02/01/2008

"Não tenho tempo (...)"

Vivemos na Era do "não tenho tempo". Ocasionalmente, eu próprio dou comigo, desagradado, a balbuciar essa expressão inegavelmente útil para o que nos convém.

- E que tal fazermos isto?
- Hoje não dá, não tenho tempo.
Posteriormente, bem feitas as contas, afinal o tempo que não tinha, passou e não fiz nada de jeito.

Vivemos a um ritmo alucinante, a Lei de Darwin é consistente quando diz que "sobrevive o mais apto". Numa sociedade progressivamente mais competitiva e perante a negra taxa de desemprego, o espaço e o tempo para nos movimentarmos livremente pouco ou nada nos dizem. As pessoas não trabalham para viver, vivem para trabalhar como se fossem inorgânicos, sem sentimentos, sem motivações e sem alegria.

As relações amorosas ressentem-se disso. As pessoas não têm tempo para pensar e, por inerência, para resolver os seus problemas. Como refere o psiquiatra Júlio Machado Vaz, muitas relações acabam porque as pessoas não investem algum tempo a procurar soluções para os seus problemas, inúmeras vezes perfeitamente ultrapassáveis. Ao invés, para não perder o precioso tempo, limitam-se a engolir um anti-depressivo qualquer. É fácil, não consome tempo e alivia a dor, mas em termos de resultados práticos é igual a zero.

Actualmente, o tempo não é para "ter" como se tratasse de um bem material; o tempo "arranja-se" como se um fosse um ingrediente fulcrar para melhorar a receita do nosso dia-a-dia.

Votos de um óptimo 2008.

2 comentários:

o provinciano disse...

Estou parcialmente de acordo com o Carlos, e só não estou na totalidade, porque há uma nova classe de cidadãos, homens e mulheres, os chamados reformados precoces, ainda jovens, que têm tempo para tudo e mais alguma coisa. E para passar o tempo é por vezes um problema complicado, quando as possibilidades económicas não abundam, para lhes permitir largos “voos” para outras paragens mais acolhedoras e românticas.

Carlos Humberto Almeida disse...

Concordo consigo, caro Provinciano.

Fui palerma, "não tive tempo" para pensar nessa nova classe de cidadãos. :)

Há sempre coisas para fazer, mesmo sem grandes possibilidades económicas. Depende como cada qual gere o seu tempo e as suas possibilidades, sabendo de antemão que não podemos ter tudo.

Voltando a citar Júlio Machado Vaz: "Continuo a não acreditar na felicidade, somente em momentos felizes". Nesse caso, "tempo" não falta, então cabe-nos a tarefa de de ir arranjando "momentos felizes", como que de "tempo" se tratasse. Julgo eu...

Saudações Monchiquenses!