20/07/2011

Orgulhosamente Monchiquense

Quem me conhece sabe que sou oriundo da linda Vila de Monchique. Adoro a minha terra e não admito que lhe apontem defeitos, apesar de, como qualquer outra coisa, não se ver livre deles.

Após concluir a licenciatura, aproveitei a oportunidade de regressar à terra natal e agarrei-a com unhas e dentes. Cheguei motivado para fazer algo por Monchique e, mesmo que pouco, contribuir para melhorar e elevar o concelho. É essencialmente por isso que há cerca de seis anos integro a estrutura técnica do clube local - Juventude Desportiva Monchiquense - o meu clube de sempre. Sou sócio e foi lá que dei os primeiros passos nos meandros do Desporto (Futebol e Karaté), mal sabia que um dia seria professor de Educação Física.

Têm surgido outras possibilidades, mas este é o modo mais puro com que retribuo todo o positivismo que Monchique me proporcionou durante a infância e a juventude. Não somente pelo lindo meio físico, mas sobretudo pela massa humana que lhe concede especial significado.

Conjuntamente com outros dignos interessados (poucos mas bons, atrevo-me a escrever) estabelecemos um rumo: devolver o JDM aos monchiquenses e apostar forte da formação. Uma equipa, na verdadeira acepção da palavra, que limou inúmeras arestas, poliu superfícies rugosas e fez brilhar algumas pedras preciosas. As mesmas que, infelizmente, não brilharam tanto nas mãos de outrém com, supostamente, melhores intenções e/ou futuros. Penso para mim que "o bom filho a casa torna", mas não só não tornaram, como toldaram mentalidades. O projecto assim perde piada, pois deixamos de lutar em prol do mesmo.

Uma terra como esta merece que se erga aquela força aglutinadora que galga quaisquer barreiras, de que índole sejam, à sua passagem: o orgulho de pertença a uma comunidade. Sinto que falhámos a esse nível; não transmitimos convenientemente o orgulho de ser de Monchique, o orgulho de lutar por Monchique, a real essência do Orgulho Monchiquense.

Caso contrário, não partiriam.

19/06/2011

Os Pais como Exemplos Tristes

Os pais são agentes formativos de elevada referência para as crianças. Salvo algumas excepções, é com eles que os miúdos acabam por passar mais tempo desde a primeira infância até à adolescência. Parece-me inegável que a educação dos mais pequenos seja bastante influenciada pelos exemplos que são dados, em casa ou fora dela, pelas figuras adultas de referência mais chegadas a si: os pais.

Particularmente no processo de formação desportiva, é demasiado vulgar encontrarmos maus exemplos daquilo que deve ser o comportamento ou a atitude de um encarregado de educação. Há alguns dias atrás, estava a participar com os meus jovens num torneio e deparei-me com uma cena profundamente triste e hilariante. Na final de Benjamins A (Sub-11) do dito torneio, uma das equipas vencia por 3-0 a outra finalista, curiosamente uma formação de um grande clube de Portugal. Na segunda parte, as circunstâncias modificaram-se e, perto do fim do jogo, o resultado chegou ao 3-3. Um dos jogadores da equipa que tinha estado a vencer sofreu uma falta (dura, por sinal) e um dos pais levantou-se na bancada e gritou: "Levanta-te, pá, agora já não estás a vencer. Estás a queimar tempo para quê?". Atenção, que estávamos a falar de crianças com 10-11 anos de idade. Ora, o pai do miúdo magoado também se levantou e o verniz começou a estalar.

Mais tarde, num contra-ataque, a reviravolta consumou-se e a equipa que perdia 3-0, venceu o torneio por 3-4. Enquanto as crianças faziam a festa, os pais "vencedores" provocavam os outros. Daí até à pancadaria geral foi um estalar de dedos: mulheres a ser arrastadas pelos cabelos bancada abaixo, homens ao soco e ao pontapé, etc. As crianças "vencedoras" pararam de fazer a festa e as "vencidas" pararam de chorar para ver o "espectáculo". As crianças/jovens que estavam na bancada tiveram de se afastar para não serem agredidas também. Um triste exemplo daquilo que é a nossa sociedade actual, onde não imperam valores, nem princípios morais e éticos.

Senti-me envergonhado com o que assisti e cada vez mais constato que, tal como um professor ou treinador tem de tirar um curso para educar ou formar, assim os pais deveriam fazer o mesmo. Não confio no bom senso da nossa sociedade, nem tão pouco naquela que deveria ser uma capacidade natural de educar por intuição. O desejo de vencer, de ser superior, está de tal modo incrustrado nas mentalidades que o respeito pelo outro desvanece-se a cada dia que passa. Esta é a verdadeira crise actual. Um fenómeno que só ultrapassaremos quando tivermos realmente de nos unir para sobreviver.

07/06/2011

O Sétimo Selo

O Sétimo Selo é um romance de José Rodrigues dos Santos. O texto inclui a divulgação de uma série de problemas mundiais relacionada com a dependência excessiva da produção petrolífera e os danos que tal acarreta no nosso meio ambiente, designadamente mediante o aquecimento global.


O enredo é cativante e remete-nos para a preponderância de fortes interesses económicos, conducentes a que muitos países descurem o que poderá ser o final da civilização humana, tal como a conhecemos hoje. A reflexão sobre o futuro do nosso planeta é uma constante; a sobrevivência da Terra depende da implementação de novas fontes energéticas menos poluentes, até porque as reservas de petróleo são finitas e já cruzaram o pico de produção. Por tudo isto, é um livro cuja leitura recomendo.

04/06/2011

Versos de uma Vida por José Gomes Bartolomeu



No passado dia 2 de Junho de 2011 (Quinta-feira), dia da Vila de Monchique, a Junta de Freguesia de Monchique promoveu diversas iniciativas interessantes. Entre elas, foi apresentando o livro "Versos de uma Vida" de José Gomes Bartolomeu. Fizeram-me o convite para fazer parte do painel de apresentação, facto que aceitei com enorme prazer. Em seguida, deixo em registo as palavras endereçadas à audiência:

Há cerca de cinco anos que eu dou aulas de Ginástica Sénior na Santa Casa da Misericórdia de Monchique, embora o Sr. José Gomes Bartolomeu apenas as frequente há pouco mais de três anos. Cedo se revelou uma pessoa calma, pacata e bom conversador. Quebrado que foi o gelo inicial do primeiro trimestre, o Sr. Zé Gomes, como por cá é conhecido, cometeu a proeza de recitar uma glosa sua, portanto, 44 versos (4 do mote e 40 das 4 estrofes; cada estrofe contém 10 versos) sem hesitar uma palavra que fosse. Fiquei estupefacto! Pelo entusiasmo com que o fazia e pela capacidade de memória absolutamente invulgar para uma pessoa de 80 anos. Por isso, captou a minha atenção e admiração.

Esporadicamente, lembrava-se e lá recitava uma das suas obras, até que, mais recentemente, começou a levar as suas quadras em papel para me mostrar nas aulas. Porém, fazia-o de forma humilde, reconhecendo os seus erros. Isso nunca o desmotivou e continuou empenhado no seu ofício. Os outros residentes do lar costumam dizer que o Sr. Zé Gomes está no escritório a escrever. O escritório é o seu quarto. Escrever é mais do que um simples passatempo, trata-se de uma paixão. Para além do talento do Sr. Zé Gomes, e por reconhecer que as suas memórias escritas são património histórico-cultural do concelho de Monchique, foi a sua enorme paixão pela escrita que me levou a propor à Junta de Freguesia de Monchique que se fizesse um livro com algumas das suas glosas.

Daí à obra que hoje temos pela frente foi um pequeno salto. Já agora, felicito o Dr. Carlos Abafa, a Dr. Ana Paula Almeida e o Dr. Eduardo Duarte pelo excelente trabalho na composição e na edição do livro: está simplesmente espectacular. Acreditem que vale mesmo a pena ler, pois contém versos lindíssimos. Dito isto, e para finalizar a minha intervenção, o que acho mais interessante é que a vida desta obra, que é cultura, brota da simplicidade e da perseverança de José Gomes Bartolomeu, um poeta popular, isto é, um poeta do povo e, acima de tudo, um poeta monchiquense.

Muito obrigado pela vossa atenção!

29/05/2011

A Final em Palestra

Disputar uma final é sempre especial. Na minha perspectiva, torna-se ainda mais especial quando o fazemos representando o "nosso" clube de sempre; aquele que nos ajudou a crescer, pessoal e desportivamente. Infelizmente, nunca tive oportunidade de o fazer enquanto jogador federado, porém ontem fi-lo enquanto treinador da equipa de Infantis (Sub-13) do Juventude Desportiva Monchiquense.

Por isso, e sabendo da importância das palavras que se transmitem antes do evento, preparei cuidadosamente a minha intervenção, na esperança que pudessem estimular as melhores atitudes e comportamentos dos jovens numa situação competitiva excepcionalmente emotiva. Acredito que o teor da palestra é um factor que qualquer treinador não deve negligenciar e, como tal, decidi partilhar a minha experiência neste espaço.

Habitualmente, preparo a palestra para um máximo de 15 minutos; mais do que isso, satura os miúdos e a mensagem final pouco é assimilada. Costumo ainda dividir a palestra inicial em três fases: introdutória, estratégico-táctica e motivacional. A fase introdutória (2-3 minutos) permite-me contextualizar a participação no jogo em causa, em função da actualidade desportiva e das competências trabalhadas e adquiridas ao longo da época. Na fase estratégico-táctica (7-8 minutos), enuncio o "sete" inicial, as missões tácticas dos jogadores e os métodos ofensivo e defensivo em diversas circunstâncias do jogo (processo ofensivo e defensivo, pontapés de canto, pontapés livres e lançamentos laterais). Por norma, focalizo sempre um ou dois aspectos da equipa adversária, caso tenha na minha posse alguma informação sobre a mesma. A fase motivacional (5 minutos) serve para despertar os jogadores e deve conter uma mensagem de optimismo e crença nas suas capacidades individuais e, fundamentalmente, na qualidade do colectivo. O apelo, por um lado, deve estimular o organismo para a acção sem, por outro lado, responsabilizar em excesso, pois pode gerar muita ansiedade. Terminar com simples expressões como um "divirtam-se no jogo" ou "sintam prazer naquilo que fazem" tem o condão de acalmar estados demasiado excitados.

Assim, deixo o exemplo da final do Torneio Complementar de Futebol 7, na qual os "nossos" infantis venceram a boa equipa do Clube de Futebol "Os Armacenenses" (crónica do jogo aqui):

Fase introdutória: "Hoje, dia 28 de Maio de 2011, vamos jogar esta final, precisamente no mesmo dia que o Barcelona e o Manchester United jogam a final da Liga dos Campeões. Portanto, é um dia tão especial para nós, como é para eles: é a nossa Liga dos Campeões! Apesar disso, e de se tratar de uma final, quero que percebam que a aprendizagem e a evolução que registaram ao longo da época já ninguém vos tira. E foi considerável! Não são a mesma equipa de Setembro passado; estão, globalmente, muito melhores e capazes para dar excelentes respostas em situações como esta". Os vossos desempenhos a partir da primeira volta da 1ª fase têm sido sempre em crescendo, exemplo disso são as prestações verificadas na 2ª fase, nos quartos de final e na meia-final. Acima de tudo, entendam que funcionam muito melhor colectivamente e isso só se obtém com muito empenho, espírito de sacrifício e solidariedade".

Fase estratégico-táctica: (por se tratar de aspectos muito específicos da nossa organização colectiva, julgo que não faz muito sentido aprofundar neste contexto).

Fase motivacional: "Qualquer desportista quando entra em competição quer vencer. É bem verdade que devemos saber ganhar e perder, mas não me digam que gostam de perder, porque isso é uma atitude totalmente anti-desportiva. Não, vocês, tal como a equipa técnica, querem vencer e vão entrar em campo com uma postura vencedora. No regulamento da Associação de Futebol do Algarve terminam com a seguinte referência «haverá troféu e medalhas para os vencedores» e, reparem, não contempla qualquer brinde para os derrotados. Pois é, jovens, aos 12/13 anos têm oportunidade de vencer um título distrital, coisa que o nosso clube já não conquista há mais do que uma década; imaginem quantas pessoas não gostariam de entrar naquele campo e dar o máximo para ficar na história do JDM e do concelho de Monchique? Se eu tivesse essa possibilidade, trocava agora com qualquer um de vocês: entrava a correr dentro do campo. Mas não o posso fazer, por isso é que acredito e tenho muita fé que vocês o vão fazer por mim e melhor do que eu faria na vossa idade. ACREDITEM em vós, ACREDITEM na equipa, joguem como se fossem só um e lembrem-se que uma situação desta, não raras vezes, só ocorre uma vez na vida. Antes de irmos aquecer, só vos peço que se divirtam, tenham prazer em jogar futebol e que lutem, durante os 60 minutos, pelo vosso sonho. Atitude, malta; força, JDM!"