11/05/2009

Teoria do Funcionamento Probabilístico

A abordagem ecológica do comportamento humano baseia-se em teorias e abordagens que procuram explicar o porquê de actuarmos da forma que actuamos, nos mais diversos contextos. A Teoria do Funcionamento Probabilístico é uma delas, tendo sido proposta por Burnswik, nos meados do séc. XX.

Em traços gerais, esta teoria rejeita a psicologia centrada somente no organismo (i.e., indivíduo) e defende a relevância das relações recíprocas entre o indivíduo e o seu envolvimento. Com base nesta premissa, adquiriu uma forma concreta no modelo da lente, o qual sustenta que o indivíduo não é capaz de percepcionar o descriptor distal directamente (o estado do envolvimento, p. ex., a trajectória da bola), porém deve inferir o acontecimento a partir de pistas ou indicadores “probabilísticos” proximais, mediante os quais efectua julgamentos e tomadas de decisão (Araújo, 2005, 2006; Borba, 2007).

O golo de Pedrão, da equipa brasileira Barueri num jogo contra o Sport Recife, demonstra claramente o que Burnswik sustenta. Contudo, as pistas ou indicadores probabilísticos percepcionados ou calculados pelo defensor do Sport Recife não surtiram muito efeito, na medida em que, qual criança dos escalões de formação de base, deixou a bola bater no solo e entrar, sorrateiramente, na sua baliza.

Muitos dirão: "ah e tal, ele não estava à espera". Pois não estava, a probabilidade de acontecer um golo assim é extremamente reduzida, mas ficar a olhar nunca é solução, nomeadamente naquela zona do terreno de jogo. Sem tirar valor ao jogador do Sport Recife (até porque nunca o vi a jogar), não pude deixar de recordar uma frase batida no meio futebolístico: os bons jogadores evidenciam-se nos momentos mais imprevisíveis do jogo.

REFERÊNCIAS

Araújo, D. (2005). A psicologia ecológica e a teoria dos sistemas dinâmicos. In D. Araújo (Ed.), O contexto da decisão – A acção táctica no desporto (pp. 61-70). Lisboa: Visão e Contextos.

Araújo, D. (2006). Tomada de decisão no desporto. Lisboa: FMH Edições.

Borba, R. (2007). Estudo descritivo e comparativo do processo ofensivo e da utilização do espaço nas variantes de jogo Futebol 4 e Futebol 7. Tese de mestrado não publicada, Faculdade de Motricidade Humana – Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.

2 comentários:

edu disse...

E agora, cruficica-se o defesa pela falha? E os outros colegas que, displicentemente deixaram que a bola chegasse até à área que deviam manter inviolada?

Carlos Humberto Almeida disse...

Hey Edu,

O meu objectivo não era crucificar o defesa.

Toda a equipa tem culpas no cartório, apenas me quis focalizar mesmo na sua reacção àquela situação extremamente imprevista. Provavelmente, 95% dos jogadores reagiria da mesma forma e isso não inviabiliza que sejam competentes nas suas funções.

Porém, naquele caso específico, o jogador do Sport Recife puderia ter actuado de forma menos passiva, ainda que admito que existam inúmeras variáveis plausíveis que possa determinar aquele comportamento.

Se fosse treinador dele não o crucificaria, mas chamar-lhe-ia a atenção para, numa próxima situação análoga, procurar intervir sobre a bola, até porque o trabalho de uma equipa de alto rendimento não pode ficar condicionado pelo mero acaso.

Abraço!