05/11/2015

Messi vs. Ronaldo: O caso das grandes penalidades na UEFA Champions League

A grande penalidade é um evento muito peculiar num jogo de futebol, uma vez que a comum interação entre 22 jogadores é temporariamente reduzida a um confronto direto entre o jogador que marca o penalti e o guarda-redes adversário. No âmbito de uma investigação em curso, decidi comparar alguns dados relativos à marcação de grandes penalidades por Lionel Messi (Barcelona) e Cristiano Ronaldo (Real Madrid), exclusivamente na UEFA Champions League, desde a época 2010/2011 até à atual. Apenas foram consideradas as grandes penalidades assinaladas durante o tempo regulamentar dos jogos, ou seja, prolongamentos e desempates por grandes penalidades não foram incluídos.

A justificação para escolher estes jogadores é óbvia: nos últimos sete anos (2008-2014), o melhor jogador do mundo para a FIFA ou foi Messi (2009, 2010, 2011 e 2012) ou foi Ronaldo (2008, 2013 e 2014). Neste sentido, o objetivo deste texto não se prende com esgrimir argumentos sobre qual dos dois é melhor; antes, tem como propósito fazer uma análise comparativa entre dois jogadores que, acima de tudo, já marcaram uma era do futebol mundial. Para nós – adeptos da modalidade – é e será sempre um privilégio afirmar que vimos (in loco ou não) jogar estes 2 craques.

Comecemos por Messi (ver figura 1).

Figura 1. Resultado e eficácia das grandes penalidades concretizadas por Messi (n = 10) na UEFA Champions League (2010-2015), em função da zona de remate (Legenda: G = Golo; D = Defendido; F = Falhado). (Por favor, clique para ampliar).

O argentino marcou 7 golos em 10 grandes penalidades, portanto, com uma eficácia de 70%. A única bola que colocou na metade superior da baliza falhou o alvo. As 9 restantes foram colocadas na metade inferior da baliza, sendo duas delas defendidas pelos guarda-redes. A zona preferencial foi o canto inferior direito, embora não se tenha verificado uma propensão para rematar exclusivamente para o lado direito da baliza. Curiosamente, os remates direcionados para o lado esquerdo da baliza (i.e., canto inferior esquerdo e centro inferior esquerdo) – por alguns autores considerado o «lado não natural» para indivíduos esquerdinos (e.g., Chiappori et al., 2002; Noël et al., 2015) – obtiveram eficácia máxima (100%).

A figura 2 exibe os dados relativos ao português Cristiano Ronaldo.

Figura 2. Resultado e eficácia das grandes penalidades concretizadas por Ronaldo (n = 11) na UEFA Champions League (2010-2015), em função da zona de remate (Legenda: G = Golo; D = Defendido; F = Falhado). (Por favor, clique para ampliar).

Num total de 11 grandes penalidades, Ronaldo marcou 9 golos, sendo a eficácia de 81,8%. Comparativamente a Messi, constata-se uma maior dispersão dos remates pelas 8 zonas da baliza. A figura 2 sugere que Ronaldo, para além de ser mais eficaz do que Messi na marcação de grandes penalidades, é também mais imprevisível. Os três penaltis batidos para a metade superior da baliza deram golo. Os restantes 8 foram direcionados para a metade inferior da baliza; 2 foram defendidos pelos guarda-redes contrários e 6 resultaram em golo. A eficácia foi mais reduzida no lado esquerdo da baliza, aquele que é considerado pelos investigadores como o «lado natural» para indivíduos destros (Chiappori et al., 2002). Aliás, a tendência de Ronaldo foi mesmo para rematar para a metade esquerda da baliza adversária (9 em 11), ainda que para zonas distintas.

Para concluir, na Champions League, Ronaldo tem sido mais eficaz que Messi na marcação de grandes penalidades. Se o valor obtido por Messi está dentro das taxas de sucesso reportadas na literatura científica (70-81%), a eficácia de Ronaldo encontra-se ligeiramente acima. A maior eficácia do português pode dever-se ao facto de ser mais imprevisível na zona em que procura colocar a bola. Atualmente, os estudos recomendam que os jogadores direcionem o remate para as zonas altas da baliza, pois a probabilidade da bola ser defendida pelos guarda-redes reduz drasticamente e a taxa de sucesso é por norma mais elevada (López-Botella & Palao, 2007; Bar-Eli & Azar, 2009). O facto de maior interesse prende-se com a eficácia dos 2 craques ser menor quando rematam para o seu «lado natural», tendo em conta a respetiva lateralidade. A amostra recolhida por cada jogador é muito pequena, pelo que este breve exercício não deve ser extrapolado para outras competições.

Referências
Bar-Eli, M. & Azar, O. H. (2009). Penalty kicks in soccer: An empirical analysis of shooting strategies and goalkeepers’ preferences. Soccer & Society, 10(9), 183-191.
Chiappori, P.-A., Levitt, S., & Groseclose, T. (2002). Testing mixed-strategy equilibria when players are heterogeneous: The case of penalty kicks in soccer. The American Economic Review, 92(4), 1138-1151.
López-Botella, M., & Palao, J. M. (2007). Relationship between laterality of foot strike and shot zone on penalty efficacy in specialist penalty takers. International Journal of Performance Analysis in Sport, 7(3), 26-36.
Noël, B., van der Kamp, J., & Memmert, D. (2015). Implicit goalkeeper influences on goal side selection in representative penalty kicking tasks. PLOS ONE, 10(8), e0135423. doi:10.1371/journal.pone.0135423.

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