torneio Centenário – Cidade de Portimão 2016 (Futebol 9).

Figura 2. Classificação final no Campeonato Distrital de Infantis - Futebol 9 (AF Algarve).

Os números valem o que valem nestas idades e os títulos são meros incentivos para um futuro que é por demais incerto e tantas vezes cruel. A noção de que o respeito, a cooperação e o empenho em prol de objetivos comuns compensam e produzem resultados práticos foi a melhor lição de todas e serve para a vida. As estatísticas dizem que apenas uma percentagem irrisória de jovens praticantes se tornam profissionais de futebol, mas é legítimo que todos estes jovens continuem a nutrir o sonho de jogar em grandes palcos, porque «o sonho comanda a vida» e «quando o Homem sonha, a obra nasce», contudo, sem nunca descurar a formação académica.

Pessoalmente, enfatizo a aprendizagem recíproca no seio do grupo, a amizade e, claro está, o gosto pela prática do bom futebol: o jogo de triângulos, as combinações táticas ofensivas, as coberturas, os equilíbrios e as saídas de zonas de pressão. A homenagem da equipa técnica, na qual estão incluídos João Liberal (treinador adjunto), António Sagreiro (treinador de guarda-redes), José Pio e Pedro Simões (delegados), a estes jovens surge sob a forma de imagens. Eis aqueles que foram eleitos os dez melhores golos no campeonato distrital; memórias bonitas que irão perdurar pela posterioridade, fazendo jus ao nosso lema: «se jogarmos para equipa, a equipa, mais cedo ou mais tarde, jogará para nós».


Parabéns a todos, em especial aos nossos rapazes. Força, Portimonense!

18/05/2016

Uma década de Linha de Passe

Faz hoje dez anos que escrevi a «Reflexão Inicial”. Faz hoje dez anos que surgiu a analogia com um qualquer jogo desportivo coletivo: «a vida não é mais que uma questão de linhas de passe». Uma analogia que serve de mote para este blogue.

Figura. Décimo aniversário do blogue Linha de Passe.

Entretanto, abriram-se múltiplas linhas de passe, fecharam-se outras tantas. Por vezes, o passe chegou ao destinatário, noutras ocasiões foi um fracasso total. Dez anos de alegrias, tristezas, pensamentos existenciais, homenagens, textos técnicos e um punhado de publicações de cariz científico. A minha cara-metade, que teve a santa paciência de ler todos os 370 textos escritos, diz que mudei ao longo dos anos. Que cresci e amadureci. Quis o destino que o dia 18 de maio fosse também o nosso dia, tal como o dia do Linha de Passe.

Haja temas para, pelo menos, mais dez anos de Linha de Passe. Haja saúde para, no mínimo, mais cinquenta com o meu amor Patrícia; a melhor linha de passe que a vida me proporcionou.

08/05/2016

O «conto de fadas» Leicester City FC

Os britânicos chamam-lhe «fairytale», outros referem-se a «fantasy football» ou «real football manager», mas é pura realidade: o Leicester City Football Club venceu a mais que competitiva Barclays FA Premier League.

Figura 1. O treinador vencedor - Claudio Ranieri (fonte: www.abola.pt).

No dia da consagração como vencedores da competição, o líder italiano Claudio Ranieri fez questão de frisar: «Esta foi uma época de doidos, as grandes equipas não estavam consistentes e nós tivemos consistência». As variáveis contextuais têm o condão de adquirir contornos decisivos em competições longas e o facto de o Leicester não ter compromissos europeus e de ter saído cedo das outras provas internas (taças) contribuiu bastante para a gestão do plantel e para potenciar a qualidade do trabalho nas sessões de treino. Aliás, esta questão foi publicamente assumida pelo staff técnico que envolve a primeira equipa do Leicester. Convido-vos a ler a peça da BBC Leicester City: The science behind their Premier League title.

Pode-se vencer um ou outro jogo com alguma dose de sorte, mas nenhuma equipa é campeã ao fim de 36 jornadas só com sorte. A competência, a qualidade do trabalho desenvolvido e, sobretudo, o trabalho de equipa – «teamwork» – são particularidades essenciais para que uma equipa alcance o sucesso numa época desportiva. Por exemplo, o psicólogo Ken Way elogiou o manager Claudio Ranieri, ao afirmar que é um segundo psicólogo do grupo e que proferiu frases que o deixou de queixo em baixo. Por sua vez, Claudio Ranieri considera fundamentais e profícuas as informações e os dados disponibilizados por todos os elementos do staff das ciências do desporto (i.e., especialistas em análise da performance, condição física, força e potência, fisiologia, psicologia e nutrição). Finalmente, é de destacar a envolvência e a mobilização de todos, do grupo, em torno de objetivos comuns. Este trabalho coletivo, de rigor e repleto de valores sociais derrubou o «futebol-industria», no qual o dinheiro impera e conquista vitórias e títulos (figura 2).

Figura 2. Relação entre custo do plantel e posição na Premier League.
(fonte: BBC Sport).

O «conto de fadas» Leicester FC trouxe-nos de volta o verdadeiro e genuíno futebol, colocando indiretamente em causa os preceitos pelos quais a nossa sociedade se rege atualmente. Vale a pena refletir sobre a lição dada por este pequeno clube.

20/04/2016

Enciclopédia da Estória Universal – Recolha de Alexandria (2012)

Afonso Cruz é um escritor português que, segundo nota da contracapa do livro, «vive no campo e gosta de cerveja». Nesta publicação da editora Alfaguara, esta enciclopédia revela-nos algumas sábias subtilezas que o mundo esqueceu ou ignorou.

Figura. Capa do livro «Enciclopédia da Estória Universal - Recolha de Alexandria», 
de Afonso Cruz.

Acerca do tema «Evolução da Sociedade», o autor invoca as palavras de Tsilia Kacev (1979), numa exposição de Paris:

Chama-se evolução da sociedade ao tempo que se leva a concordar com os artistas do século passado.
(p. 49)

Na minha perspetiva, o texto intitulado «Sintaxe Interior» atingiu o píncaro da excelência:

Há palavras que nunca se dizem, à cautela, pois são tremendas. (…) As pessoas dizem-nas exibindo a nudez das suas letras e das suas fonéticas, sem pudor. Mas as pessoas estão enganadas. As palavras ainda têm poder e movem mundos. Criam mundos. Desfazem mundos. E só os inconscientes as atiram para fora da boca como perdigotos.
(Frantiska Möller, p. 87-88)

22/03/2016

A «verticalidade» de Messi na origem da perturbação da organização defensiva adversária

Lionel Messi dispensa apresentações. No confronto mais recente com o Arsenal, nos oitavos-de-final da UEFA Champions League 2015/2016, o craque argentino voltou a demonstrar porque é que as mudanças de ritmo no jogo de futebol são essenciais para quebrar a simetria entre equipas em processos opostos: ofensivo e defensivo. Além disso, as mudanças de ritmo ocorrem em espaços propícios para perturbar a organização defensiva adversária e criar situações iminentes de golo. Chamo a atenção para os movimentos verticais (em profundidade) de Messi, tendo sempre a preocupação de ter, no mínimo, um companheiro com quem pode realizar a combinação tática direta (figura 1).

Figura 1. Os movimentos em profundidade (verticais) de Messi.

Messi é inteligente a procurar os espaços que explora para provocar a perturbação (corredor central), é perspicaz na forma como temporiza para criar pontos de apoio laterais ou verticais e, posteriormente, objetivo na mudança de ritmo (aceleração para a baliza; a «verticalidade») que realiza com a plena intenção de concretizar ou contribuir para o golo.


Como já referi anteriormente, é um enorme prazer poder desfrutar do futebol num tempo em que Messi vive, joga e faz jogar.